CAP 30: Chuchu

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Meu celular desperta em cima da mesa de cabeceira e não é necessário eu ter que me levantar, por que passei a noite toda acordada.

Posso até ir virada para a escola hoje, porém todas minhas tarefas da escola estão feitas, estudei para provas que terei daqui duas semanas, terminei de ler um livro, e agora estava montando um quebra-cabeça de cinco mil peças enquanto pensava no final do livro, ainda não acredito que a autora teve a audácia de matar o protagonista.

Acho incrível minha capacidade de realizar várias tarefas para simplesmente não pensar, era isso ou chorar deitada, mas chorar deitada é horrível porque as lágrimas caem no ouvido e o nariz entope mais rápido, e eu ainda acordaria no dia seguinte com o rosto inchado e passando a noite inteira acordada a única coisa que terei serão olheiras.

Larguei o quebra-cabeça de lado e fui me arrumar, vestindo uma legging preta, a blusa de uniforme, um moletom lilás sem estampa e o que dava um toque final no meu look: Meus chinelos brancos e meia.

Não precisei arrumar meu cabelo pois eu havia lavado meu cabelo no dia anterior e a finalização dele estava durando, mas eu coloquei a touca do moletom e meus óculos. Hoje eu me superei, acho que nunca fui tão feia para escola.

A fase jovem idosa chega para todas.

Fui ao banheiro e entendi minha fase depressiva ontem, era apenas TPM.

Eu falei sobre quase toda minha vida para o Aaron por causa da porcaria da TPM? É muita humilhação para uma pessoa só.

Se arrependimento matasse eu teria morrido no momento em que eu soube que havia nascido no Brasil.

Fui para a cozinha com vontade de me desviver ou arrancar meu útero e meus ovários. Abri a geladeira e peguei um energético ao invés de tomar café, pois preciso de energia para aguentar o dia sem tirar um cochilo.

— Energético essas horas? — Meu irmão pergunta.

— Sim, quem sabe me dê uma taquicardia e eu morra.

— Anna, minha filha, isso não é coisa que se diz quando se possui um marca-passo — Minha mãe diz entrando na cozinha com seu pijama da Barbie.

— Foi mal.

— Você vai desse jeito pra escola? — Minha mãe pergunta.

— Algum problema?

— Nenhum, mas cuidado pra não confundirem você com uma mendiga. Esse seu moletom já está pedindo arrego, minha filha.

— Daqui alguns dias ele vai sair andando sozinho — Meu irmão diz.

— O que vocês tem contra meu moletom? Vocês sabem que ele é o único que eu tenho nessa cor. Sou apegada nele desde os meus quatorze.

— Exatamente, e você já tem dezessete,ou seja, ele já está na luta há quatro anos.

— Você podia levar a gente na escola hoje, né? — Perguntei a minha mãe,mudando de assunto, já estava chovendo e eu não posso chegar dirigindo na escola porque não tenho carteira ainda.

— Não.

— Mas mãe, eu estou meia e chinelo, e tanto o chinelo quanto a meia estão branquinhos.

— Não estão não — Meu irmão fala olhando para os meus pés.

— Cala a boca, Gabriel!

— Você tem vários tênis, não usa porque não quer.

— Vai sujar eles, mãe. E estão todos limpos.

— Certeza?

— Sim.

— E o que  aquele vans que você usou há duas semanas atrás faz ali embaixo da escada?

Tá, agora eu perdi o argumento.

— Caralho, Anna, aquele tênis tá ali há duas semanas já e você não lavou nem guardou?

— Eu esqueci, tá legal?

— Esse esquecimento se chama preguiça — Minha mãe argumenta — E se não quiser ir a pé para a escola peça ao seu pai para te levar, hoje ele está de folga.

— Já eu peço, e mãe? Quando a gente vai na fazenda?

— Não sei, seu pai foi esses dias.

— E por que ele não me levou?

— A gente não sabia que você queria ir.

— Nunca vi uma pessoa gostar tanto de mato igual você — Meu irmão diz.

Eu realmente amo muito a fazenda, quando era pequena passava quase todas minhas férias lá com meus avós. Inclusive acabei ganhando algumas cabeças de gado nelore do meu avô de presente.

Subi sem responder meu irmão e fui acordar meu pai.

— Bora acordar que puta não dorme, puta cochila! — Praticamente gritei enquanto puxava os cobertores dele e ligava as luzes do quarto.

Só não abri a janela porque estava chovendo e molharia o tapete.

— Só cinco minutos e eu levanto.

— Não, porque hoje você vai me levar para escola. Ordens da dona Elena.

— Onde eu estava com a cabeça quando deixei uma mulher mandar em mim — Ele diz saindo da cama.

Enquanto ele tomava banho eu me joguei na cama dele e fiquei encarando meu reflexo no espelho que havia no teto enquanto esperava.

Tenho certeza que meus pais tentaram imitar a ideia de um motel no quarto deles, pois tem luzes que trocam de cor conforme o som, vários espelhos, só faltou o pole dance.

Meu pai saiu do seu closet vestindo seu moletom, e reparei em suas tatuagens, ele tinha o braço esquerdo quase fechado de tatuagens, e nas costas uma tatuagem enorme de um dragão que era linda.

— Eu também quero ter tatuagens — Eu falo baixo.

— O que?

— Eu quero fazer tatuagens. Você me levaria?

— Assim do nada?

— Sim, e eu acho que quero um piercing no mamilo igual à minha mãe.

— Tá, eu te levo. É só você me dizer quando.

— Sério?

— Sim. Mas vê com sua mãe a relação do piercing primeiro.

— Tá Bom.

Talvez o Aaron tenha razão, eu realmente sou muito mimada.

Eu e meu irmão entramos no carro e meu pai já estava ligando o som, e saindo em alta velocidade, ele e eu sempre achamos que estamos em velozes e furiosos.

Minha mãe saiu com o carro dela para ir trabalhar e meu pai fez questão de parar o carro pra falar com ela.

— Tchau amor da minha vida, dirija com cuidado. Tenha um bom dia! — Ele gritou para ela.

— Também te amo muito, chuchu! Gabriel e Anna, prestem atenção na aula porque conhecimento é a única coisa que ninguém te tira, você mesmo esquece, amo vocês! — Ela grita de volta.

CONTINUA...
Vocês estão realmente gostando da história? Pq na minha cabeça a história tem mt potencial, porém n consigo escrever como imagino.

Meu vizinho é meu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora