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Soraya Thronicke

O carro que nos locomovia parou depois de alguns minutos de trajeto. Fui puxada bruscamente por um dos seguranças para fora do veículo, a morena olhou feio para o homem e ele tremeu dos pés à cabeça. Quis rir, mas minha vida já estava por um triz, não poderia arriscar e levar um tiro.

Um enorme portão de ferro se abriu nos dando passagem para entrar no terreno Tebet. A enorme mansão à nossa frente me deixou de queixo caído, era moderna, mas também com aspectos rústicos que se harmonizavam perfeitamente com o modernismo ali presente. Era a mansão dos sonhos de qualquer um, posso afirmar isso sem sombra de dúvidas.

Até chegarmos na porta, passamos por um extenso jardim, onde andamos pela larga faixa de cerâmica que se sobrepunha a grama. Ao lado da faixa no chão, haviam árvores perfeitamente moldadas em círculos. Não consegui observar mais pois fui puxada para dentro da casa.

Se meu queixo já estava caído apenas com a fachada da casa e o jardim, ele chegou ao chão com o interior. A mistura de modernismo e rústico se estendia do teto até os móveis espalhados pela enorme sala de estar. Admirando todo o espaço nem percebi quando os grandalhões sumiram, restando apenas a morena perigosa e eu no cômodo. Engoli seco ao pega-la me olhando com seu olhar sombrio, eu deveria me preocupar?

- Me acompanhe, Thronicke.

Ordenou subindo as escadas que estava perfeitamente centralizada no espaço.

Sem escolha a segui, subindo lentamente pelos degraus de madeira escura que me encantavam. A morena mandona virou-se conferindo se eu estava a seguindo como bem ordenou, estreitou os olhos quando me viu logo atrás de seu corpo.

Ao terminar de subir a escada, chegamos à um corredor cheio de portas. Me perderia fácil nessa casa, implorava em meus pensamentos para ter alguém me guiando.

A Srta Tebet parou em frente à uma porta de madeira escura, semelhante ao material da escada e abriu a porta, dando-me visão do que parecia ser meu quarto, era luxo até no piso. Não me acostumaria fácil com aquilo, não mesmo.

- Esse é seu quarto a partir de agora. Não tem permissão de sair daqui à menos que eu venha libera-la. Gaspar irá vir em diversos momentos para trazer comida para você.

Falou com sua voz fria e severa. Quando ouvi de sua boca "a partir de agora." finalmente caí na real do que iria ser daqui pra frente. Não queria isso, não queria viver como uma prisioneira, não queria estar aqui, muito menos com ela. Queria apenas ter de volta minha vida normal, assistir filmes com meus irmãos todas as sextas, comermos sorvete antes da janta escondidos da mamãe, arriscaria até preferir as porradas de papai.

Para uma menina que sonhava tanto em ter uma vida normal; se formar junto dos amigos, levar uma vida digna e honesta, trabalhar com o que gosto... essa vida era o oposto de tudo. Por quê comigo? O que fiz para merecer isso?

- Quero ir para casa. - Murmurei.

- Já está nela. - Rebateu séria.

- Quero minha família, minha cama, meu quarto. Não isso, não você. - Falei, com raiva.

- Chama aquilo de família? Um pai que foi capaz de vender a própria filha apenas para encher os bolsos é família? Deve querer apenas se acostumar.

Suas palavras mecheram com a minha parte mais sensível, eu sabia que 'ele' exclusivamente não fazia parte da família para mim. Mas meus irmãos e minha mãe são o motivo de eu querer voltar e continuar ao lado deles, mesmo que eu apanhe muito fazendo isso. Irei fazer de tudo para sair daqui, não importa o que eu tenha que fazer.

- Não preciso das suas acusações medíocres, Tebet. Exijo ir para casa agora mesmo. - Digo, irritada.

- Não sei se já percebeu Thronicke, mas você não está em posição para exigir alguma coisa. Vai ficar calada e me obedecer. - Rosnou com sua paciência se esgotando.

- Você não manda em mim! - Murmuro.

- Escuta aqui, idiota. Não sei se percebeu com quem está lidando, mas queria deixar claro que minhas mãos estão coçando para pegar a minha arma e te matar. Então acho bom cooperar comigo. - Ameaçou.

- O que quer comigo? - Pergunto.

- Tudo. - Respondeu, sorrindo de canto.

- Seja mais específica, Tebet. - A provoco.

- Em breve irá saber. Agora entra logo antes que eu perca a paciência. - Mandou, apontando para dentro do cômodo.

- Eu odeio você. - Afirmei, a encarando com ódio nos olhos.

- Eu sei disso. - Sorriu de forma sínica.

Fechou a porta e logo ouvi o som das chaves indicando que ela havia trancado. Corro até a janela e tento abri-la, merda. Sigo para o banheiro e tento abrir a pequena janela, não obtive sucesso, estava trancada assim como todas as outras do cômodo.

Sem escapatoria e com as esperanças esgotadas, fiz a única coisa que conseguia fazer naquele momento. Chorei. Chorei com todas as minhas forças, descontando toda minha raiva e sofrimento naquelas lágrimas que desciam freneticamente por minhas bochechas. Peguei um pote de vidro e arremessei na parede com a maior força que consegui pôr, depois foi um vaso de flores que ao se chocar com a parede se despedaçou e derramou água pelo chão, as rosas foram parar no canto do quarto. Ajoelhei-me no canto próximo a janela e chorei ainda mais, lágrimas com misto de saudade, tristeza, medo, solidão, desamparo, e raiva, muita raiva.

Como seria daqui pra frente? Quanto tempo eu iria durar aqui? Irei me acostumar? Sinceramente, acho que não. Sempre fui uma garota boa, obediente, esforçada, focada, amorosa, carinhosa e feliz... até um certo momento. A única razão para que eu continuasse lutando contra meu pai era para proteger meus irmãos e minha mãe, que nesse momento são os que mais fazem falta.

Sei que chorar, chorar e chorar não vai adiantar absolutamente nada, mas é uma forma de aliviar o que estou sentindo. Se acharam que estou chorando à procura da pena de Simone, estão errados. Aquela mulher é como mármore, dura e fria. Duvido que ela tenha a palavra 'pena' em seu vocabulário de sentimentos.

...

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora