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Pov Maraisa

- Não, filho...

- Eu fui ajudar o Léo, mamãe - Noah fala segurando meu rosto - Eu fui ajudar ele.

- Mas você se sujou inteiro - Nego com a cabeça - Essa era a sua roupinha limpa.

- Eu só fui ajudar...

Passo minhas mãos pelo seu rosto e ajudo ele a tirar a camiseta suja pelo leite que derramou na sua camiseta. Léo quando vê o que eles aprontaram corre na minha direção para se desculpar pela sujeira.

- Desculpa, mamãe... - Ele fala me olhando - Foi sem querer, eu só queria a minha mamadeira.

- Não tem problema, tá bom? - Dou de ombros - Vamos lá em cima trocar de roupa.

Os dois saem correndo na minha frente, mas quando vou ir com eles, Marília me puxa para trás e cola nossos corpos, me abraçando por trás. Sinto seus beijos molhados na minha nuca e sorrio com isso.

- Lila... o Noah não sabe se trocar sozinho.

- Só me dá um beijo então...

Me viro nós seus braços e seguro seu rosto, selando nossos lábios em um selinho longo, ouvindo seu suspiro com isso, enquanto suas mãos apertam a minha cintura.

- Eles são bagunçeiros igual a você - Falo na sua boca - Culpa da sua genética.

- Quem mandou ter dois meninos?

- Eu não tive muita escolha, sabia?

- Ah então você mudaria se tivesse escolha?

- Você sabe que não - Nego com a cabeça e deixo outro selinho na sua boca - Eu amo a nossa pequena família perfeita.

- Eu amo a nossa pequena família perfeita.

Me aproximo para beijar ela de novo, recebendo seu sorriso de lado, enquanto ela beija meus lábios. Quando vou intensificar mais o beijo, sinto um cheiro de queimado e olho para trás da minha esposa, vendo a nossa casa, com os nossos filhos em chamas. Tento sair de perto dela para pegar meus pequenos, mas Marília desaparece nas minhas mãos, como poeira se dissolvendo no ar, tudo começa a ficar preto e eu me sinto presa em uma caixa, sem chances de sair.

- Não, ela vai conseguir - Escuto a voz da minha noiva - Ela está tentando, aumenta a voltagem e tenta mais uma vez.

- Lila... cadê você?

- Por nós duas, por favor - Ela fala chorando - Eu não consigo sem você.

Tudo começa a apagar e e tento correr, mas estou presa em uma cama, sem conseguir me mexer. Quando abro meus olhos, vejo que tudo não passava de um sonho e eu estou em um hospital. Vou entendendo as informações aos poucos, olho ao meu redor e vejo a máquina de batimentos cardíacos, a máscara de oxigênio no meu rosto, até que eu começo a me lembrar do que me trouxe aqui.

Vejo uma enfermeira trocando meus curativos e eu mexo a mão, tentando chamar a sua atenção.

- Oi, você acordou - Larissa fala me olhando.

- Água...

Ela tira o aparelho de oxigênio do meu rosto e eu sinto como se fosse a sensação algodões na minha garganta, até que a água traz um alívio imediato, era só sede.

- Vou chamar a Lila - Ela fala me olhando - Ela vai ficar feliz de ver que você acordou.

Larissa saí da sala e me deixa sozinha, no quarto vazio. Passo minhas mãos pela minha barriga e eu sinto um aperto no peito, não tem mais aquela bolinha como antes, pelo contrário, está totalmente lisa.

- Oi, meu amor - Marília entra correndo no quarto e segura meu rosto, selando nossos lábios - Eu estava tão preocupad-

- O nosso filho, Lila?

Ela me olha e eu vejo seus olhos enchendo de lágrimas e ela não fala nada, só abaixa a cabeça e segura as minhas mãos.

- Lila... não...

- Ele não... sobreviveu a fumaça, amor - Minha noiva explica devagar - Você quase não sobreviveu, eu fiz de tudo, eu juro.

Não consigo responder, não consigo processar, só fico olhando para ela por longos segundos, até realmente cair a ficha. Eu perdi meu filho, meu bebê esperança, eu perdi, o bebê que eu estava gerando, se foi, da pior maneira possível. Meus sonhos foram embora junto com ele. Perdi meu bebê e perdi os momentos que poderíamos viver. Perdi um pedaço meu, alguém que eu não tinha conhecido o rosto, mas já amava tanto. Eu queria viver no meu sonho, não queria ter acordado, deveria ter ficado lá, junto com meu filho.

- Mara...

- Eu não deveria ter acordado - Falo com a voz embargada - Queria ter continuado aonde eu estava.

- Não fala assim - Marília pede segurando meu rosto - Nós ainda estamos aqui por você, amor...

- Eu não deveria ter tentado - Afasto as suas mãos - Deveria ter desistido dessa ideia.

- Não, meu amor, não - Ela nega beijando meu rosto - Nós vamos passar por isso, não é sua culpa, não é.

Ela beija meu rosto, mas eu não consigo beijá-la de volta, só tento afastá-la, mas não adianta.

- Eu quero ficar sozinha agora.

- Eu não posso te deixar sozinha - Minha noiva fala chorando - Eu... eu queria ficar com você.

- Se você ainda me ama, respeita a minha vontade.

- Não.

- O quê?

- Não, eu fiquei aqui todos os dias, por três dias - Marília fala se levantando - Eu dormi com você, eu fiquei segurando a sua mão, porque quando você ama alguém, você cuida e te deixar sozinha, só irá piorar tudo, então se você quiser ser grossa e babaca comigo, pode ser, mas eu não vou sair daqui.

Ela fala de uma vez e eu vejo a sua dificuldade, devido aos olhos cheio de lágrimas, a falta de força para falar, as mãos trêmulas, ela está tentando. Marília começa a chorar e me olha, seu corpo está começando a tremer.

- Deixa eu ficar com você... por favor.

Concordo com a cabeça e ela se aproxima de mim novamente, me abraçando com força. Ela está sofrendo mais do que eu com isso, é notório. Até que caí a ficha que não foi só eu a mãe que perdeu o filho, nós duas perdemos, nós duas estamos em luto e eu não lembro de nada, mas todas as cenas estão na cabeça da minha noiva, ela deve estar se culpando.

- Me desculpa, Mara - Ela fala chorando - Eu realmente tentei.

- Nós duas tentamos - Falo beijando seu rosto - Nós duas... tentamos.

Ela deita a cabeça no meu ombro e eu abraço ela com força, fazendo ela deitar comigo. Marília começa a chorar desesperadamente, me deixando mais dessesperada ainda.

- Lila... por favor.

- Eu tentei salvar vocês dois - Ela fala me olhando - Eu tentei.

Então não era um sonho ela me chamando, ela estava tentando me trazer de volta, pedindo para mim voltar por nós duas.

- Você me trouxe a vida, Lila - Falo passando a mão no seu rosto - Eu já tinha... eu já tinha me acostumado com o meu fim.

- Eu não consigo sem você.

- Eu estou aqui...

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora