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Simone Tebet

- O que está acontecendo aqui? - Perguntei perplexa ao ver Soraya sentada diante à mamãe.

- S-Simone, eu... - Levanto a mão lhe interrompendo.

- Já para o quarto. - Ordenei e ela logo tentou argumentar. - Agora!

Rapidamente a loira de olhos cor de mel passou por mim de cabeça baixa e seguiu caminho para o andar de cima. Estava a ponto de soltar fumaça pelo nariz de tanta raiva, Soraya havia passado dos limites. Se nunca lhe contei sobre minha mãe é porquê não era para ela saber, aí ela aparece no quarto dela pela minha costa.

- E você? Não vai falar nada? - Pergunto à mais velha que molhava o pincel em uma pequena poça de tinta em sua aquarela.

- O que quer que eu fale?

- Talvez o porquê dela estar aqui? Ou o porquê de você não ter me contado?

- Iria fazer diferença? De uma forma ou outra você iria ter a mesma reação descontrolada que acabou de ter. Soraya estava apenas me fazendo companhia, Tutti. Você está fazendo um furacão onde nem água tem, e depois vai subir para aquele quarto e vai falar coisas à aquela garota que com certeza se arrependerá depois e vai voltar aqui pedindo por conselhos que eu não irei lhe dar. - Rebateu aumentando seu tom e largando o pincel com força sobre a mesa.

Eu a olhava pasma, mamãe nunca havia levantado a voz para nenhum de seus filhos, não trocava mais que cinco palavras por dia e agora... havia jogado uma redação sobre mim.

- Eu... - Engoli seco.

- Você vai agora conversar com ela sem gritos, sem quebrar nada, sem magoa-la e tenho certeza que ela vai lhe explicar tudo com calma.

- As coisas não funcionam bem assim, mamãe. - Gruni impaciente.

- Quando ela chegou aqui mais cedo, se desculpou por não ter vindo com frequência, disse que havia acontecido algumas coisas que a impediram e decidiu esperar a poeira baixar. Pensa que eu não sei que você foi o motivo? Pensa que eu não vi o machucado na cabeça dela? Sinceramente nem sei como ela ainda está aqui, como mesmo depois de tudo ela continua perdoando todas as suas burradas, porquê me perdoe mas se fosse eu no lugar dela eu já teria fugido daqui, nem que isso custasse a minha vida.

Cada palavra era como um soco em meu estômago, o fato de ser minha mãe dirigindo aquelas palavras à mim era o que mais doía, porquê eu sabia que ela não estava mentindo, ela nunca mente. Enquanto ela falava flashbacks de todas as coisas ruins que fiz à Soraya passavam por minha cabeça e o sabor amargo em minha boca aumentava conforme suas palavras.

Eu também teria fugido...

Eu também teria me abandonado.

Eu também teria desistido.

Eu também arriscaria minha vida para ficar longe de mim mesma.

Sai do quarto como um flash e subi as escadas depressa. Quando cheguei à porta de seu quarto a encontrei sentada em sua cama, encolhida, agarrada aos joelhos como se aquilo fosse o bastante para lhe proteger, lhe proteger de mim...

Eu era o monstro.

O demônio que pertubava aquele anjo.

O maior medo dela.

Suspirei pesado me aproximando da cama e me sentando na ponta sem coragem para encara-la. Quem diria... Simone Tebet sem coragem para algo... talvez porquê ela era a única capaz de me fazer sorrir, ou de ficar com raiva de mim mesma, de odiar cada parte do meu ser, e agora, de colocar ela acima de qualquer punição.

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora