Complexo de Israel - Segundo ato. Degustação

Capítulo 74

A pediatra mandou fazer exames de sangue, urina e alguns rx, ela passou também uma injeção de dipirona algo que me fez chorar mais que ele. Vê meu pequeno chorando daquele jeito me matava, era desesperador.

Estou na enfermaria com meu pequeno em meus braços esperando o resultando quando vejo Caíque passar, ele olha pra dentro da enfermaria e passa direto, mas logo volta com a sobrancelha franzida.

— O que aconteceu? Ele me encara e olha logo depois para Leon.

— Meu filho está com febre alta... Tô esperando o resultado dos exames.

— Tá com quem aqui? Ele olha ao redor da sala.

— Sozinha!  Ele fica pensativo.

— Veio pra cá uma hora dessa e sozinha? Questiona.

— Um amigo me trouxe.

— Hum... E o pai dele, por que não veio com você?
Ele estava entrando em um assunto complicado.

— Não consegui falar com ele!
Me limito a dizer só isso e acho que ele entendeu que eu não queria falar sobre o pai de Leon, então resolveu não perguntar mais sobre ele.

— E o por que desses olhos inchados e esse nariz vermelho?
Ele está em pé e eu acabo me levantando e colocando Leon na maca.

— Leon nunca ficou doente, vê-lo sendo furado várias vezes não foi fácil. As lágrimas escorrem pelos meus olhos novamente.

Ele se aproxima e me abraça, fazendo com que meu rosto fique encostado em seu peito e mais uma vez seu cheiro bom invade minhas narinas.

Hoje consigo observar Caíque melhor já que ele veste uma calça preta cargo cheia de bolsos, uma blusa preta também, com os braços totalmente a mostra consigo observar não só o quanto ele é realmente forte, quanto as suas tatuagens... Nossa! São muitas, elas pegam todo os seus braços.

— Não fica assim não, ele vai ficar bem! Ele carícia minha cabeça e esse gesto de carinho me deixa mais sensível, era para o Lyon está fazendo isso, me acalmando!

— E você, o que faz aqui uma hora dessa? Questiono.

— Um amigo meu tomou um tiro e trouxeram ele pra cá...

— Meu Deus! Digo assustada.

— Não se preocupe, foi só um susto. Ele está bem.

— Foi um assalto?

— Não, ele estava em serviço e aconteceu isso, ele é policial.

— Ah, entendi!

Ele fica ali comigo até a dra chegar com os resultado dos exames e graças a Deus não era nada, tudo ok com os resultados. Ela disse que pode ser algo emocional e que era pra eu ficar observando, se caso qualquer outro sintoma aparecesse, era pra eu voltar.

Eu agora sei o que causou isso no meu pequeno e aquele filho da puta vai se vê comigo!

Caíque queria me levar em casa, mas claro que eu não deixei, não quero que ele saiba que moro na favela, nada contra o complexo, pelo contrário, eu amo aquele lugar. Mas ainda existe muitos preconceitos em relação a quem mora em uma comunidade, então não achei necessário ele saber disso.

Volto pra casa com FM que pela cara já sei que contou para o Lyon sobre aonde estávamos, até por que ele me ligou centenas de vezes e eu não atendi nenhuma. Certa hora Caíque até questionou o telefone tocar várias vezes e eu não atender, mas eu disse a verdade, disse que era o pai de Leon e que eu estava muito brava para falar com ele naquele momento.

Assim que chego em casa já sei que Lyon está lá, por que a moto dele está estacionada em frente ao meu prédio.

Entro em casa e já o vejo se levantar rápido do meu sofá, sua cara é de poucos amigo e quando vai levantar a voz comigo eu já o corto.

— POR QUE NÃO ATENDENDEU...

— Baixa a voz por que seu filho está dormindo e já passou por muitos traumas hoje! Digo dando as costas a ele e levando Leon para o meu quarto.

Depois volto pra sala preparada para uma guerra...

— Você é um filho da puta! Digo já partindo pra cima dele o estapeando. — Eu vou me embora desse morro e quero você longe de mim e do meu filho!

Ele não faz nada, deixa eu bater em seu peito até eu cansar e só me restar o choro.

— Me desculpa... Eu... Eu não podia atender...

— Três dias Lyon... Três dias você ocupado demais para vim ver o seu filho! Sabe o que ele tem? NADA!!! A médica disse que é emocional, seu filho estava sentindo a sua falta e por conta das suas prioridades, que por sinal não é ele, seu filho precisou ser furado várias vezes, você sabe o quanto ele chorou? Quantas vezes em meio aos seus soluços ele dizia “papa, papa”?  Não! Você não sabe, não sabe porque não estava com ele! Não sabe por que é egoísta demais para se importar com alguém, mesmo esse alguém sendo seu filho!

Desabafo tentando falar o mais baixo possível para não acordar Leon, Lyon está em silêncio e com lágrimas nos olhos. Foram pouquíssimas vezes que vi Lyon chorar e vê os olhos dele daquele jeito quase que me comoveu, eu disse quase! Me afasto dele.

— Eu estava em uma missão...

— Não quero saber! Você teve três dias para me falar, mas não disse! Agora eu não quero saber, não me interessa mais. Só vou lhe pedir uma coisa... Se afasta do meu filho!

— Tá maluca? Tú fumou, foi? Ele é meu filho também, esqueceu?

— Quem parece que esqueceu foi você! Seu filho? Que tipo de pai fica três dias sem vir ver o filho? Sendo que vinha vê-lo todos os dias... Se for pra você fazer meu filho passar pelo que ele passou hoje, se afaste dele Lyon! Por que eu juro pra você, se meu filho passar por isso de novo eu sumo da sua vida com ele! Eu não queria, eu me arrependo muito de ter feito meu pequeno perder um ano da sua vida longe do pai, mas se isso acontecer mais uma vez, eu vou me embora!

— Não vai acontecer de novo! E eu não sumi atoa, estava resolvendo um assunto sério! Desculpa por não estar com vocês nesse momento? Ele se aproxima de mim, mas eu me afasto.

— Vai tomar um banho que você está sujo e vai ficar com seu filho! Depois de você eu tomo o meu, por que preciso descansar.

Depois de ficar algum tempo me encarando, Lyon vai tomar seu banho. Ele tinha roupa aqui já que ele morou aqui também, eu me sentei no sofá e vi que tinha uma mensagem de Caíque.

“Quando puder, me avisa que chegou bem em casa e como seu pequeno está. Qualquer coisa que precisar me liga!”

Resolvo responder mesmo sabendo que provavelmente ele não me responderia já que são 5 horas da manhã e ele deve está dormindo.

“Cheguei bem em casa sim, Leon está dormindo... Ele é forte, vai ficar bem! Obrigado por se preocupar.”

Largo o celular e vou para o meu banho assim que vejo Lyon saindo do dele.

Quando saio do banheiro vejo Lyon deitado em minha cama com Leon, ele está com meu pequeno em seu peito, acariciando sua cabecinha e de olhos fechado, resolvo não ficar ali, não quero estar ao lado dele, então vou para a sala e me deito no sofá, meu celular tem outra mensagem de Caíque.

“ Vai sim🙌! Fica bem e descansa, mais tarde nos falamos. 😘”

Só visualizo a mensagem e não respondo nada, eu estava morta de cansada então apago ali no sofá mesmo.

...

Acordo com gritinhos de felicidade de Leon, ele estava no colo de Lyon, batendo palminhas e mamando. Eu podia vê a alegria em seu olhar e meu coração estava transbordando de alegria em vê meu pequeno tão feliz, mesmo sendo por está vendo o traste do pai dele.

Me sento no sofá e quando me preparo para levantar e ir para o banheiro, Lyon diz:

— Quem é Caíque?