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Simone Tebet

Duas semanas. Duas semanas que se repetia a mesma rotina frustrante. Meus dias se resumiam em acordar e ir para o hospital cheia de esperanças de pelo menos uma mínima melhora de Soraya, mas em todas as vezes eu recebia a mesma resposta.

- Os sinais vitais estão normais, mas ela continua sem reações.

Mais uma vez. A mesma resposta.

Bufei frustrada e afundei meu corpo na poltrona da enfermaria onde Soraya estava inserida desde o acidente. Devo dizer que os primeiros dias foram difíceis para mim, vê-la conectada à milhares de fios e máquinas acabava comigo.

Ela estava respirando graças à uma maquina já que sua garganta estava danificada demais para a passagem do ar. Mesmo que houvesse apenas 15% de chances dela sobreviver eu continuava vindo todos os dias, dormindo ao seu lado e sempre segurando sua mão suplicando por uma mínima reação sua. Mas nada.

Os médicos que ficaram responsáveis por ela nos disseram que foi um milgare ela continuar viva depois da perfuração em uma área tão fatal, e não imaginam quantas vezes agradeci à Deus por ver seu peito subir e descer, mesmo que fosse bem devagar. Aquele simples movimento acalmava o furacão dentro de mim, pois eu sabia que ela estava lutando por mim.

- Nada de novo? - Perguntou minha mãe adentrando a sala branca.

- Não, o mesmo. - Suspirei acariciando a mão pálida de minha esposa.

- Ela vai ficar bem, querida. Soraya é uma garota forte e saudável. - Falou beijando o topo da minha cabeça.

Sorri fraco e deixei uma lágrima escorrer por minha bochecha quando uma enfermeira entrou no quarto para colocar outra vitamina no soro que alimentava Soraya.

Todos os dias converso com ela, peço repetidas vezes que acorde para podermos voltar à nossa vida com direito à cafés da manhã na cama, selinhos durante o dia inteiro, olhares apaixonados, ah seu olhar... eu sentia tanta falta de ver suas íris avelãs que tanto me acalmavam... Não encontratei a paz até que eu os veja novamente.

- Você quer comer algo? Posso ir buscar se não quiser sair. Está desde ontem à tarde sem comer nada. - Mamãe falou preocupada.

- Tanto faz. - Murmurei sem tirar a atenção das carícias que eu fazia em Soraya. A mais velha assentiu e logo saiu, nos deixando sozinhas.

- Hoje está fazendo uma semana, Sweet... não quer acordar pra mim? Eu sinto falta de você, muita mesma. - Senti mais lágrimas quentes escorrerem por meu rosto.

- Sinto muito por não ter chegado à tempo, sinto muito mesmo. Por culpa minha você está nessa situação... eu apenas lhe fiz mau, lhe machuquei, e tudo para no final receber o seu perdão e ser castigada com você assim. Me perdoe... - Funguei sentindo a culpa apertar meu peito.

Eu também lhe pedia perdão todos os dias, sabia que se eu não tivesse me apaixonado por ela nada disso estaria acontecendo, Bolsonaro não teria motivos para machuca-la. Me sentia culpada por não ter chegado a tempo, por não ter a salvado, por não ter ficado com ela em casa como havia me proposto naquela manhã. Aquilo era minha culpa, eu sabia disso perfeitamente.

Falando em Bolsonaro , nesse momento ele deve estar sendo queimado nas chamas mais quentes do inferno junto com toda a família dele porquê eu o matei da forma mais torturante possível. O amarrei em uma cadeira e com uma faca afiada cortei membro por membro do seu corpo, começando pelos dedos, mão, braços, pés, pernas, seu membro, e finalizando com uma facada fatal em seu pescoço. Ainda me lembro exatamente de seus gritos de dor, o ardor torturando corroendo suas entranhas, assim como a dor que Soraya havia sentido. Eu me vinguei naquele momento, não pelo que ele fez comigo durante anos, mas sim o que ele fez à garota que amo e pela dor que tudo isso me causou. Seu sangue escorrendo e seus olhos fulminantes se fechando mais á cada vez em que uma parte de seu corpo era cortada me fazia sorrir. Havia chegado a hora dele.

- Olá. - Helena, mãe de Soraya entrou no quarto com um fraco sorriso.

Graças ao pedido de Soraya para Danthy, sua mãe estava sã e salva. Mas assim como eu, a mais velha sofreu muito, chegando a precisar tomar soro para preencher a falta de líquido em seu corpo por tantas lágrimas derramadas pela filha.

- Ela está bem. - Falei apertando a mão fria de Soraya.

- Isso é bom. Sua mãe me contou que não se alimentou ainda, pode ir se quiser, eu cuido dela pra você. - Apertou meu ombro em sinal de conforto.

Não queria sair de seu lado, mas Lena era sua mãe, sabia que ela também queria um momento à sós com a filha.

- Eu vou, mas volto em menos de dois minutos. - Falei me levantando.

- Fique tranquila. - Me assegurou sorrindo.

Sai em passos rápidos até a cafeteria do hospital e avistei mamãe junto de Rose e Nilo. Me aproximei e mamãe me estendeu um copo de café gelado já essa era a única coisa que segurava em meu estômago depois de tanto transtorno.

- Hey, como você tá? - Nilo perguntou apreensivo.

- Poderia estar bem melhor. - Respondi bebericando a bebida. Dei grandes goles no café para terminar o mais rápido possível e logo voltei para a sala de Soraya. Lena estava segurando a mão da filha enquanto a mesma permanecia desacordada.

- Se quiser ir comer alguma coisa também, eu fico com ela. - Falo me aproximando.

- Eu vou sim, obrigada. - Sorriu e logo se retirou.

Voltei para o lado de Soraya e peguei sua mão novamente como um refúgio no meio de tanto medo e pavor. Levei minha outra mão até sua bochecha e fiz uma leve carícia na mesma.

- Você ainda vai demorar muito, Sweet? Eu quero ver você bem, amor. Me sinto perdida sem você ao meu lado, preciso da pessoa que prometeu me guiar e não desistir de mim, ao meu lado. Mas para isso você tem que acordar, tudo bem? Promete pra mim que vai tentar? - Pergunto carinhosa, segurando ao máximo as lágrimas, já cansada de tanto chorar.

Senti o dedão que fazia as carícias em sua bochecha, molhar. Observei sem reação a lágrima solitária escorrer de seu olho e colidir com meu dedo, senti o fôlego me faltar e borboletas invadirem meu estômago. Ai meu deus.

...

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora