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Simone Tebet

Dor. Era tudo o que eu sentia naquele momento.

Estava trabalhando normalmente na sede da Máfia, preenchendo algumas papeladas de carregamentos quando meu celular tocou. Avistei o nome de Soraya piscar na tela, estranhei de inicio já que ela não costumava me ligar, mas ignorando isso, rapidamente atendi. Sua voz estava trêmula, ofegante, assustada, isso foi o suficiente para meu corpo entrar em estado de alerta e levantar em um pulo.

Quando eu soube o motivo ao ouvir o disparo soar pelo outro lado da linha, eu estremeci, meu peito apertou, meu coração acelerou, perdi o fôlego e todos os sentidos. Lutei contra a vontade de chorar, queria me manter forte, mostrar para ela que tudo iria ficar bem, mas nem eu acreditei mais em minhas palavras quando meu notebook notificou uma mensagem de Nilo avisando que haviam homens de Bolsonaro pela cidade.

Como o covarde filho da puta que era claramente não iria me atacar, iria atrás da pessoa que mais amo para se vingar de uma forma bem mais dolorosa. Se ele encostar um dedo sequer em Soraya eu o matarei com todo o cartucho de balas da minha arma. Atirando em lugares diferentes para ver seu sofrimento ainda maior.

Desesperada, corri em passos rápidos para o carro, segurando as malditas lágrimas que ameaçavam descer. Pisei fundo no acelerador fazendo os pneus do veículo cantar pela estrada. Em meio à toda essa adrenalina ela me disse o seu primeiro "eu te amo" e sabe o quão feliz eu fiquei com isso? Não é possível expressar em palavras. Mas as condições em que aquilo fora dito foi outro corte profundo em meu coração.

Disparos soavam sem parar, seus gritinhos assustados e seus fungados me matavam lentamente. Ela me fez prometer algo que eu não iria cumprir, e me senti mal por mentir, mas ninguém nunca ocuparia seu espaço em minha vida. Ninguém.

O desespero me invadiu ainda mais quando ela falou uma última frase e desligou a chamada. Meu peito estava em chamas, a adrenalina da velocidade em que eu dirigia o veículo fazendo tudo se tornar ainda mais real e consequentemente doloroso.

Eu não podia perde-la. Não podia perder a única pessoa que não desistiu de mim, que me amou mesmo com todos os defeitos que eu carregava, não aguentaria novamente perder alguém que amo, isso mesmo, eu amo Soraya mais do qualquer um poderia amar alguém. Porquê agora eu necessito dela tanto quanto de ar para respirar.

Eu vos disse capítulos atrás que ter esperança era algo estúpido, que não funcionava, que era apenas papo furado, porquê eu tive minha experiência com esse sentimento e me decepcionei. Mas agora, diante à todos vocês, eu novamente experimento da esperança, esperança de que Soraya voltará para meus braços para que possamos continuar nossa vida juntas.

Quando finalmente cheguei ao local, encarei os vidros da frente estraçalhados no chão. Buracos de bala espalhadas pelas paredes e porta. Adentrei a casa em passos silenciosos, procurando por todos os cômodos por Soraya, com esperança de que ela estivesse me esperando, quietinha como lhe havia solicitado. Todavia lágrimas encharcaram meu rosto quando em um pequeno quartinho empoeirado avistei seu celular no chão, ainda ligado com uma mensagem na tela iluminada.

"Eu amo você com todas as forças possíveis, Tutti"

Sorri fraco mordendo os lábios segurando um soluço que insistia em escapar, e essa reação por seu apelido carinhoso levando em consideração o que fiz para a mesma, minhas condições e defeitos.

Disparei meu olhar em direção a porta dos fundos que estava aberta, senti um misto de sensações me percorrer. Minhas mãos trêmulas seguraram a arma erguida, sem estar segura do que pode estar lá esperando por mim.

O fôlego me faltou quando vi o local vazio, exceto os dois corpos caídos no chão, impossível de saber quem é daquela distância já que a grama alta os cobria. Rezava para que nenhum deles fosse dela... não aguentaria.

Caminhei apreensiva até o corpo mais próximo e estremeci ao ver Léo caído, com sua pele agora pálida contrastando com o verde vivo da grama. Um buraco em sua testa e um rio de sangue em baixo de si. Respirei fundo, um já foi.

Agora me restava o outro... no qual eu torcia para que fosse o de Bolsonaro, eu ficaria feliz em disparar quantas vezes mais fossem necessárias para vê-lo esguichar sangue e ser queimado no fogo do inferno.

Mas quando me aproximei e enxerguei os cabelos loiros estendidos pelo chão ensangüentado perdi minhas estruturas e qualquer resquício de calma. Ajoelhei-me sobre o sangue, sem me importar se iria me sujar ou não e observei horrorizada o burado no lado esquerdo de sua garganta.

Meu peito estava queimando com as chamas mais quentes, meu interior sendo esmagado pela dor, minha cabeça rodopiando e minha visão embaçada pelas lágrimas. Preferia ter levado milhões de tiros do que sentir isso que sinto agora.

Não... Não... Não... Minha Soraya não, por favor, não...

Tomei fôlego e soltei os soluços que suplicavam pela sua saída, balancei seu corpo imóvel repetidas vezes esperando uma mínima reação, mas seus lábios pálidos assim como a pele faziam tudo doer ainda mais.

- Soraya! - Chamei seu nome enquanto tocava sua bochecha gelada.

- SORAYA!

- VOCÊ PROMETEU NÃO ME DEIXAR! - Gritei sentindo a dor em meu peito aumentar.

- VOCÊ DISSE QUE ESTARIA SEMPRE AO MEU LADO PARA ME GUIAR. - Solucei. - EU IREI ME PERDER SEM VOCÊ. Não me deixe...

Deitei sobre seu corpo imóvel sentindo seu cheiro de jasmine confortar o mínimo possível o buraco feito em meu coração.

- Por favor... resista. - Senti braços me ampararem.

O som das sirenes da ambulância soaram pelo local enquanto eu chorava com mais intensidade nos braços de quem quer que estivesse me consolando no momento, mesmo que isso seja em vão já que apenas a voz doce de Soraya preenchendo meus ouvidos novamente iria me trazer paz e consolo.

Você não pode me deixar, Sweet ...

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora