22° capítulo

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Abri a porta do apartamento e segurei Luna pela cintura lhe ajudando a entrar em casa, olhei pro lado observando a expressão de dor em seu rosto

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Abri a porta do apartamento e segurei Luna pela cintura lhe ajudando a entrar em casa, olhei pro lado observando a expressão de dor em seu rosto. Caminhamos no ritmo dela até o sofá onde eu ajudei-a a se sentar.

—Eu preciso comer algo que não seja comida de hospital—Ela se ajeita no sofá e pega o celular—Nem sei o que eu mais quero comer.

— Eu preparo algo pra você—Luna me olhou e balançou a cabeça em negativa.

— Não precisa, jante deu trabalho demais—Me sentei ao seu lado e lhe encarei.

— Você não me deu nenhum trabalho Luna—A morena baixou o olhar—Fiz porque me preocupo com você e seu também que você não pode sair por aí fazendo mil coisas ao mesmo tempo. Você tem que descansar e se recuperar.

—Obrigado—Evitei a expressão de surpresa, eu não esperava tanta gentileza— Não sei como agradecer.

Ao ouvir isso uma possibilidade me surgiu a cabeça.

—Eu sei como você pode me agradecer—Ela me olhou—Me conta sobre você, eu sei uma parte, mas acho que tem mais coisa, não?—Luna balançou a cabeça em positivo e eu sorri levantando do sofá—Quer ir lá pra cima, ou vai ficar aqui mesmo?

—Vou ficar aqui por enquanto, pega só o meu notebook—Ela apontou para o raque da tv—Na segunda gaveta.

Depois de lhe entregar o aparelho eu fui pra cozinha, Luna não tinha tantos ingredientes ali, só o básico mesmo. Comecei fazendo arroz branco mesmo, depois preparei uma salada de tomate, alface e brócolis, fiz também um peito de frango que estava na geladeira, fiz grelhado mesmo. Por último, preparei um suco.
(...)

—Ta muito bom—Luna disse levando mais um pouco de frango até a boca—Delicia!

Eu sorri enquanto comia, em alguns poucos momentos eu conseguia ver uma mulher diferente diante de mim, mas geralmente ela voltava muito rápido para a mulher casca dura de sempre. Luna me intriga demais, pois eu sei que tem várias versões ali dentro. E eu só preciso que ela me mostre uma dessas versões, já estaria feliz.

— O que foi?—Indagou franzindo a testa.

—Pensando em todas as suas versões—A mulher a minha frente baixou o olhar e voltou a atenção totalmente para o prato—Como veio para os Estados Unidos?

—Hum…meu pai era dono de uma pequena fazenda de café em Medellín, mas eu meio que era a filha rebelde—Abri um sorriso pensando que ela devia ser bem difícil quando mais nova—Brigava muito com eles e quando fiz dezoito não perdi a chance de sair de lá e estudar fora, aí vim pra cá…

—Hum, deve ter várias histórias por aqui né—Brinquei vendo-a sorrir e erguer a sobracelha.

—Em nenhuma delas eu coloquei um piercing na boceta—Abriu um sorriso meigo— Como você teve coragem?

—Estava na Tailândia—Falei bebendo um pouco do meu suco—Tinha bebido um pouco, acho que foi em dois mil e dezoito que eu coloquei, bebi pra cacete e passei em frente a um estúdio, aí eu fui lá e fiz, no dia seguinte quando fui mijar no banheiro me deparei com aquele negócio no meu pau—Ela gargalhou e eu acabei rindo—Mas eu gostei, tive que ficar duas semanas sem transar, mas quando rolou foi uma delícia—Luna me olhou por algum segundos e balançou a cabeça.

—Eu fiz uma tatuagem na bunda—Confessou— Eu enchi a cara numa festa de república e fiz, mas depois me arrependi e apaguei.

Eu não queria, confesso, saber sobre a faculdade dela nem a época de universitaria, e sim sobre o marido e o filho, ou filha que teriam. Mas tinha medo de perguntar e sei lá ela começar a beber como fez da última vez.

—Pode perguntar—Lhe encarei—Prometo tentar não me abalar tanto, você tem me ajudado e acho que pode ser bom eu falar isso com alguém—Ela suspirou depois de dizer isso e largou o garfo—So queria subir, podemos falar lá encima?

—Claro—Falei dando a última garfada na comida.

Me levantei e deixei a louça na pia, não podia enrolar muito se não ela ia mudar de ideia. A ajudei a levantar de cadeira e seguimos para o quarto. Luna estava andando bem devagar, pois não conseguia ficar completamente ereta, ela estava andando meio curvada por conta das dores. Lhe ajudei a sentar na cama e sentei na beira vendo ela puxa rum lençol e se cobrir.

—Na segunda gaveta tem uma coisa—Falou—Pega pra mim?—Abri a gaveta da mesa de cabeceira e vi duas coisas, a primeira parecia um álbum de fotos e era um cordão de militar com o nome que eu acreditava ser do ex marido dela—O álbum..

Lhe entreguei o pequeno caderno e ela me olhou.

—O nome dele era Bryant—Ela sorriu abrindo o álbum e me mostrando uma foto dele, de farda, sério—Conheci ele nova, foi uma loucura, porque em meses a gente já morava juntos. O Bryant me mudou muito, antes de conhecer ele eu era bem doidinha, só pensava na faculdade e em arrumar alguém pra trepar, aí ele apareceu e tudo que eu tinha vivido antes simplesmente não fazia mais sentindo. Ele era o meu oposto, ele era sério, todo responsavel—Percebi que os olhos dela brilhavam, e não eram lágrimas, era um brilho diferente o que deixava claro que Luna não deixou de amar ele nunca— Me apaixonei, quando terminei a faculdade a gente casou e eu vivi os melhores anos da minha vida. Sabe…eu era outra pessoa, Daniel. E não foi ele quem me mudou, aquela era eu de verdade, na minha mais pura essência, sem querer preencher alguma coisa dentro de mim, porque eu já estava cheia de amor.

Era incrível ver essa pessoa na minha frente, não era a Luna que apareceu no meu escritório no primeiro dia de trabalho, não era mais aquela pessoa de olhar implacável e fria. Era uma mulher mulher cheia de sentimentos, calorosa. O que me deixava bem claro que tudo não passava de uma armadura dela mesma pra não lhe machucarem mais. Eu jamais conseguiria mensurar toda a dor que ela sentiu, todo o sofrimento que foi obrigada a aguentar, mas agora era uma questão de honra, eu faria a vida dela nem que fosse um pouco mais leve.

—Ele era mais novo que você?—Indaguei e ela assentiu.

—Era, três anos. Nosso casamento—Olhei a próxima foto e sorri vendo ele a abraçando de lado, Luna com o cabelo mais curto e um sorriso tão lindo no rosto, era um casamento simples, sem muitos luxos e nem muita gente—Nos queriamos muito ter um filho—Eu ergui o olhar—Tentamos por um tempo até que o positivo veio—Algo no olhar dela mudou, o brilho sumiu, dando lugar a um olhar escurecido e eu temi que tivesse alguma crise—Amei a minha filha antes de saber da existência dele—A vi fungar e passar a mão no nariz—A gente ficou muito feliz, com seis meses ele teve que viajar em missão, eu passei dois meses e meio sozinha—Ela parou de falar e olhou fixamente para ao chão—Um dia foram até minha casa e dizeram que houve uma explosão…e ele não sobreviveu…

—Eu sinto muito, Luna—Digo vendo uma lágrima escorrer pela bochecha dela—De verdade…

—Eu fiquei nervosa e depois tive pré-eclampsia. Eu não lembro de nada depois só que acordei e ela não estava mais aqui—Tocou a própria barriga—As vezes eu ainda sinto ela, penso que ela já estaria com cinco aninhos e…

Lhe abracei apertado e deixei uma lagrima cair. Era muito coisa para uma pessoa só passar, ainda mais sozinha, pelo que ela me contou não tem muito contato com os pais, e pelo pouco que conheço dela, deve ter lhes afastado ainda mais.

— Eu estou aqui com você—Ela se afasta e me olha—Mesmo, Luna. Eu tô aqui com você…

Ela sorriu passando a mão pelo rosto. Eu sabia que agora teria a chance, mesmo que mínima de ajudar ela.

LUNA E DANIEL- livro 4"Série Filhos" Onde histórias criam vida. Descubra agora