Camila Queiroz
Acordo bem no meio da noite com barulhos de fogos, seguidos dos tiros, puta que pariu viu?! Me levanto da cama num pulo junto com o Urso, ele vai se armar enquanto eu pego o meu celular e vou correndo atrás da Gabi, que já está chorando na cama, oh meu Deus mamãe.
Pego a minha filha no colo e desço correndo para o cofre, o Urso veio vindo atrás da gente, todo mundo em uma correria só, o meu namorado para na nossa frente antes de eu fechar o cofre e deposita um beijo demorado na testa da Gabi, ele me olha e eu já sinto os meus olhos se enchendo de lágrimas.
Urso: eu prometo voltar, cuida de você e dela branca- fala me entregando um radinho e me puxa para um beijo rápido
Gabi: papai- chora querendo ir para o colo dele
Urso: o papai vai voltar meu amor, o papai promete voltar para cuidar de você- fala e da mais um beijo na testa dela.Ele nos olha uma última vez e fecha o cofre, eu o tranco por dentro, e já me sento com a Gabi numa cama de solteiro que tem aqui, seguro as minhas lágrimas ao máximo, o meu foco agora é só acalmar a Gabi, quando a minha filha dormir, aí sim eu posso me preocupar com ela, mas agora o foco é me preocupar somente com a minha filha.
E assim eu faço, aos poucos eu finalmente consigo distrair a Gabi, e vou puxando alguns assuntos para distrair a Gabi, os barulhos de tiro são bem baixos por conta do cofre, as paredes são blindadas, é um quarto do pânico, mas mesmo assim, os sons de tiros ainda são audíveis.
Eu: o que você quer fazer com o papai domingo? Ele ficou todo felizinho que você chamou ele de papai- falo e ela tomba a cabecinha de lado
Gabi: praia mamãe, praia- fala se animando e eu confirmo com a cabeça
Eu: então vamos para a praia, todo mundo, a família inteira- falo e ela confirma com a cabeça toda animadinha.Fico um bom tempo conversando com a minha neném, apenas nós duas conversando, mas logo rezamos juntinhas por todas as pessoas que estão lá fora, depois disso eu coloquei a minha filha para dormir, e a bichinha estava capengando tanto de sono, que dormiu bem rapidinho nos meus braços.
Coloco a minha menina na cama e me sento no chão, bem só ladinho da cama dela e já pego o meu celular e o radinho que o Urso me deu. O radinho não para em nenhum momento, nem por milésimo de segundo, os vapores se comunicando a todo momento, de vez em quando eu consigo ouvir a voz do Urso comando os moleques, ou a voz dos rapazes, e isso me trás uma paz, um conforto de saber que eles ainda estão bem.
Para quem mora em complexo, dias de confronto são piores, os tiros, os corpos sem vida pelo chão, as manchas de sangue, as paredes furadas de balas, as marcas que todos os confrontos deixam. E esses confrontos podem durar horas, dias ou até mesmo semanas, quantas vezes eu já não tive que sair por aí me escorando nas paredes, me escondendo dos tiros, simplesmente porquê eu tinha que trabalhar? Eu já até perdi as contas.
[...]
Escuto pelo radinho os moleques dizendo que a invasão acabou, respiro fundo e me levanto do chão, seco o meu rosto, pego as minhas coisas no chão e pego a Gabi no colo já, abro o cofre e vou saindo com o maior cuidado do mundo, subo com a minha filha devagar e já a coloco em cima da cama dela, cubro ela bonitinha e deposito um beijo na sua testa.
Vou para o meu quarto e já pego uma arma que fica escondida em cima do guarda roupa, confiro se está carregada e saio conferindo se a casa está limpa, subo novamente para o quarto da Gabi e vejo a minha filha ainda dormindo.
Volto para o meu quarto e guardo a arma no mesmo lugar que ela estava, deixo o radinho e o meu celular em cima da mesinha de cabeceira, e sento na cama para esperar o Urso, depois que começamos a namorar o Urso só tem uma missão, assim que acabar qualquer invasão ele tem que ir para onde eu estou, para me mostrar que está bem, inteiro, sem nenhum arranhãozinho sequer.
E fico sentada na cama por minutos, longos minutos que logo se transformaram em horas, e nada do Urso chegar em casa, nem um sinal dele pelo whatsapp e muito menos pelo radinho, e o meu coração fica como desse jeito? Pelo amor de Deus né?! O que será que está rolando? Porquê o Urso nunca me deixou assim esperando.
Sempre foi assim, acabou um confronto e ele já ia me ver e ver a Gabi, não só para mostrar que está bem, mas também para ter a certeza que estamos bem, para ter total certeza que não rolou nada com a gente, nunca demorou tanto tempo assim para aparecer, pelo menos mandasse uma mensagem, sei lá.
- Ainda não encontramos o chefe- escuto um vapor falando no radinho e já olho para o mesmo atenta
- Nem o corpo? Nada?- perguntam e eu reconheço a voz do Magrim
- Nada do chefe, achamos só os moleques que estavam com ele, dois mortos e o resto disseram que ele mandou subir pelo escadão, que ele encontrava com eles lá, não apareceu- fala e eu já sinto as minhas mão tremendo, uma tensão tomando conta do meu corpo. Eu pego o radinho em mãos e respiro fundo tentando me manter calma.
- E a casa dele? A Camila e a Gabi estão lá? Estão bem?- pergunta tudo de uma vez, e só pela voz eu já tenho a certeza que é o RK
Eu: seguinte, eu e a Gabi estamos em casa, estamos bem, mas cadê o meu marido? Eu quero geral virando esse morro de ponta cabeça se for necessário, e quero ser a primeira a saber do paradeiro desse homem- falo com o tom de voz mais firme que eu consigo.
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The Sweet Taste Of Sin
Teen Fiction" Não é sobre ser mãe solo aos 25 anos, não é somente sobre ter uma pessoinha de 2 anos, que precisa de mim para tudo na vida, é sobre me levantar, e aprender com os tombos que levei da vida." Camila Queiroz, uma jovem de 25 anos, moradora do...