" Não é sobre ser mãe solo aos 25 anos, não é somente sobre ter uma pessoinha de 2 anos, que precisa de mim para tudo na vida, é sobre me levantar, e aprender com os tombos que levei da vida."
Camila Queiroz, uma jovem de 25 anos, moradora do...
Saio do banheiro com a toalha em volta do meu corpo, vou até o meu guarda-roupa e passo os meus produtos corporais, visto uma calcinha qualquer, um top de academia preto da Nike, uma calça da Nike preta e as minhas pantufas de urso rosa.
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Passo desodorante e um body splash, devolvo a toalha para o banheiro e prendo o meu cabelo em um coque desengonçado, vou no quarto da Gabi vendo ela sentada de frente para a casinha que o Urso mandou fazer para ela, com uma carinha tão desanimada, oh meu Deus.
Eu: que carinha é essa meu anjo?- pergunto entrando no quarto dela me sento atrás dela, no chão também Gabi: mamãe, meu papai Felipe me abandonou também não foi?- pergunta chorosa e eu nego com a cabeça Eu: não meu amor, o seu papai só está com alguns problemas no momento, mas em breve ele vai estar de novo com você, com a gente- falo e ela me abraça bem apertado, afundando o rosto no meu peito. Gabi: a senhora promete mamãe?- pergunta me olhando e eu confirmo com a secando o seu rostinho Eu: de dedinho amor- falo erguendo o meu dedo mindinho para ela e ela cruza o dela no meu.
[...]
Acordo no meio da noite com o barulho de fogos pela favela, e logo os tiros vieram logo em seguida, acordando a Gabi que já ficou assustada e começou a chorar. Levanto da cama correndo, pego a arma, meu celular, um tênis, o radinho e a Gabi no colo, desço correndo dando de cara com o Magrim entrando em casa ofegante.
Magrim: é o Lobão, vai lá que eu fico com ela, essa guerra é sua e do RK, não minha- fala e fizemos a troca, ele pegou a Gabi do meu colo, e eu peguei a fuzil dele.
Dou um beijo na minha filha e ele já desce correndo com ela, tiro as pantufas jogando elas longe e já calço o tênis na velocidade, logo eu saio correndo de casa, rogando aos céus por proteção, não só para mim, mas para todos os que estão nessa guerra, para todos os inocentes e principalmente, para a minha filha, para a minha bebê que me espera em casa nesse exato momento.
De longe eu só vejo o RK subindo com um grupo de moleques com ele, ele para do meu Aldo negando com a cabeça e já tira o colete a prova de balas dele, me obrigando a vestir. O RK fica comigo me dando apoio, seguindo todas as minhas ordens à risca, porém também não saiu de perto de mim com os meninos, pelo meio do caminho ele pegou o colete de um dos caras que já estava no chão morto, oh meu Deus viu?!
RK: vai por ali com três soldados, a gente se encontra lá embaixo, por ali é mais seguro, eu vou por aqui com o resto da tropa- fala e eu confirmo com a cabeça.
E assim fizemos, eu fui por onde ele mandou com três dos moleques e eu já fui preparada, com a fuzil apontada, pronta para atirar em qualquer pessoa que brotar na minha frente, seja essa pessoa quem for. Escuto três tiros atrás de mim e já sou agarrada por trás, fazendo assim a fuzil cair da minha mão.
Lobão: nós avisamos que a seu vez estava chegando desgraçada- fala e eu dou uma cotovelada nele o empurrando para longe de mim, me afasto um pouco dele e saco a arma da cintura atirando na perna dele. Eu: mas quem te pegou fui eu sei desgraçado- falo e atiro novamente, agora no seu ombro Lobão: filha da puta- fala se contorcendo de dor e eu chuto a arma dele para longe Eu: a tua sorte seu desgraçado, é que quem vai te matar é o meu marido e não eu- falo já pegando o radinho da minha cintura- RK o Lobão está comigo na rua que tu me mandou, bem logo- falo e deixo o radinho na cintura de volta, enquanto escuto apenas um "ok" vindo dele. Lobão: teu marido vai morrer, na verdade ele tá quase morrendo já- fala e eu confirmo com a cabeça Eu: então você vai seguir o mesmo caminho que ele desgraçado- falo me abaixando no chão- porquê se ele não te matar, eu mato, mas antes, eu vou te torturar por dias, meses, até você não aguentar mais, eu vou fazer você implorar para morrer e quando isso acontecer, eu vou continuar torturando, e torturando e torturando, até você morrer por conta própria- falo e na mesa hora o RK entra no beco com os rapazes. Metralha: vou levar ele para o postinho, cuidar desse ferimentos dele e deixar ele tinindo, pronto para outra, prontinho para quando o Urso voltar- fala erguendo o Lobão do chão, com a ajuda do Terror RK: e você já pode ir voltando para casa, a Gabizinha precisa da mãe dela ainda- fala e eu confirmo com a cabeça- bora que eu te levo com os moleques- fala e nos separamos.
Parte foi levar o Lobão para o postinho, e o RK veio com a tropa dele me deixar em casa, pelo caminho eu não precisei atirar em mais ninguém já que eles fizeram pique um escudo a minha volta, eles me levam até o cofre de casa, ligo para o Magrim abrir o mesmo e já entro lhe entrego um fuzil, me despeço dos meninos bem rapidinho e fecho a porta.
O Magrim conseguiu fazer a Gabi dormir, me sento no chão ao lado da Gabi e tiro as coisas da minha cintura colocando no chão, caralho, eu atirei em um uma pessoa, eu atirei em uma pessoa, puta que pariu, e pior, eu me enfiei em uma invasão, no meio de um confronto onde tem tiro para todos os lados.
Eu nunca havia atirado em ninguém antes, muito menos matado como fiz hoje, peso na consciência? Nenhum, ou eram as pessoas que matei hoje, ou eu, e com certeza não vão ser a minha mãe e a minha filha a chorar essa noite.
