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People you know

- Alice Escobar -

- Eu me importo com o Pablo. - Falei para ela. - Da maneira como sempre me importei com as poucas pessoas que me mostraram gentileza na vida, mas todo o resto simplesmente... desapareceu.

- E o que fez todo esse "resto" sumir, Alice?

Eu estava lá, outra vez, cotando toda a minha vida a uma mulher que dizia não revelar nossas conversas privadas, mas eu desconfiava de que ela pudesse ser comprada, assim como os homens que tiraram o Neymar do time.

Foram tantas noites desperdiçadas com ele. Eu odeio isso, queria poder voltar atrás, porque...

- Costumávamos ser próximos, mas as pessoas podem passar de pessoas que você conhece a pessoas que você não reconhece mais.

- Somos pessoas. Somos humanos. E às vezes as pessoas nos decepcionam. - Ela falou.

Ela ainda não tinha entendido.

- Por favor, me faça entender essa situação.

E ela sabia o que eu estava pensando.

Lá vamos nós de novo.

Eu não queria ter que contar aquela história, era humilhante e sem sentido. Não, fazia sentido contar tudo, o que não fazia sentido era o meu papel em toda aquela história. Eu agi como uma tola sentimental. Eu ainda estava agindo como uma tola sentimental.

- A diferença era de que eu não sabia aonde estava me metendo, enquanto ele havia lido cada palavra daquele contrato maldito. - Finalizei a contação de histórias.

- Ainda ama o Pablo?

Eu não soube responder de imediato. Precisei de alguns minutos para encontrar a resposta adequada.

- Amo.

- Ainda está apaixonada pelo Pablo?

Eu me importo com o Pablo da maneira como sempre me importei com as poucas pessoas que me mostraram gentileza na vida, mas todo o resto simplesmente... desapareceu.

- Não. - Falei ao me lembrar do que havia falado pouco antes. Eu não tinha mentido nenhuma das duas vezes.

- Ele foi um amor verdadeiro, Alice?

- Não, o Leo foi o meu amor verdadeiro.

Era bizarro pensar que ela, uma mulher que não convivia comigo, sabia cada detalhe sobre a minha vida. Era esquisito lembrar que eu havia contado cada detalhe sobre a minha vida para ela por livre e espontânea vontade. Era tão estranho que apenas uma pessoa sabia que ela frequentava aquele consultório.

- Não acho que um amor verdadeiro precise ser único. - Ela disse, me tirando de meus devaneios. - Acho que um amor verdadeiro significa amar de coração. Amor puro e simples. Amor por inteiro.

- Mas o verdadeiro amor só é real se for retribuído. - Repeti as palavras de Pablo Gavira. - Eu não era um amor verdadeiro de Gavi.

Sara respirou fundo, me encarou, soltou um suspiro e finalmente mudou o rumo da conversa.

- Que tal nós voltarmos para você, Alice?

Eu estava brincando com os fios que estavam se soltando do sofá, tentando distrair a minha mente e tentando não pensar em nada que fosse prejudicial para a minha mente.

Quando ela chamou meu nome, parei os movimentos com as minhas mãos. Encarei minhas unhas quebradas e sem padrões de tamanho. Só depois levantei minha cabeça para encará-la.

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