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Pov Marília

- Oi, desculpa te acordar - Falo com a pequena Luna - Mas eu preciso te levar para o hospital.

Ela me olha e resmunga, virando a bundinha para mim e voltando a dormir na minha cama. Continuo trocando ela, já que eu vou ir trabalhar e preciso levar ela de volta. Coloco uma roupinha confortável no seu corpo e pego ela no colo, arrumando minhas coisas com a mão livre.

- Você já vai, Lila? - Minha noiva pergunta na porta com a voz embargada.

- Mara...

- Não leva ela não - Ela pede se aproximando - Por favor.

Em dois dias que a pequena ficou aqui, elas duas viraram unha e carne, uma coisa só, todos os dias a pequena dormia na nossa cama, completamente agarrada com a minha noiva, Maraisa se apegou e esse era o meu medo, ela se apegar demais em uma criança que não é nossa. Não posso simplesmente deixar ela aqui e fingir que a parte jurídica não existe, não posso fazer isso.

- Você tem psicóloga hoje - Falo colocando a bolsa no meu ombro - Eu te busco quando acabar.

Ela me olha magoada e concorda com a cabeça, saindo do nosso quarto e indo para o do Léo. Essa fase está sendo um pouco mais difícil do que imaginava, consigo ver o quanto isso desestruturou a minha mulher e mesmo lutando todos os dias para trazer ela de volta, é um peso muito grande que eu estou segurando. Saio da minha casa e coloco Luna no carro, ela não acorda por nada, tem o sono pesado, só espero que quando ela acorde não entre em dessespero por Maraisa não estar com ela. Vou para o hospital e me permito relaxar um pouco, tentar esfriar a cabeça.

Esses dias tem sido cansativos, estamos a todo momento passando por algo, só queria poder respirar e não ter que me preocupar constantemente com algo, minha cabeça está cheia, meus músculos estão tensos, eu me vejo com febre emocional grande parte do tempo, porque meu corpo está pedindo para eu parar um pouco, respirar, me acalmar, mas são raro os momentos que eu posso e consigo fazer isso. Sinto que estou colocando todos meus problemas para de baixo do tapete, para cuidar dela, garantir que ela esteja bem, quando na verdade eu quero chorar em grande parte do tempo, não estou conseguindo viver meu luto, não estou conseguindo superar, porque eu não tenho tempo, algo sempre acontece e eu tenho que deixar meu bem estar para trás e cuidar da minha família.

Quando chego, pego Luna nós meus braços e entro no hospital, vendo a longa fila de pacientes que querem ser atendidos por mim, fazendo eu respirar fundo, pelo cansaço.

- Oi, chegou cedo hoje - Larissa fala se aproxima - Chegou cedo para trabalhar amanhã.

- Não enche - Falo brava - Estou com a cabeça cheia esses dias.

Luna acorda e percebe aonde está e eu sinto ela segurando minhas roupas com força e prendendo as pernas no meu corpo, com medo de eu soltar ela.

- Luna... você precisa ir com a tia Lari - Explico para a pequena.

Ela me olha assustada e se encolhe mais nós meus braços, o que dificulta quando a minha amiga vai pegar ela dos meus braços. Larissa tira ela e a pequena chora com isso, fazendo meu coração apertar ao ver ela indo para longe de mim. Só engulo o choro e vou para a minha sala, atender os pacientes.

///

- Carla Maraisa, é a nome da paciente - Falo para a secretária - Já acabou a sessão dela?

- Ainda não - A mulher sorri para mim - Ela ainda está lá dentro.

- Obrigada...

Sento em qualquer cadeira ali e fico balançando os pés, esperando o tempo passar. Eu sempre venho buscar ela na psicóloga, justamente porque sempre quando acaba, ela está muito mais sensível e às vezes precisa de um abraço, ou deixar ela chorar, por isso eu venho, para estar aqui como seu suporte.

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora