Subo o morro capengando com as meninas, as três mortas de acabadas, com os sapatos nas mãos, o cabelo preso em um coque, aí meu Pai viu?! É humilhação que não acaba mais na minha vida. O dia já está amanhecendo, as ruas do morro já bem movimentadas, mesmo ainda sendo oito da manhã, pessoas indo trabalhar, indo na padaria, limpando a calçada de suas casas, e as bêbadas aqui, estão chegando em casa só agora.
Oh meu Deus, ainda bem que dona Gabizinha não está aqui agora, já imaginou a minha filha me vendo voltar para casa assim? Nesse estado, pode não, Deus me livre de uma coisa dessas viu?! O exemplo que eu ia estar dando a minha filha, exemplo pior não tem, mas não sei porquê, eu tenho certeza que ainda vou ver dona Gabriela, voltando para casa de madrugada dos rolês.
De longe eu vejo só a tal da "tropa do mantém" descendo o morro, no caso eu estou falando Urso, do Metralha, do Magrim e do RK, acho que é esse o vulgo do homem, eu sei lá, só sei que todos os quatro não valem o chão que pisam, isso porquê só conheço dois deles, no caso o Metralha e o Magrim.
Magrim: ala, apocalipse zumbi?- pergunta rindo e eu faço careta
Metralha: tá bem?- pergunta me abraçando e eu confirmo com a cabeça dela- ela chorou muito?- pergunta para a Pati e ela confirma com a cabeça
Pati: agora não tenha chorado- fala e eu dou risada
Magrim: Henrique e Juliano, acertei?- pergunta e eu confirmo com a cabeça
Eu: sempre, os amores da minha vida, sem dúvida nenhuma, ainda mais quando teve a homenagem para a Marília- falo e eles confirmam com a cabeça
Magrim: e a bebê?- pergunta e eu dou de ombros
Eu: na casa do corno do pai dela, volta hoje, inclusive, me deixem ir que eu tenho que faxinar a casa e fazer comida para a minha filha- falo me soltando do Metralha e me recupero numa velocidade que pai amado, o poder da super mamãe.
Metralha: se recuperou numa velocidade- fala me olhando surpreso e eu dou risada
Eu: vou indo lá, beijos de luz meus amores- falo e saio andando para a minha casa.[...]
Saio do banheiro com a toalha enrolada no corpo, vou rumo ao meu quarto e já trato de passar os meus produtos corporais, visto um conjunto da Calvin Klein preto, um short preto de tecido da Nike e um chinelo hide preto da Nike também.
Passo perfume, desodorante e prendo o meu cabelo num rabo de cavalo bem feito.Arrumo o meu quarto bem rapidinho, desço para a cozinha e tiro a torta de frango que eu fiz, do forno. Dona Gabriela adora torta de frango, e como passei três dias longe da minha bebê, acho que ela merece esse mimo.
E falando nela, nada da bonita até agora, o pai dela não mandou uma mensagem, não deu um sinal de vida, não falou nem a hora que iria trazer a Gabi, nem nada. É isso que me deixa no puro ódio, ele nunca aparece para buscar ela, aí quando aparece se atrasa, não me dá notícias da minha filha, não responde as minhas mensagens, não atende as minhas ligações, nunca respeita o horário que tem que trazer ela, a minha vontade as vezes é matar o Guilherme.
Agora são dez e vinte e cinco da noite, já dormi, já descansei, já fiz faxina, lavei roupa, tudo o que eu tinha que fazer, fiz até um bolo de floresta negra com cobertura e raspas de chocolate em cima, até cereja coloquei, fiz torta, fiz as marmitas da semana, fiz tudo e o Guilherme ainda não me apareceu com a minha filha.
[...]
Onze e vinte e três, até agora nada da minha filha, eita meu Deus. Na verdade, vinte e três e vinte e três, quem acredita em horas iguais como eu, sabe muito bem o significado desses números.
Escuto a campainha tocando e já vou correndo abrir a porta, na esperança de ser o Guilherme com a Gabi, mas quando eu abro a porta, me deparo apenas com o Urso na porta da minha casa, ih ala, lá vem merda para a minha cabeça agora.
Eu: oi, posso ajudar em alguma coisa?- pergunto saindo de casa e fechando a porta
Urso: tu que tem filha, vim pegar o nome dela, a gente conseguiu o povo aí, vamos distribuir alguns presentes para as crianças aqui da favela, fazer um evento para elas, perto do natal, dar uma distraída na criançada- fala e eu confirmo com a cabeça
Eu: vai anotar agora?- pergunto e ele confirma com a cabeça pegando o celular- Gabriela Queiroz- falo e ele confirma com a cabeça anotando
Urso: Gabriela com dois L?- pergunta e eu nego com a cabeça
Eu: não não, Gabriela normal, com um L só, Queiroz com Z no final- falo e ele confirma com a cabeça
Urso: o nome da mãe?- pergunta me olhando atento
Eu: Camila Queiroz- falo e ele confirma com a cabeça
Urso: anota o teu número ai- fala me entregando o celular já no coisa de salvar contato.Passo o meu número para ele, junto com o Instagram também, não sei não, suspeito que isso aqui, seja mais que para dar presente para a Gabi, mas tá tudo bem, apenas deixa levar, se o gato quiser alguma coisa a mais, vai ficar querendo! O meu único foco agora é a Gabi, até ela completar uns vinte e oito, eu vou ter uns cinquenta e um anos, pretendo ser uma velha dessas inteironas, daquelas que o povo olha e fala "as vezes nem é pelo iPhone".
Ele sai andando e eu continuo na porta de casa, com o celular na mão vendo a hora, se chegar meia noite e esse homem não chegar, eu pego um Uber e vou bater na porta da casa dele, simples assim, palhaçada, eu ja deixei bem claro que era para chegar antes de meia noite.
Urso: tá esperando o que aí?- pergunta saindo do cu de Judas, faz meia hora que esse homem saiu daqui meu Deus
Eu: o pai da minha filha vir trazer ela- falo olhando o meu celular novamente, onze e cinquenta e cinco
Urso: já ligou?- pergunta e eu confirmo com a cabeça
Eu: dou mais cinco minutos, se ele não chegar até meia noite, eu vou bater na porta dele- falo e ele confirma com a cabeça.
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The Sweet Taste Of Sin
Teen Fiction" Não é sobre ser mãe solo aos 25 anos, não é somente sobre ter uma pessoinha de 2 anos, que precisa de mim para tudo na vida, é sobre me levantar, e aprender com os tombos que levei da vida." Camila Queiroz, uma jovem de 25 anos, moradora do...