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Panic attack

- Alice Escobar -

Então isso…

Isso é o que chamam de agonia.

É a isso que se referem quando falam em coração partido. Pensei que soubesse o significado da expressão antes. Pensava saber, com perfeita clareza, como é ter o coração partido, mas agora… Agora finalmente entendi.

Antes? Quando descobri as verdadeiras intenções de Pablo?Aquela dor? Aquilo era brincadeira de criança.

Mas isso.

Isso é sofrimento. É uma tortura completa, absoluta. E não podia culpar ninguém senão a mim mesma por essa dor, o que me impossibilitava de canalizar minha raiva para outro lugar que não para dentro de mim mesma. Se não soubesse de nada, pensaria estar sofrendo um ataque cardíaco de verdade. A sensação era a de que um caminhão passou por cima de mim, quebrando cada osso em meu peito, e agora estava parado em cima do meu corpo, com seu peso amassando meus pulmões. Não conseguia respirar. Não conseguia sequer enxergar direito.

Meu coração latejava nos ouvidos. O sangue avançava rápido demais pela cabeça, deixando-me com calor, atordoada. Estava estrangulada em mudez, entorpecida em meus ossos. Não sentia nada além de uma pressão imensa e absurda me estilhaçando. Soltei o corpo para trás, com força. A cabeça bateu na parede. Tentei me acalmar, acalmar minha respiração. Tentei ser racional.

Não é um ataque cardíaco, disse a mim mesma. Não é um ataque cardíaco.

Sei que não é.

Estou tendo um ataque de pânico.

Já aconteceu comigo outra vez e a dor se materializou como se saísse de um pesadelo, como se saísse do nada, sem qualquer aviso. Acordei no meio da noite tomada por um terror violento que não conseguia expressar, convencida, sem qualquer sombra de dúvida, de que estava morrendo. O episódio enfim passou, mas a experiência seguiu me assombrando.

E agora isso…

Pensei que estivesse pronta. Pensei estar preparada para o possível resultado da conversa de hoje. Mas estava errada. Sinto que me devora.

Essa dor.

Ao longo da vida, sofri de ansiedades ocasionais, mas geralmente conseguia administrar o problema. No passado, minhas experiências sempre foram associadas a esse trabalho. A meu pai. Mas conforme fui ficando mais velha também fui me tornando menos impotente, e encontrei maneiras de administrar os desencadeadores da ansiedade; encontrei locais seguros em minha mente; informei-me sobre terapia cognitivo-comportamental; e, com o tempo, aprendi a superar. A ansiedade passou a surgir com menor intensidade e frequência. Muito raramente, porém, ela se transformava em outra coisa. Alguma coisa que foge completamente do meu controle.

E dessa vez não sabia o que fazer para salvar a mim mesma.

Não sabia se era forte o bastante para combatê-la, não naquela hora que nem sabia mais pelo que estava lutando. E havia acabado de cair de costas no chão, minha mão pressionada contra a dor no peito, quando, de repente, a porta se abriu.

Senti o coração pegar no tranco.

Ergui a cabeça um centímetro e esperei. A esperança nas alturas.

- Ei, cara, que merda, onde você está?

Bufei ao soltar a cabeça. Tinha que ser justamente ele…

Como ele entrou aqui?

- Olá? - Passos. - Sei que está aí. E por que esse quarto está esta zona? Por que tem caixas e lençóis espalhados para todo lado?

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