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Simone Tebet

Antes de voltar para casa fiz uma ligação para Nilo ordenando que viesse limpar a sujeira que eu acabei fazendo atrás do estabelecimento. Ele quase me arregaçou quando soube quem estava caído com uma bala no colo. Era próximo de Soraya então sempre envolvendo ela era automático de Nilo defender.

Estacionei em frente a casa tão conhecida por mim e desci do veículo seguindo até a porta e adentando o local em seguida. Tirei meus coturnos pretos dos pés e os carreguei na mão até a cozinha onde Irina ajeitava alguns copos no armário. Pigarrei e seu olhar disparou para mim rapidamente.

- Preciso que cuide dessa sujeira. - Falei estendendo as botas em sua direção. Ela os pegou e observou o sangue ainda um pouco molhado e arregalou os olhos deixando sua boca entreaberta.

- V-Você... matou ele? - Ela perguntou em um fio de voz.

- Matei. - Afirmei séria, sem paciência para outra série de julgamentos.

Irina engoliu seco e assentiu abandonando o cômodo logo em seguida. Respirei fundo antes de seguir caminho até as escadas e subi-las me preparando para uma complicada conversa com a garota de olhos cor-de-avelã .

Bati meus nós dos dedos na porta cerca de três vezes até que finalmente fosse ouvido o som das chaves se chocando do outro lado. A porta finalmente se abriu me dando visão da garota em situação crítica. Seus olhos estavam baixos e avermelhados, suas bochechas coradas e molhada pelas lágrimas recentes e olheiras prufundas marcavam ao redor de seus olhos.

Me senti um pouco mal, sabia que aquele seu estado era resultado de pensamentos carregados de culpa e tristeza por pensar que não chegou nem perto de salvar a irmã, e não de tudo o que falei para ela minutos mais cedo. Nada do que eu dissesse ou fizesse seria capaz de provocar tal reação na mesma se não fosse sua falha na fuga.

Não senti remorso nenhum ao observar minha mão claramente marcada em sua bochecha. Ela mereceu aquilo por me enganar, por trair minha confiança. Teria tudo sido mais fácil e menos doloroso para ela se tivesse recorrido a mim pedindo por ajuda, eu iria me divertir um pouco, claro, mas não iria deixar a irmã dela em apuros na mão daqueles ordinários imundos.

Soraya evitou olhar para mim quando adentrei o cômodo. Fui até a poltrona de frente para sua cama e me sentei sem dizer uma palavra, dando o tempo para Soraya preparar o psicológico para o que vinha em seguida.

- Silvana está em casa. Segura. - Falei depois de um tempo.

A cabeça de Soraya se levantou rápido e seus olhos brilharam. Os lábios trêmulos e sua respiração mais calma e aliviada, como se tivesse parado de se maltratar pela própria falha.

- Obrigada. - Sussurrou fechando os olhos e deixando uma lágrima solitária cair.

- Não me agradeça, com certeza não irá ter a mesma reação daqui alguns segundos. - Ergui minha cabeça encarando seus olhos.

- O que quer dizer com isso?

- Silvana escapou. Mas Antônio não.

- O-Onde está o meu pai? - Ela perguntou com a voz falha.

- Morto. - Respondi fria e sem expressão.

Soraya levou a mão direita até a boca e se pôs a chorar. Seus soluços eram ouvidos facilmente por quem passasse pelo corredor. Não achava que tinha motivos para chorar pela morte de um ser desprezível como aquele, mas apenas em imginar como a pessoa que estava sentada a sua frente havia tirado a vida do próprio pai era demais para qualquer um.

Lhe dei alguns minutos ouvindo apenas seu choro abafado pelas próprias mãos. Me levantei tempo depois e me aproximei de si, ela também se levantou e me encarou com a decepção nítida em seu olhar.

- Você matou o meu pai! - Apontou seu dedo em meu peito disparando a chorar ainda mais.

- É eu matei.

- Você é um monstro! Diz jus ao que todos falam por aí; uma pessoa sem coração que faz tudo sem se importar com o próximo, apenas com si mesma. Tenho certeza que é assim que vai ficar, sozinha. - Cuspiu as palavras que deveriam ter me comovido com sua voz embargada.

- Eu sou tudo o que dizem e mais. - Rosnei. - Seu pai não merecia estar vivo, não depois de bater nas próprias filhas e as tratarem como moedas de troca. Hoje foi Silvana, quem garante qual será a próxima de suas irmãs? Matar de vez o responsável por isso foi bem mais fácil do que ter que tirar suas irmãs dali repetidas vezes.

- VOCÊ NÃO SABE DO QUE ESTÁ FALANDO! MINHA MÃE O AMAVA SUA MALDITA! ELA ERA A ÚNICA PESSOA RESPEITADA E AMADA POR ELE NAQUELA CASA, AGORA ELA ESTA SOZINHA! - Gritou esvaziando todo ódio em seu peito.

- Ela o amava... - Sussurrou se sentando de volta na cama.

Caminhei até ela e rodeei seu corpo com meus braços a apertando contra mim como forma de conforto. Sendo surpreendida pelo nível de Soraya outra vez senti minha arma ser retirada de minha cintura em um passe rápido e o corpo de Soraya se afastar do meu.

A arma estava apontada para mim diretamente para meu peito. Seus dedos trêmulos seguravam o revólver com força fazendo a ponta de seus dedos esbranquiçarem. Seu dedo indicador estava apoiado sobre o gatilho esperando apenas por mais um pouco de força para disparar.

- Atira. - Ordenei calma de despreocupada.

- Eu vou matar você assim como matou o meu pai! - Grunhiu posicionando melhor a arma em sua mão.

- Mata. - Sorrio de canto e me aproximo lentamente ficando com o cano frio da arma em minha testa.

- Quer aqui? - Pergunto.

- Ou aqui? - Ne movimento fazendo a arma apintar para meu peito direito.

- Ops, estou errando muitas vezes. - Dei uma pausa guiando a arma para outro local. - Já sei, você quer bem aqui. - Apontei para meu coração.

Eu não estava com nenhum pouco de medo do que ela poderia fazer com um aperto no gatilho. Estava calma e relaxada apenas esperando sua boa vontade abaixar o revolver.

Quando encarei seu dedo trêmulo no gatilho se posicionar para atirar percebi que aquilo realmente não era brincadeira e me abaixei depressa pegando em seu pulso fortemente e posicionando a arma para o teto, que quando disparou fez um pequeno buraco ali.

Puxei a arma de sua mão e a encarei ficar surpresa com si mesma. Encarou as mãos incrédula de como o calor do momento e a raiva haviam feito a mesma quase matar alguém.

Joguei a o revolver no chão e ele deslizou até a porta em uma boa distância de nós. Puxei Soraya para meus braços e ela aconchegou seu rosto em meu pescoço e se pôs a chorar mais do que poderia aguentar.

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora