26.

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Pov Maraisa

- Léo, ela disse que você pode dormir aqui hoje - Explico para o pequeno - Marília não vai ficar triste.

- Mas ela não pode ficar sozinha, mamãe.

- Por que não?

- Porque ela chora.

Tão pequeno e tão cuidadoso, estou criando um homem de verdade. Ele se aproxima de mim e senta na minha frente, virando a cabeça para falar comigo.

- Se a mamãe dormir com a mamãe Lila - Ele fala sugestivo - Ninguém fica triste.

- Simples assim?

- É...

Começo a rir da graça do pequeno e faço cócegas na sua barriga, arrancando altas risadas da sua boca. Léo é carinhoso comigo, mas com Marília, ele trata ela com uma delicadeza, com um amor, como se ele soubesse o quão sensível a sua mãe é, mesmo que não conviva com ela a muito tempo. Marília se afastou de mim, simplesmente não fala mais, Luísa disse que ela não está indo mais trabalhar, disse que não saí da casa, não faz nada, sei que ela está se culpando.

Eu não consigo culpar ela pelo o que aconteceu, não consigo brigar e apontar como culpada, até porque ela não é. Além de passar tanta coisa em dois anos, ela ainda estava tentando. Marília viveu um relacionamento completamente abusivo, tóxico e engravidou dessa pessoa, se apegou na esperança que seu filho iria salvá-la disso, até que ela perde o filho, perde as esperanças e eu e o Léo aparecemos, trazendo novamente a tão famosa esperança, até que tudo se desmorona, descobrindo da pior forma que a criança que foi separada dela assim quando nasceu, era realmente o seu filho e a versão que foi contada eu era o monstro e ela acreditou, porque preferiu acreditar na pessoa que estava com ela. Na teoria é fácil acreditar na pessoa que você acabou de conhecer, mas na prática não.

Me doeu muito tudo que ela fez, mas me dói muito mais ficar longe dela, principalmente sabendo que ela está se culpando por tudo de ruim que aconteceu, mesmo não sendo a sua culpa a grande parte.

Enquanto viajo nós meus pensamentos, Léo já montou a sua mochilinha e colocou suas coisas dentro para ir ver Marília e passar a noite com ela.

- Vamos, mamãe? - Ele pergunta estendendo a mão para mim.

- Vamos, amor....

Saímos de casa, já é perto das nova horas, Léo passou os últimos dois dias comigo, simplesmente porque Marília "adoeceu" e ninguém mais conseguiu falar com ela, o que eu acho que é mentira essa história dela estar doente, acho que era só uma desculpa para não sair de casa e ficar sozinha. Quando chegamos, eu ligo para Marília, para avisar que chegamos, mas nada, toco a campainha e ela não responde. Léo corre na minha frente e vai para o vaso de flores, que fica do lado da porta, cavando a terra com as maozinhas e me entregando a chave.

- Como você sabe disso? - Pergunto rindo.

- A tia Lu disse - Ele dá de ombros - Caso a mamãe não respondesse.

- Certo...

Abro a porta e ele saí correndo para o andar de cima, ver a sua mãe, animado para contar o seu dia para ela. Subo para ver se Marília está bem, mas quando estou me aproximando do quarto, Léo volta triste e cabisbaixo.

- O que foi, Léo?

- Ela tá dormindo... de novo.

- Amor... não fica assim.

- O Léo vai dormir - Ele fala magoado e fecha a sua porta.

Vou até o quarto e entro nele, vendo Marília dormindo na cama, com o rosto quase coberto. Olho ao redor e está tudo uma bagunça, o quarto está quente, o cheiro de cigarro está presente, umas garrafas de vinho jogadas pelo tapete. Ela não estava doente, ela estava sendo engolida por isso aqui. Me aproximo dela e tiro a coberta do seu rosto, vendo Marília dormindo, plenamente, mas com um semblante serio, igual Léo quando dorme.

- Lila... eu vim trazer o Léo - Falo passando a mão no seu rosto.

Ela resmunga e vira as costas para mim, cobrindo seu corpo novamente. Não vou e nem posso deixar ela assim. Me levanto da cama e limpo um pouco, jogando as garrafas fora, colocando as roupas sujas para lavar, abrindo as janelas, ventilando um pouco o quarto. Quando estou limpando a sua gaveta, vejo as inúmeras quantidades de remédio para dormir, mas só as embalagens, porque estão vazios.

- Para de mexer nas minhas coisas - Marília resmunga sentando na cama.

- Por que você está tomando esses remédios?

- Para de mexer nisso - Ela se levanta para pegar da minha mão.

- Por que você está tomando, Lila? - Pergunto preocupada - Misturar isso, cigarro e bebida, só vai te matar.

Marília respira fundo e tenta tirar a embalagem da minha mão, mas eu me afasto dela. Não estou reconhecendo a loira, além de deixar o hospital, ela está fria e distante com todo, até com o Léo.

- Lila... isso pode te causar uma overdose.

- Eu estou bem - Ela tira da minha mão - Não precisa se preocupar.

- Lila... o que acontecendo? - Pergunto segurando seu braço e faço ela me olhar - Eu me importo com você, você é a mãe do meu filho.

- Não deveria se importar.

- Para de fazer isso, Marília - Brigo com ela - Para de se tratar como a pessoa mais errada da história.

- Até porque eu fui.

- Não foi.

Ela revira os olhos e eu começo a me irritar com isso.

- Por que você está fazendo isso, Marília?

- Me afastar de você? - Ela pergunta rindo - Porque eu não posso ficar com você, não depois de tudo, você tem o direito de ser feliz.

- E se a minha felicidade for você?

- Mas não é, não tem como ser, eu te machuquei, Maraisa.

Nego com a cabeça e me aproximo dela, segurando seu rosto, deixando nossos lábios a centímetros de distância. Sei que ela quer me beijar, porque seus olhos vão para a minha boca e suas mãos para a minha cintura, mas ela ainda diz que não. Junto nossos lábios e começo um beijo lento, sentindo as suas mãos apertarem a minha cintura, descendo para dentro da minha saia. Mordo seus lábios e passo minha língua para dentro da sua boca, sentindo ela chupar a minha língua.

- Mamãe? - Léo pergunta abrindo a porta do seu quarto.

Marília se assusta com isso e me afasta, olhando para a porta. Léo quando entra no quarto, olha para nós duas por longos minutos, até ir para a sua mãe.

- Vocês voltaram? - Ele pergunta para Marília.

- Não, Léo... - Marília responde e me olha - Sua mamãe ela... ela já está indo.

Concordo com a cabeça e beijo meu filho e depois me despeço de Marília, da forma mais seca possível. No carro eu penso que talvez ela só queria seguir em frente e eu não posso me prender nela, até porque ela não me pertence e sequer estamos juntas mais, ela não quer mais tentar e eu desisto de tentar pelas duas, preciso seguir em frente.

- Gustavo? Oi - Falo pela chamada - Eu queria... saber se você quer ir em um encontro comigo amanhã.

- Oi, Mara... - Ele fala animado - Claro que eu posso.

- Até amanhã então...

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora