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Pov Marília

- Você está na altura certa para a sua idade - Explico para o pequeno - Você é criança ainda, vai crescer mais.

- Mas me chamam de baixinho, tia - Ele fala magoado - E se eu não crescer?

- Você vai, eu prometo.

- Promete?

- Prometo - Falo cruzando nossos dedos - E se não crescer, a gente vai ter que tomar mais vitaminas, comer mais verduras, para ajudar.

- Não gosto de verdura.

- Eu também não gostava - Dou de ombros - Mas a minha mãe fazia de uma maneira mais gostosa, pede para a sua mamãe fazer.

- Tudo bem, tia.

Tiro ele de cima da maca e coloco no chão, arrumando a roupa do seu corpo e vejo ele correndo até a sua mãe. Os dois saiem da minha sala e eu apoio minha cabeça nas minhas mãos, para ver se alivia um pouco da dor de cabeça. Estou o dia inteiro nesse plantão, vai dar onze horas da noite e eu ainda estou aqui, querendo ir para a minha casa, ficar com a minha esposa, com meu filho, mas ainda falta pacientes para serem atendidos. O que me alivia, é que quando eu estou aqui, Maiara e Luísa cuidam dela em casa, junto com o Léo, por isso não me preocupo tanto às vezes. Se ela está bem, eu automaticamente fico bem também.

- A última paciente do dia - Larissa fala abrindo a porta - A rainha desse hospital, depois de mim.

Levanto meu olhar e ela está com Luna nós braços, a pequena quando me vê sorri sem os dentes e estende a mão para ir para os meus braços.

- Oi, meu amor - Falo pegando ela no colo - Como você aguenta a Larissa o dia inteiro?

- Ela me ama.

- É... ela não tem muita opção.

Coloco a pequena na maca e beijo a sua cabeça, tirando seu vestido para examiná-la. Luna é uma bebê esperta, agitada, curiosa, gosta de conversar mesmo que não fale nenhuma palavra ainda, mas não deixa de ser falante.

- Cadê a sua chupeta, Luna? - Pergunto segurando seu rosto - A tia Larissa roubou?

Pergunto e ela parece não entender nada, só concorda com a cabeça, fazendo eu rir disso. Continuo fazendo os exames de rotina, até que meu celular começa a tocar em cima da minha mesa e a foto da minha noiva aparece na tela, Luna começa a apontar o dedinho para o meu celular.

- Você conhece a minha noiva? - Pergunto rindo - Por isso essa agitação?

- Ela ficou com a Mara.

- Você quer falar com ela? - Pergunto pegando o celular na mão - Pode falar.

Entrego o celular na sua mãozinha e atendo a chamada, fazendo ela colocar no seu ouvido e falar nada com nada. Consigo ouvir a risada da minha noiva daqui, fazendo eu sorrir com isso. Quando elas terminam de conversar, eu pego meu celular para falar com ela.

- Oi, amor.

- Oi, Lila... você vai demorar?

- Não, eu só vou terminar de atender a Luna - Explico colocando a roupa de volta na pequena - E já estou indo.

- Tá bom... eu só durmo com você aqui.

- Eu sei, Mara, eu já estou indo, tá bom?

- Tá...

Desligo a chamada e Luna parece ficar magoada por não conseguir falar mais com a minha noiva. Seus olhinhos cheios de lágrimas, como se eu tivesse a separado de uma pessoa que ela gosta muito, ou até achou que minha noiva iria vir ficar com ela. Um bebê tão inocente, passando noites e noites, em uma sala vazia de um hospital, porque ainda temos esperança que os pais vão voltar e não queremos que levem ela para qualquer orfanato, porque sabemos bem o tratamento que as crianças têm lá. O que mais me dói, que os pais dela simplesmente deixaram ela aqui, sem mais nem menos, não deixaram uma carta, uma foto, nada, porque para eles isso que ela significa, nada. Enquanto para uns um bebê, um filho, não é nada, para nós foi a maior perda do nosso relacionamento, uma perda tão grande, que estamos passando por um difícil e cansativo processo de luto, por mais que agora esteja mais leve devido a ajuda da psicóloga.

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora