Abrázame

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Existem vários tipos de abraços. Os que sufocam, os que apertam, os que aconchegam, os que salvam... Os abraços são uma manifestação de proteção e uma das formas mais fáceis de saber quando algo é honesto. Na despedida, eles selam o adeus. Na chegada, são as boas vindas. No choro, consolam. E na carência, abrigam. Não há forma de um abraço ser fingido, a gente sente pela forma que as pessoas nos envolvem quando elas estão sendo sinceras. Nos mantém firmes e em pé, mesmo quando tudo ao nosso redor se desmorona. Mas o problema do abraço é que eles curam, mas quando faltam, enfermam.

O que as palavras podem destruir em pequenos pedaços, um abraço pode juntar. De alguns, principalmente dos que não voltamos a sentir, a gente nunca esquece. Outros chegam e tentamos, mas no final, aceitamos que é melhor desistir de procurar. Aceitamos que, não importa quão nômades nós somos, ou quão livres almejamos ser. Sempre há um abraço que faz-nos sentir em casa.

Quanto mais forte Lauren a abraçava, mais tempo Camila tinha de pensar em tudo que havia acontecido naqueles últimos dias. Porém, naquele momento, a fragrância forte e o calor corporal de Lauren não a acalmaram. Pelo contrário, fez com que a latina por fim entendesse tudo que estava acontecendo: ela estava viva. Viva. Como?

Camila a empurrou com força, assustando a morena que não entendeu aquele ataque repentino. Ela enxugou as lágrimas e com toda a raiva e força que tinha, avançou na mulher distribuindo socos e tapas em cada parte livre que encontrava.

- Hija de puta! Cómo pudiste? – gritava entre o choro. Lauren tentava se esquivar, algumas pessoas que circulavam pela praia olhavam assustadas procurando pelos gritos, deixando-a ainda mais nervoso. O que ela menos precisava naquele momento era chamar a atenção de alguém.

- Camila, vamos conversar, por favor! – sussurrava entre as tentativas de desviar os golpes, mas ao ouvir aquele pedido, como se fosse um assunto banal a se tratar, Camila ficou ainda mais possessa e a empurrou, dando meia volta e fechando a porta com força quando Lauren tentou entrar. A rainha deu um passo atrás e suspirou, apoiando a testa contra a porta. Aquilo seria mais difícil do que ela pensava. Respirou fundo e levou a mão à maçaneta. Entrar ou dar meia volta? Era uma daquelas situações na qual "se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come". Ela estava fodida de todas as formas, e quanto antes explicasse seus motivos, antes poderia acalmar a fera. Ou não. Respirou fundo e abriu a porta devagar. Tudo ainda estava escuro. Lentamente, colocou a cabeça para dentro da casa, quando uma porcelana atingiu a parede, a milímetros de seu rosto. Fechou a porta a tempo de ouvir mais um barulho de algo quebrando contra a porta. É, não seria fácil. O silêncio voltou a se fazer presente, e ela tentou novamente sua entrada, desta vez abaixando-se apenas por via das dúvidas. Com a metade do corpo para dentro, não havia nenhum sinal do inimigo. Já dentro da casa, encostou a porta e esperou alguns segundos sem respirar, não fosse o caso que Camila sentisse seu medo. Três segundos sem movimento algum, suspirou. Uma má decisão. A luz se acendeu apenas para que um abajur a acertasse com tudo. – Camila! – graças aos reflexos que adquiriu nos esportes que praticava, o braço direito a ajudou a tempo de proteger sua cabeça, mas a dor não era menor por isso. Esfregando os braços tentando aliviar o incomodo, a morena observava como a latina arremessava mais um jarro nela. Lauren, vendo que a decoradora tinha algum tipo de obsessão com jarros e abajur, e que aquilo ia acabar despedaçado no chão, correu para detrás do sofá. – Camila, isso não é racional! Por favor, deixa eu te explicar! – gritou desde sua zona de conforto, vendo um prato chinês acertando a parede a sua frente, e os cacos sobre sua cabeça.

- Racional? Agora você quer ser racional, malparida? – a latina gritou desde outro ponto. – Olha como estou sendo racional! – outro objeto, que Lauren não saberia identificar, alcançou a parede.

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