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Urso: ele poderia ter chamado a polícia para você- fala limpando os machucados da minha mão
Eu: não ia, ele ia dizer o que para a polícia? Que a atual namorada dele bateu na filha dele, e ele ficou só assistindo tudo, e a mãe da criança foi tirar satisfações? Acho que não, ele ia se sujar sozinho nessa- falo e ele confirma com a cabeça
Urso: mas em quem você acha que a polícia vai acreditar? Na favelada que foi lá armar barraco, ou no boyzão do asfalto?- pergunta e eu dou de ombros
Eu: tanto faz, o importante sou eu saber da minha verdade- falo e ele da uma risadinha nasal, daquelas bem sem graça
Urso: fala isso para o juiz, quando você estiver encarcerada- fala me olhando atento
Eu: tu já foi preso?- pergunto e ele confirma com a cabeça
Urso: duas vezes- fala dando de ombros
Eu: e quantos anos você tem mesmo?- pergunto e ele levanta da minha frente e vai até a geladeira
Urso: trinta e dois, fiquei encarcerado a primeira vez por três anos, tinha dezenove, era vapor ainda- fala pegando um copo d'água e me entrega- bebe aí para tu se acalmar, só vou te levar para casa quando você estiver mais calma, criança nenhuma merece ver os pais agressivos não- fala e se encosta no gabinete da pia- a segunda vez eu já tinha vinte e quatro, era braço direito do meu pai, fiquei lá por mais dois anos, não tinham nada contra mim e tiveram que me soltar- fala e eu confirmo com a cabeça

        Quando chegamos no morro, o Urso já me trouxe direto para a casa dele, disse que nenhuma criança merece ver os agressivos, ele me sentou em cima do balcão da cozinha dele, limpou os machucados das minhas mãos e agora está me dando água, cuidadoso até, não me parece ser o meu Urso que o povo fala por aí.

Urso: engraçado que eu nunca tinha te visto por aqui- fala e eu confirmo com a cabeça
Eu: voltei quando estava grávida- falo dando de ombros- morei aqui até os meus dezoito com a minha mãe, abri a minha loja e preferi morar na pista, perto do asfalto, e minha mãe quis seguir a vida dela, depois que o meu pai morreu ela não era mais a mesma- falo e ele me olha atento- até que eu engravidei, comprei uma casa aqui, queria que a minha filha crescesse com a mesma horigem que eu, dito e feito- falo e ele confirma com a cabeça
Urso: e o pai? Não ajuda em nada não? Porquê eu já vi que tu, as tuas amigas, o Metralha e o Magrim, odeiam o cara lá- fala e eu nego com a cabeça
Eu: aquele ali ajuda nem a ele mesmo, boyzão, era só um contatinho fixo que eu tinha, mas camisinhas estouram e anticoncepcional falha, mas eu sinceramente prefiro assim, prefiro mil vezes que a minha filha tenha só a mim, do que tenha um pai daqueles- falo e ele confirma com a cabeça
Urso: ta certa, eu nunca me dei bem com o meu pai não- fala e tira a blusa virando de costas para mim, e eu vejo marcas de queimaduras bem escondidas nas tatuagens, se não prestar bem atenção, nem consegue ver- ele chegava bêbado ou drogado em casa, fazia a minha mãe de sacos de pancadas, e me fazia de cinzeiro- fala virando de frente para mim- por isso que nunca tive filhos- fala e eu olho para ele confusa, e o menininho do aniversário do Metralha
Eu: e aquele menininho que estava no seu colo? No aniversário do Metralha- pergunto e ele da de ombros
Urso: meu sobrinho, Luis Henrique- fala e eu olho para ele surpresa.

       Continuamos conversando até que por um tempinho, quer dizer, conversando não, ele perguntando e eu apenas respondendo, porém, logo eu dei um jeitinho de fugir e ir na padaria, comprar o café da manhã dos meus dois outro amores, dona Mariana e dona Gabriela.

         Ainda são oito da manhã, se vacilar Gabi tá acordando agora só. Vou na padaria e compro o básico, pão, queijo, presunto, um bolo de cenoura com cobertura de chocolate e bastante pão de queijo, Gabizinha se amarra num pão de queijo, parece comigo, eu também vou te falar, me amarro num pão de queijo.

Metralha: eita carai, estava brigando com um gato?- pergunta e eu mostro o dedo o meio para ele
Eu: a mulher lá é boa de briga, mas te garanto que não foi eu que levei a pior- falo tirando a minha carteira do bolso do short
Magrim: da para vê, e essa mão aí?- pergunta pegando a minha mão, já vendo os machucados que se formaram nos nós dos dedos.

          Dou uma leve explicação para eles, pego as minhas sacolas, pago a minha conta e já subo para casa belíssima, e foi só eu abrir a porta, que já vi o meu pinguinho de gente correndo de pijama pela casa, o que é que tá rolando aqui? Dona Gabizinha acordou cheia de energia pelo visto.

Eu: peguei- falo pegando a Gabizinha no colo, e ela me abraça dando risada
Gabi: bom dia mamãe- fala me dando um beijo na bochecha
Eu: bom dia meu amor- falo e ela me dá outro beijo.

        Ela me pede a benção enquanto levo ela para a cozinha, onde possivelmente a minha mãe se encontra, e dito e feito, a minha mãe está na cozinha passando um café e fazendo o chocolate da Gabi. Peço a benção para a minha mãe e coloco as sacolas em cima da mesa.

        Deixo a minha filha no chão e ela volta para a sala correndo, me arrancando risadas com a minha mãe, essa correria toda da minha filha, só significa que ela está cheia de saúde, e isso é realmente muito bom, as vezes me dá uma dorzinha de cabeça, uma dorzinha na coluna, mas pelos menos, a senhorinha Gabriela está cheia de saúde e de alegria, e isso é o que realmente me importa.

The Sweet Taste Of Sin Onde histórias criam vida. Descubra agora