39.

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Pov Marília

- Mamãe, eu não comi meus chocolatinhos ainda - Léo fala com os brinquedos na mão - Espera mais um pouquinho.

- Vamos, Léo - Chamo ele novamente - A mamãe Mara está esperando nós dois.

- Só um pouquinho...

Geralmente eu espero e não tenho problema com isso, mas hoje em específico, algo me diz que eu tenho que ir para casa o mais rápido o possível porque algo está acontecendo. Não ignoro esses sentimentos, sei que eles não vem atoa. Eu já terminei de contratar o novo médico e finalizar a demissão do Gustavo, agora não temos mais nada que nós ligue, absolutamente nada.

- Léo... amanhã a mamãe te traz - Aviso o pequeno - E você fica aqui comigo.

Ele me olha magoado e concorda com a cabeça, guardando os brinquedos do hospital e vindo até mim, cabisbaixa por termos que ir embora mais cedo. Pego ele no colo e coloco meu pequeno no carro, indo para a minha casa. E no caminho, Léo deixa aquela agitação toda para trás e dorme, antes mesmo de chegarmos em casa. Quando estamos chegamos, escuto o barulho de uma ambulância, vizinhos gritando e uma fumaça no ar que eu não entendo de onde está saindo, assim que eu entro na rua da minha casa, meu mundo vai para o chão em segundos.

Minha casa, complemente envolvida no fogo, sem chances de ser salva. Começo a entrar em dessespero, ao lembrar que a minha mulher esta lá dentro. Estaciono o carro na frente da minha casa e desço correndo, quase sem forças nas pernas.

- Marília, Maraisa está lá dentro - Minha vizinha avisa - Chamamos os bombeiros assim que o fogo começou.

- O Léo... olha o Léo - Sussuro apontando para o carro.

Saio correndo até os bombeiros e paro na frente deles, tentando falar, mesmo que a voz quase não saia.

- Minha mulher está lá dentro - Falo dessesperada - Vocês precisam entrar lá agora.

- Precisamos apagar um pouco o fogo senhora - Ele explica mostrando o caminho - E já vamos entrar.

- Ela está grávida, por favor - Começo a sentir a minha voz embargada - A minha mulher e meu filho estão lá dentro.

- Nós vamos entrar - Ele segura meu ombro - Acabamos de chegar, nós já vamos entrar.

Olho para a minha casa e meus olhos enchem de lágrimas. O dessespero toma conta do meu peito e eu não penso, não raciocínio. Olho para trás e Léo está dormindo no colo da minha vizinha, sem perceber o caos que está ao meu redor, os bombeiros ainda estão preparando os equipamentos.

Não vai dar tempo...

Eu tiro a minha blusa de frio e uso como uma capa e entro correndo na casa, que está se desmanchando em meio ao fogo. É pura fumaça, não consigo enxergar, não consigo respirar, mas eu continuo procurando a minha mulher, pouco me importantando se estou me queimando ou não. Procuro pelo andar de baixo e não acho nada. Quando vou subir as escadas, a coluna de madeira cai no meio do caminho, fazendo subir uma poeira e eu paro, tossindo, sem conseguir respirar. Me abaixo um pouco, já que o ar de baixo é mais limpo e retomo a minha respiração antes de ir.

Subo para o andar de cima e não parece ser mais uma casa, tudo está destruído, a nossa casa, a nossa história. O quarto do Léo, que eu construi com tanto carinho, está em chamas, tudo está em chamas, tudo está destruído, absolutamente tudo.

Seguro o choro e continuo procurando a minha mulher e quando estou perto do meu quarto, eu vejo Maraisa desmaiada no chão, com as mãos envolvendo a sua barriga.

- Maraisa...

Me abaixo na sua direção e vejo seus batimentos e não tem batimento algum. O ambiente está quente, mas ela está fria e o sangue cobre as suas pernas, ela está mais branca que o normal, mas o seu rosto está cheio de marcas pretas, devido a fumaça e a poeira espalhada pelo ambiente. Começo chorar e beijo a sua testa rapidamente.

Se ela soubesse (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora