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Soraya Thronicke

Havia acabado de tomar um demorado e relaxante banho. Murmurei um palavrão ao ver que eu havia esquecido de trazer minhas roupas para o banheiro. Gruni e bufei abrindo a porta e seguindo até as minhas vestes jogadas em cima da cama.

Ouvi um som de tranca e pulei assustada ao ver a porta se abrir. A situação apenas piorou, os olhos castanhos que me encaravam pareciam surpresos e proveitantes. Me senti arrepiar com a intensidade daquela vistoria desconcertante, cocei a garganta para chamar sua atenção, que continuava com os olhos vidrado em apenas uma direção. Parece ter funcionado, já que ela desviou o olhar rapidamente e adentrou o cômodo jogando indelicadamente a bandeja com comida em cima da mesinha próxima a porta e saiu entre passos largos.

Meus ombros logo relaxaram sem eu nem mesmo saber em que momento ficaram daquela forma. Respirei fundo e recolhi as peças sob a cama e voltei rápido para o banheiro antes que mais alguém abra a porta e me veja nessa situação no mínimo constrangedora.

Ao termimar de me vestir, peguei a bandeja que Tebet havia deixado e segui até a mesa com cadeira que havia próxima á janela. Sentei-me e comecei a comer, devo admitir que a comida de Irina era a melhor que eu já havia provado, apenas em ter tempero ganhava fácil da comida que nos serviam lá em casa. Lembro de todas as vezes em que Ana fingiu comer para depois que mamãe saísse ela jogasse tudo fora, era insuportável. E para matar a fome, na madrugada pedíamos fast-foods para todos e comíamos escondidos. Era hilário.

Quando terminei a refeição, deixei a bandeja de lado e peguei um livro que havia achado em baixo da cama e comecei à ler. Foram lidas por mim vinte páginas até baterem na porta. Deduzi ser Irina para recolher a bandeja e os talheres do almoço. Dei permissão para entrar e continuei entretida com o livro.

- Sua ingrata, eu vim aqui apenas para te ver e você me dá a costa assim? - Arregalei os olhos e virei-me de supetão para trás.

- Silvana! - Corri e pulei em seus braços.

- Calma aí, você é pesada. - Reclamou. Não dei ouvidos, apenas a apertei ainda mais.

- Como você entrou aqui? Ficou maluca? Se a Srta.Tebet lhe pega...

- Fui eu quem a trouxe. - Aquela voz rouca e embriagante preencheu o cômodo. Meus olhos se encontraram com o seus e automaticamente minhas bochechas coraram pelo acontecido horas atrás.

Após dizer isso, saiu e fechou a porta, a trancando em seguida.

- Todos sentimos sua falta, Sory. Ana tem perguntado de você, papai dá a desculpa de que viajou para fazer a faculdade que sempre sonhou, mas essa desculpa não lhe desceu muito bem. Sabe como ela é...

- Impulsiva e problemática, eu sei bem.

- Se ela souber que está presa aqui com essa morena azeda ela vai surtar e provavelmente causar problemas para você. - Ela disse. Tive de concordar.

- Queria estar com vocês. - Sorri triste.

- Você faz falta, Sory. Mamãe e papai estão sempre brigando por causa do que ele fez, se continuar assim Ana vai saber da verdade rapidinho. - Avisou me encarando com pena.

- Estou tentando um jeito se sair daqui, mas tudo parece ser à prova de fuga. - Comentei desanimada.

- Acho que nesse ponto, você já não tem mais escapatória. Queria muito que voltasse para casa, mas sabemos bem com quem estamos mechendo. Não é um joguinho de video-game que se você é pega, acaba morrendo e revive para tentar de novo. Se ela lhe pegar fazendo algo, não terá volta, sabe disso.

- Eu sei... - Senti meus olhos pinicarem.

- Não chore, vai dar tudo certo. - Me puxou para seus braços enquanto me permiti chorar à vontade. - Aliás, tenho que lhe contar algo...

- Diga, diga.

- Serei a próxima... - Sua voz saiu à um fio. A tristeza e medo era presente em seu tom fraco.

- O quê? Não, você não pode... Papai não pode fazer isso com você. Estava trabalhando, não estava? - Perguntei desesperadamente.

- Estava... mas fui demitida. Ele soube e ficou muito bravo, disse que me levaria para o leilão próxima semana. Não tenho escolha... sabe o que acontece caso o contrariarmos.

- Eu sei bem. - Senti meus olhos pinicarem.

Ouvi a porta bater, sinal de que Tebet estava de volta ao cômodo. Infelizmente.

- Precisa ir. - A loira avisou à Silvana. Apenas agarrei minha irmã ainda mais forte e aumentei a intensidade das lágrimas por ter que deixa-la, mais uma vez.

- Vai ficar bem, certo? Me prometa. - Sua doce voz pediu, secando minhas lágrimas com os polegares secos.

- Eu prometo. Diga à todos que sinto falta deles... muita. - Pedi.

- Irei dizer. Eu te amo.

- Eu te amo.

E ela se foi junto da morena.

Eu precisava mais que nunca dar um jeito de sair daqui. Não podia deixa-lo fazer aquilo com Silvia , foi sempre a garota mais esforçada e obediente, que colocava o bem-estar dos outros acima do próprio, ela não merecia...

Me joguei na cama e chorei... até não aguentar mais e dormi.

...

Levantei-me em um supetão, assustada com o estrondo da porta. A Tebet sentou-se de frente para a minha cama, na poltrona cor creme e encarou-me com sua sobrancelha franzida.

- A princesa acordou. - Disse debochada.

- Por que trouxe Silvana aqui? - Perguntei ríspida.

- Para lhe ver. Sabia que estava com saudade dela. - Sorriu irônica.

- Sei que não foi esse o motivo. Fala logo. - Ameacei.

- E se eu não disser? Vai chorar? - Questionou com um sorriso de canto.

Não respondi. Não iria lhe dar o gostinho do desespero, nunca. Apenas revirei os olhos e continuei a encarar suas íris castanho .

- A trouxe porque sabia que você iria se corroer de dor assim que ela fosse embora. E eu amo ver as pessoas sofrerem, já disse isso antes? - Disse, mordendo o lábio inferior.

- Você não vale nada. Subornando as pessoas com a própria família? Que baixo, Tebet . - Sorri provocando, e o sorriso convencido da loira logo morreu. - Eu te odeio tanto.

- Deveria me agradecer por ter te tirado daquele inferno. - Falou se lavantando.

- Me tirou daquele inferno e me trouxe para outro, que ironia. Queria que nem tivesse aparecido lá, eu com certeza estaria bem melhor longe de você. Estaria livre, e com minha família.

- Não diga o que não sabe, Thronicke. Você está bem melhor aqui, pode ter certeza.

- Qualquer lugar seria melhor do que ao seu lado. Pode ter certeza. - Eu disse e fui surpreendida com algo se chocando contra meu rosto.

Abri os olhos incrédula, sua mão estava levantada e já adquirido tonalidade vermelha assim como meu rosto que já se encontrava dormente.

- Nunca, em hipótese alguma me subestime, Thronicke. Quando eu disse que você está bem melhor aqui do que com aqueles velhos nojentos, eu não estava mentindo. - Falou com sua voz fria e carregada de raiva. Saiu do cômodo e bateu a porta com força.

Meus soluços vieram à tona segundos depois. As lágrimas inundavam meu rosto e o gosto salgado já chegava em meus lábios. O ardor na minha bochecha direita apenas aumentava à cada fungada.

Vai se fuder, Tebet .

A Chefe Da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora