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Soraya Thronicke

Despertei com fracas batidas na porta de madeira. Sentei-me depressa na cama e murmurei um sonolento "entra" que foi logo atendido e a figura de Irina logo ficou sob meus olhos sensíveis. Sorri fraco retribuindo o largo sorriso que me dera ao entrar.

- A Srta. Tebet pediu que eu trouxesse isso. - Me entregou uma bolsa de gelo.

Peguei o conteúdo gelado e lançei um fraco sorriso na direção da mais velha. Apoiei a bolsa fria em minha bochecha direita, pressionando bastante para que tivesse o efeito desejado. Fechei os olhos com força no início, a dor era suportável, mas eu sentia como se o tapa estivesse se repetindo.

Irina encarou-me com o semblante preocupado e ao mesmo tempo aliviado. Quando eu ia perguntar se algo havia acontecido, ela se adiantou e sentou na ponta da cama hesitante em começar.

- Ela lhe bateu? - Sua voz calma me perguntou.

- Sim... - Respondi desviando o olhar para um canto qualquer.

- Me desculpe perguntar, mas o que aconteceu? Simone é irritada mas não sabia que poderia chegar à esse ponto.

- Eu acabei falando mais do que devia e o que eu disse parece ter afetado ela.

- Perdoe-me a intromissão, mas o que disse exatamente? - Insistiu.

- Que eu preferia que ela não tivesse me trazido para cá... mesmo que os custos fossem enfrentar aqueles velhos dos leilões. - Expliquei. As expressões suaves de Irina se tornaram perplexas, como se não acreditasse no que eu acabei de dizer.

- E ela só lhe deu um tapa? Nem um tiro ou murro? - Questionou surpresa.

Qual é a da baixinha? Tá querendo que eu apanhe?

Irina deve ter percebido minhas dúvidas já que balançou a cabeça rapidamente e se explicou.

- Não estou falando por mau, querida. Me desculpe. Melhor eu me calar antes que eu acabe me arrependendo.

- Tudo bem.

Irina me entregou a bandeja repleta de comidas e antes de passar pela porta, virou-se e levantou o polegar como se tivesse esquecido de algo.

- Aliás, a chefe disse que não será mais necessário trancar a porta. Pode passear pela casa quando terminar de comer, se quiser, é claro. - Avisou.

Meus olhos enfim se acenderam. Portas se abrindo para que eu saia daqui o mais rápido possível. Com esse passe livre para explorar toda a casa terei mais chances de fugir. A pontinha de esperança que eu carreguei comigo desde que cheguei funcionou perfeitamente.

- E antes que sequer tente, Simone mandou reforçar a segurança ao redor de toda a casa e pelas redondezas. Fora que para sair você tem de atravessar o portão principal que está sempre repleto de guardas. Priorize sua vida, querida. - Disse por fim antes de fechar a porta e sumir de minha vista.

Comi intrigada, ainda pensando em uma explicação convincente para que Simone me "soltasse". Foi pelo que disse? Ou foi sua forma de pedir desculpas pelo tapa? Talvez um teste? Ou uma desculpa para algo....

Tratei de saciar minha fome o mais rápido possível. Não queria passar nem mais um segundo trancada nesse quarto vendo a mesma decoração sem graça todos os dias. Estava disposta à revirar cada canto desse lugar, pelo menos até achar alguma saída ou passagem.

Larguei com ferocidade a bandeja em cima da mesa e calcei meus chinelos antes de abrir a porta e seguir pelos corredores abrindo porta por porta. Mas claro, sempre com duas batidinhas antes para evitar ver o que não deveria e nem correr o risco de interromper uma Simone furiosa.

A maioria dos cômodos eram quartos. Os outros de sobravam ou eram espaços vazios, escritórios ou banheiros. Fiquei um tanto frustrada por não achar nada que me chamasse atenção, à não ser as belíssimas pinturas que se espalhavam pelas paredes de todo o local. Todas que parei para observar haviam uma pequena assinatura bem no canto do quadro, quase imperceptível.

SNT

Não lembrei de nenhum pintor das redondezas que havia aquela assinatura, então logo supus ser algum renomado artista que com certeza cobrou uma fortuna por estas obras.

Desci as escadas em pulos largos até chegar no espaço principal que eu já conhecia. Lembrei do dia em que escapei do quarto pelo deslize de Irina na hora de tranca-lo, pude observar um pouco. Mas agora tinha tempo de sobra para obsorver tudo.

Meus dedos deslizavam pelos móveis brilhantes e saiam limpos, sem nenhum resquício de pó. Senti pena de Irina naquele momento, deve ser um puta trabalho para limpar isso dos pés à cabeça e ainda por cima deixar tudo brilhando.

Parei do meio da sala e observei outro quadro colorido preso à parede. Dedilhei os pequenos detalhes até a mesma assinatura em preto, provavelmente escrito com pincel.

- Bonito, não é? - Uma voz grave soou atrás de mim me assustando e me fazendo dar um pulo involuntário.

- Por Deus! - Murmurei com a mão no peito.

- Desculpe, não queria assusta-la. Deve ser a prisioneira de Simone, estou certo? - Perguntou com seus olhos na pintura enquanto recebia um dos meus olhares curioso.

- Soraya Thronicke, prazer. - Disse tentando soar simpática.

- Nilo Nassar Tebet, o prazer é meu, docinho. - Disse finalmente me encarando e lançando um assustador sorriso de canto. - Não se preocupe, estou bem longe de ser como minha irmãzinha psicopata.

- Não sabia que ela tinha irmão... - Murmurei.

- Muitos não sabem. Somos seis; Eu, Simone, Rose, José, Kate e Seajenks. - Apresentou a família sentando-se no sofá e apontando para que eu faça o mesmo. Um pouco hesitante, sento-me na sua frente.

- Minha irmã sabe que está fora do quarto? - Perguntou.

- Ela quem liberou, por mais inacreditável que isso pareça. - Respondo dando de ombros.

O silêncio se instalou por alguns minutos. Ele parecia estar pensando em algo, não sei dizer o quê, mas encarou um ponto fixo por muito tempo. Logo depois voltou à me encarar com uma expressão indecifrável.

- Você é bonita, Soraya.

- E lésbica. - Soltei logo em seguida

- Relaxa, foi só um elogio.

- Você também é bonito. Te pegava se eu estivesse bêbada. - Confesso.

- Tem whisky de sobra aqui. - Avisou, me fazendo rir.

- Agora eu te dava só por essa reposta. - Eu falei, cessando as risadas.

- Desse jeito você não tá parecendo nenhum pouco lésbica. - Falou debochando.

- Ah é? Vacila ai pra ver se eu não enfio um dedo no seu cu. - Desafiei causando gargalhadas estridentes de sua parte. Não aguentei e logo me juntei à ele nas risadas.

Ficamos assim por vários minutos, em meio à risadas e piadas idiotas. Irina veio pegar o vaso de flores que estava na mesa de centro da sala para trocar a água e quando viu nosso estado; vermelhos de tanto rir. Nos encarou surpresa e logo saiu do cômodo.

Fala sério, como esse garoto é irmão da Simone? Personalidades totalmente diferentes, nessas horas queria apenas que ele nao fosse gay e que eu não fosse hetero para poder pegar ele. Tenho certeza que aqueles olhos profundos encantam qualquer um. Mas já entrei no caminho colorido, e quando isso acontece não há saída.

- O que está acontecendo? - Ouvi uma voz fraca vir da cozinha. Mas isso não interrompeu nosso ataque de risos incurável.

Pelo menos não até a dona dessa voz parar em nossa frente e nos encarar com as sobrancelhas erguidas.

Eita.
   
                                     •💵•
 
Notas da Autora: Aproveita os refrescos viu, porque daqui uns capítulos vai ser só dedo no c* e gritaria! Bjs sapatões ❤️✨

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora