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Simone Tebet

Ela estava certa? Eu mesma poderia me machucar?

Talvez sim, vendo o que aconteceu. Eu havia travado uma guerra entre a Simone que sabia a coisa certa à fazer com meu outro eu, que suplicava para eu o escutar e não machucar Soraya, ele perdeu.

E o pior é que eu me sinto uma completa fracassada e perdedora por chegar naquele ponto. Enquanto ela se debatia em meus braços, implorando por ar, meu eu que ela tanto amava gritava para solta-la, mas quem estava no controle era a Simone impiedosa, ela percebeu que havia ido longe demais quando o fraco corpo da morena caiu em seus pés fazendo sua cabeça colidir contra a ponta do rodapé, com o sangue começando à aparecer.

Foi aí que a Simone de mais cedo tomou o controle, sentiu os olhos arderem ao levantar a menina desmaiada por sua ação estúpida, não conseguia acreditar que depois de anos, ela estava se permitindo chorar, sentindo a culpa corroer qualquer resquício de superioridade e bravura, restando apenas uma Simone arrependida.

Tomei as rédeas e chamei um médico até aqui. Ele cuidou do machucado na cabeça de Soraya, passando alguns remédios e a enfaixando. Eu a observei deitada sob sua cama praguejando todos os xingamentos possíveis, torturando à mim mesma como forma de sofrer o mesmo que Soraya, ou mais.

Meus irmãos atenderam ao meu chamado e vieram correndo na manhã seguinte para avaliar a alemã  desacordada. Não consegui pregar os olhos nem por um segundo, sentia a culpa fluir por minhas veias.

Não precisava de lições de morais no momento, então apenas inventei que ela havia caído da escada. Nilo descobriu a verdade, por Soraya provavelmente, e quase avançou para cima de mim, com seus olhos fulminantes. Eu sabia que Soraya agora era como uma irmã para o mesmo.

Foi interrompido com a voz fraca de Soraya chamando por ele, ela estava parada na porta se segurando nas laterais da mesma. Me senti ainda pior, cada segundo que se passava eu me sentia um lixo, a raiva de mim mesma havia controlado qualquer vestígio de humanindade que havia em mim, e o resultado foi isso.

Depois que foram embora, me dirigi até o quarto de Soraya e me aproximei de sua cama para observar mais perto seu rosto sereno ao dormir. Me desculper por perder o controle e suas pálpebras tremeram, ela estava acordada.

Me afastei e segui até o outro lado de seu quarto ficando diante da janela encarando o jardim sendo molhado pelo jardineiro. Escutei sua voz segundos depois e uma discussão se iniciou, ela saindo ganhando como sempre.

Soraya parecia estar entendendo à mim mais do que eu mesma e isso me deixou assustada. Não descia o fato de eu estar apaixonada, soava como uma piada para meus ouvidos.

- Talvez esteja certa, Soraya. Eu mesma sou a culpada por ser quem sou hoje, e não quem me machucou. Fora eu quem decidiu não ignorar, fora eu quem apertei seu pescoço.

- Sim, foi você. Não acha que ainda tem tempo para mudar?

- Esse é o problema, Soraya. Eu não sei como mudar, o meu eu idiota e controlador sempre prevalece e graças à ele não tenho ninguém além da minha família. - Aumentei meu tom irritada.

- Está vendo? Você nem ao menos se esforça! Parece gostar disso. - Acusou.

- Eu gosto porquê é a única saída. Tantas pessoas já tentaram me fazer mudar, e todas desistiram. Por que diabos você não faz o mesmo? Isso tudo é apenas uma perda de tempo! - Falei apontando o dedo em seu peito.

- Eu já disse que não vou desistir, Simone. Mas eu preciso que você colabore e se realmente quer tentar ser alguém melhor, comece tentando entender à si mesma. - Falou me encarando. - Precisa saber controlar o tempo de usar a Simone impiedosa e o de usar a Simone calma e passiva.

- Por que está fazendo isso? - Perguntei baixo, respirando fundo.

- Porque você me salvou um vez, agora é minha vez de retribuir. Mesmo com sua postura estúpida, eu ainda gosto de você e sinto que só precisa de alguém que não desista. Não quero que mude, são seus defeitos que a fazem ser quem é, preciso apenas que saiba se controlar, isso será o bastante para mim. - Falou se aproximando.

- Você é uma droga. - Murmurei. - Mesmo depois de tudo, de quase ter te matado ainda vem me ajudar. O que quer em troca?

- Você feliz. - Suspirou.

- Eu conheci a felicidade quando fiz cócegas em você essa manhã. Você rindo, sem ter medo de mim. - Falei olhando no fundo de seus olhos.

- Não tenho medo de você, tenho medo de seu auto-controle.

- Tentarei por você, e para você. - Falei e ela sorriu.

- Eu sei.

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora