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Soraya Thronicke

O trajeto até a favela demorou alguns minutos, aproveitei esse tempo em silêncio para encarar as ruas por trás da janela do veículo. Sorri ao observar um pequeno bebê, aparentemente, dar seus primeiros passos, já que os pais sorriam admirados. Me peguei com inveja por não ter tido uma infância saudável como esta...

- No que pensa? - Simone me perguntou ainda com os olhos vidrados na estrada.

- Nada importante. - Sorri fraco.

- Você mente muito mal. - Afirmou.

- Que seja. - Dei de ombros.

Senti sua mão direita se apoiar em minha mão esquerda que descansava em minha coxa. Ela a pegou e com o polegar fez carícias confortantes, meu interior se acalmou no mesmo momento.

Nos aproximamos do monte repleto por casas com pinturas coloridas. As pessoas transitavam sem parar, trazendo crianças ou sacos repletos de roupas velhas consigo. Diferente de antes, agora o local parecia uma simples vila, e não mais a temida favela.

- Foi você quem fez esta reforma? -  A questionei quando descemos do veículo.

- Bom, eu dei as ordens e aparentemente, me obedeceram. - Sorriu fraco entrelaçando nossas mãos.

Caminhávamos sem rumo exato pelas ruas estreitas e pouco movimentadas. Pessoas grudavam seus olhares em nós, provavelmente por ser Simone ao meu lado.

Estávamos dobrando em uma esquina quando Simone olhou para o lado e puxou-me devagar indicando que deveríamos seguir aquele caminho.
Franzi o cenho quando a mesma se aproximou de uma pequena casa amarela e bateu na porta. Já iria lhe pedir explicações, mas esqueci disto quando a porta se abriu e uma pequena criança nos atendeu.

- Si! - Exclamou sorrindo.

- E aí, pirralha. - Elas fizeram um toque.

- O que faz aqui? E quem é ela? - Perguntou apontando para mim que sorri simpática.

- Vim conferir se você ainda estava viva. - Brincou. - E essa é minha esposa, Soraya.

- Meu nome é Cecília , prazer. Você é bonita. - Ela falou tímida.

- Obrigada, anjinho. Você também é muito bonita. - Sorri.

- Onde está o panaca do seu pai? Ele tem aprontado muito? Não minta pra mim. - Simone a encarou séria.

- Ele está tomando banho, e não, ele não aprontou. - Sorriu sapeca.

- Então creio que meu trabalho aqui está feito. - afirmou.

- Veio aqui só pra isso? Quanta perda de tempo. - Estalou a língua e balançou a cabeça em negação.

Me espantei com a intimidade que havia entre elas, temi que Simone fizesse algo à Cecília , mas me surpreendi ainda mais quando a loira riu da garotinha.

- Não vim aqui só pra isso, menina. Tenho trabalho à fazer. - Respondeu.

- Você é uma adulta rabugenta, sabia? Só trabalha e trabalha.

- Você já me disse isso da outra vez em que nos encontramos. Agora chega, vai pra dentro logo. - Simone mandou retomando à sua postura séria.

- Você é chata demais. - A pequena resmungou entrando.

- Que garota abusada. - Simone retrucou incrédula.

- Você e ela parecem ser bem próximas. - Comentei entrelaçando nossas mãos novamente.

- Não somos. Por irônica do destino a conheci em uma visitinha que fiz ao pai dela, a garota iria ver o pai com os miolos estourados no chão se minha Simone piedosa não tivesse intervido. - Explicou calma.

- As vezes acho que você é uma psicopata. - Falo brincando.

- Oh, mas eu sou, Sweet. - Beijou minha testa carinhosamente.

Andamos mais um pouco pelo lugar, Simone sempre me prendendo a si e disparando olhares fulminantes para todos aqueles que levantarem o olhar para mim. Nem um pouco possessiva... acho que já até me acostumei.

Simone conferiu o relógio em seu pulso e avisou que já era hora de ir, pois ainda teríamos que passar no comitê responsável pela Máfia, onde ela teria uma breve reunião com alguns de seus homens. E eu iria acompanha-la depois de muita insistência.

Estávamos prestes à nos dirigir de volta para o carro quando ouvimos gritos suplicantes, virei-me rapidamente e avistei um homem agarrar uma mulher  pelo braço enquanto a mesma se debatia sem parar, implorando por ajuda. O que me deixou pasma é que nenhuma das pessoas que estavam sentados nas calçadas sequer tentaram impedir, apenas assistiam à cena como se fosse algo natural.

Me desvencilhei dos braços de Simone e caminhei até eles com ódio em meus olhos, disparando olhares mortais para todos que me encaravam reprovando minha atitude. Ouvi Simone gritar por mim, sua voz um pouco abafada pela distância, não lhe dei ouvidos, minha raiva era tanta que naquele momento eu só queria socar a cara daquele inútil até ele esguichar sangue.

Quando me aproximei o suficiente, puxei a mulher para o meu lado e acertei diversos tapas no rosto do homem imundo que fazia isto. Ele me olhou com raiva e levantou a mão em minha direção, acertei murros certeiros em sua mandíbula o fazendo cambalear para trás desnorteado.

Sentindo que ainda não é o suficiente, o golpeei em seu nariz e bochecha. Ele caiu desacordado em meus pés, mas eu ainda não estava satisfeita, iria bater mais se não fosse braços me segurar.

- Soraya, pelo amor de deus, se acalma mulher! - Ela pediu me prendendo com força contra si.

- Me solta! - Rosnei.

- Vai pra casa. - Ela ordenou para a mulher que foi a vítima, ela assentiu e saiu dali rapidamente. - E não, eu não vou te soltar enquanto não se acalmar.

Simone grudou nossos lábios em um beijo intenso, que depois se tornou apenas ternura. Era incrível como ela tinha tanto controle sobre mim, com apenas um beijo, meu coração desacelerou e o ódio já tinha ido embora. Restando apenas a Soraya calma.

- Pronto? Vai parar de agir como um animal feroz agora? - Perguntou sarcástica. Corei.

- Eu não me arrependo. - Resmunguei a seguindo até o veículo.

- Se quisesse matar ele, era só ter pedido minha arma, iria ser bem mais fácil e rápido. - Murmurou quando entramos no carro.

- Está me fazendo querer voltar e acabar com ele. - Falei sorrindo.

- Uh, vou parar. - Levantou os braços em sinal de rendição e sorriu brincalhona.

Eu amava aquele lado de Simone, que apenas eu conseguia ver e aproveitar ao máximo. Era apenas para mim que ela sorria daquela forma, com carinho, admiração e paixão.

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora