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Soraya Thronicke

Abri uma pequena brecha de meus olhos sentindo minha cabeça latejar e minha vista pesar. A visão estava borrada, conseguia apenas enxergar uma claridade no cômodo. Eu estava no céu?

Uma pontada agonizante foi dada na parte de trás de minha cabeça me fazendo soltar um gemido de dor. Ouvi alguns murmúrios baixos e logo senti minha mão ser apoiada por outra.

- Hey, Sory. Como está se sentindo? - Ouvi Nilo perguntar ao meu lado.

- Minha cabeça... dói. - Levantei minha outra mão até o local da dor e meus dedos tocaram uma faixa que cobria grande parte do local.

- Ei, tire sua mão daí! - Me repreendeu. - Você bateu a cabeça muito forte, Sory. Tome cuidado da próxima vez que for descer as escadas, docinho.

Franzi o cenho confusa, sentindo mais uma pontada de dor me atingir. Do que diabos ele estava falando? Pelas memórias que tenho em minha cabeça a escada não teve nada haver com isso, mas sim ela.

- Sinto que você não sabe da história verdadeira, Nilo. - Falei o encarando.

Respirei fundo e lhe contei tudo, desde seu comportamento diferente de manhã até eu apagar no chão de seu escritório desmaiada. Observei as narinas do garoto ao meu lado inflarem, os olhos fulminantes, prontos para matar quem precisasse.

- Ela tá ficando maluca?! - Exclamou se levantando bruscamente e seguindo até a porta.

- Ni , não. - Tentei impedi-lo de sair, sabe-se lá o que ele iria falar ou fazer com ela, mas tinha medo de que ele se arrependesse depois.

Coloquei os pés para fora da cama com o tronco ainda deitado e fechei os olhos ao levantar parte do meu corpo, ficando assim sentada na cama tentando controlar a dor infernal em minha cabeça. Levantei meio zonza e segui até a porta, quase não tendo força para abri-la.

Caminhei em passos desengonçado até o local de onde vinham os gritos e assim que parei na porta do escritório de Simone observei Rose, Seajenks e Nilo discutirem com a morena.

- Nilo... - O chamei me apoiando no batente da porta.

- Por Deus, Soraya! O que está fazendo fora da cama? - Ele veio exasperado ao meu encontro.

- Por favor, deixe pra lá. Já aconteceu, gritar e gritar não vai concertar muita coisa, acredite. - Suspirei e sorri fraco.

- Está vendo sua idiota? Você quase a mata e ela ainda te defende! Se eu fosse ela já teria te dado umas boas surras. - Ele rosnou para a irmã.

- Hey, você está bem? - Seajenks perguntou se aproximando. Sorri fraco e concordei.

- Estou, apenas com dor de cabeça. - Ela assentiu.

- Irina comprou alguns remédios para aliviar a dor, vamos, eu lhe levo até lá. - Rose passou seu braço ao redor do meu ombro e me guiou até as escadas me ajudando à descer devagar.

Quando chegamos ao cômodo, ao me ver, Irina correu preocupada até mim e tocou meu rosto me olhando com pena.

- Que bom que acordou, Sory. Estava preocupada. - Me abraçou devagar.

- Estou bem, agora. - Falei e sorri.

Rose buscou um copo de água e um comprimido que provavelmente seria para dor. O coloquei na boca e engoli junto da água.

- Quer ir pro quarto agora? Ou prefere ficar aqui? - Irina perguntou.

- Me sinto cansada, acho melhor eu ir para o quarto. - Falei e ela assentiu. Rose novamente me guiou até meu quarto e me ajudou à deitar sem machucar minha cabeça ferida.

- Sinto muito pelo que aconteceu. - Ela suspirou.

- Você conhece a sua irmã, ela trata todos assim, por que acha que comigo iria ser diferente? - Questionei dando de ombros e tentando esconder minha decepção.

- Você está certa, descanse. Vou tentar acalmar Nilo. - Disse e saiu do quarto me deixando sozinha.

Fechei os olhos respirando fundo tendo lembranças da noite passada. Não acho que fora a pancada ou o enforcamento que me machucou, e sim encarar seus olhos castanhos e ver aquela frieza que não havia visto há semanas.

O sono me pegou rápido, talvez pelas poucas horas que eu havia dormido. Sentia meu corpo cansado, então porvavelmente aquele sono iria regenerar minha disposição.

Horas depois fui acordada com uma carícia trêmula em minha bochecha direita. Senti seu cheiro de jasmim empregnar meu nariz, me vi sem coragem para abrir meus olhos e encara-la.

- Eu perdi o controle, Sweet. - Sussurrou parando a carícia, logo se afastando.

Abri meus olhos quando senti o calor de seu corpo se distanciar do meu. Ela estava próxima á janela, encarando o jardim de sua casa.

- Estou esperando meu pedido de desculpas. - Falei.

- Vai morrer esperando. - Falou séria.

- Eu não entendo você... - Sussurrei e ouvi sua respiração pesar.

- Não tem que enteder. - Rebateu ainda de costa.

- De manhã você estava alegre, sorrindo e depois... depois você me enforcou olhando em meus olhos, segura do que estava fazendo. O que aconteceu? - Ela abaixou o olhar.

- Você realmente não vai querer saber. - Respondeu séria.

- Eu quero. - Afirmei.

- Mas não vai. - Rebateu.

- Eu estou tentando me esforçar para entender você desde que cheguei aqui, tentando compreender o porquê de você agir assim com todos, o motivo para você ser desconfiada e sempre estar três passos à frente de todos.
Do que você tem medo, Simone? - Perguntei fria.

- Como se a poderosa Chefe da Máfia tivesse medo de alguma coisa. - Falei irônica.

- Ela não tem medo de "alguma coisa", ela tem medo de si mesma. - Admitiu nunca deixando de encarar a janela.

- Eu não tenho medo da outra Simone, eu gosto dela. Tenho medo da Simone que quase me matou, que não sorri, que não se importa com os outros, a que não é feliz. - Falei me sentando.

- A Simone que você gosta nunca existiu, foi apenas um escorregão. Essa sou eu.

- Não, não é. Essa é quem você quer que todos conhecam, que temam. Você tem medo de mostrar quem realmente é e quando se machucar, se mostrar frágil. Você prefere ser a garota fria e impiedosa para esconder por trás dessa capa tudo que te magoou. - Falei convicta.

- Por que insiste? Pensei que te inforcar fosse o suficiente para você se afastar, mas como uma garota teimosa não fez. - Comentou virando-se para mim e lançando uma onda de calafrios por meu corpo assim que nossos olhos se encontraram.

- Eu nunca irei desistir. Pode fazer o que quiser, me enforcar, me bater, me esmurrar ou me trancar em um quarto. Mas eu irei insistir até meu último suspiro. - Murmurei.

- Você está sendo precipitada, Thronicke . - Desviou seu olhar para o chão.

- Então é esse o seu problema, ninguém nunca insistiu o suficiente em você, desistiram no meio do caminho, e agora não acredita que alguém consiga, pois vai se machucar no fim. Não vou quebrar seu coração, Simone.

- Mas eu vou quebrar o seu. - Ela disse.

- Ou talvez eu acabe quebrando o seu primeiro. - Falei.

- Ninguém quebra meu coração, Soraya.

- Está mentindo, tem sim uma pessoa capaz de quebrar seu coração.

- Quem? - Perguntou erguendo as sobrancelhas.

- Você mesma.

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Notas da Autora: Confesso que nesse capítulo fiquei com dó da Sory, será que ela vai conseguir mudar a Simone? Fica no ar 🥺 Queria agradecer a Madrinha Marcia_Oliveiras_ pela capa maravilhosa ❤️ e obrigado por acompanhar essa fic ❤️

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora