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Pov Maraisa

- E por que você acha que não deveria tentar novamente? - Minha psicóloga pergunta com seu caderno na mão.

- Eu não... não quero arriscar - Nego com a cabeça - Não quero que dê errado novamente.

- E seu medo de arriscar te impede de tentar?

- Eu já tentei uma vez - Dou de ombros - Deu errado, eu não quero... ter outra tentativa falha.

- Mas você ainda quer ter um filho seu - Ela fala paciente - Eu digo, dentro de você.

Concordo com a cabeça e a senhora mais velha, de pele escura, o óculos na ponta do nariz, parece anotar uma história no seu caderninho, planejando a pedrada que ela vai dar na minha cabeça.

- Você me disse uma vez que você e a sua noiva terminaram uma vez - Ela pontua me olhando - Não é?

- É...

- E que você tentou novamente, porque você iria tentar até dar certo, não é?

- Isso é diferente.

- Não é? - Ela me força a voltar ao que ela estava falando - Você tentou com ela, até conseguir, não é?

- É... - Concordo cabisbaixa.

- Por que não tentar mais uma vez? - Minha psicóloga pergunta me olhando - O medo de arriscar está te prendendo. Não estou pedindo para você tentar pela sua noiva, pelo seu filho, ou por qualquer pessoa, eu estou pedindo para você tentar, por você.

- Eu não consigo...

- O medo de tentar é maior que a dor de não ter?

Não respondo, só limpo as lágrimas que estão descendo dos meus olhos e fico cabisbaixa, processando tudo que ela falou. A dor do luto está passando, talvez eu nunca supere, porque não tem como superar, mas todos os dias eu imagino se tivesse dado certo, se tivéssemos conseguido ter nosso filho aqui, como iria ser.

- Você não precisa fazer isso agora - Ela continua - Você é uma mulher forte, tem sido forte pelo seu filho, pela sua noiva e está lutando por você, tem noção disso?

- Eu tento...

- E você está conseguindo, eu acredito em você - Ela sorri para mim - Isso que aconteceu, está passando e você vai superar, sei disso, mas eu quero que você supere também o seu medo de tentar.

- Eu vou... eu vou trabalhar nisso - Sorrio fraco - Obrigada.

- Você consegue, Maraisa.

Concordo com a cabeça e ela levanta, me dando um abraço apertado e finaliza a nossa sessão. Quando eu saio, é a sempre a mesma cena, Marília sentada na cadeira, igual uma criança, balançando o pé de um lado para o outro.

- Oi, amor... - Falo chamando a sua atenção.

- Oi, eu trouxe seu almoço - Ela sorri animada com a sacola nas mãos - Nosso, no caso e para as crianças.

Me aproximo dela e seguro seu rosto, selando nossos lábios. Só de ter ela aqui, deixa tudo mais fácil e mais leve, parece que o mundo pode acabar novamente, mas se ela estiver aqui, eu consigo passar por isso.

- Você está bem, amor? - Ela pergunta me olhando preocupada.

- Tô... você trouxe o almoço.

Ela revira os olhos e saímos da clínica, direto para a nossa casa. Marília está animada por algo, parece uma criança agitada, arrancando um sorriso do meu rosto.

- O que foi, Lila? - Pergunto rindo - o que aconteceu?

- Meu advogado disse que os documentos para a adoção estão certos - Ela sorri animada - E por ela ter sido deixada no meu hospital, facilita muito o processo.

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora