Noche de entierro

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O erro mais comum do ser humano é achar que precisa de "algo mais" para ser feliz. Nunca está completo, sempre há um "e se..."; "mas...".

Esperamos o verão durante o ano todo porque é a melhor época; a semana toda pela sexta porque é o melhor dia e a vida toda para ser feliz porque pensamos que é no final onde a encontraremos, como o baú de ouro no final do arco-íris.

Parece que por muito que nos esforcemos sempre há algo que falta, um vazio por dentro que nada, nem ninguém, conseguem preencher. Dizem que sempre há um tempo, no passado, onde havia felicidade. Então, como já citado, depositamos nossas expectativas no futuro. Entregamos a ele a responsabilidade de mudar nossas vidas, a esperança de encontrar esse "algo" que preencha o vazio, e não percebemos que enquanto isso perdemos o presente. Quando é o futuro? Como saber que esse momento é o momento? E se quiséssemos nosso futuro amanhã? São momentos. Instantes. Mas estamos acostumados a derrota, a frustração, a sempre ir pelo caminho mais fácil. Ou simplesmente deixamos de tentar para não passar por outra decepção, ou no pior dos casos, não decepcionar.

Acho que no final das contas somos aquilo que somos, entende? Algumas cicatrizes, uma alegria ou outra, uma pitada de saudade e um punhado e sonhos por cumprir. E somando tudo, acabamos construindo o que a gente chama de vida. Sabendo que o que aconteceu no passado, independentemente da lembrança que deixou, tem muito a ver com o que somos hoje. Que podem existir mil histórias detrás de um silêncio, e por isso não devemos medir o caráter das pessoas pelos erros que cometeram ou por opiniões alheias, muito menos medir felicidade por sorrisos – pelo menos até decifrar a ausência das palavras –. E seguir em frente, sempre. Tudo passa, tudo volta. Seguir caminhos diferentes é o de menos nesse mundo tão redondo e pequeno. No final, tudo acaba se encontrando. A gente acaba se encontrando. Mas não há tempo que perder. Às vezes a vida da uma louca e meio que muda o roteiro. É importante não ter nenhum arrependimento ou conta pendente. Dizer tudo que sentimos, perdoar, pedir perdão, ser honestos... antes que seja tarde demais.

Por isso é importante sonhar, fugir do tempo, se perder... Viver para crer, mas principalmente crer para viver. Quando tudo estiver no momento de acontecer, assim será, não é mesmo? Sem pressa, um pé de cada vez porque bonito mesmo é o caminho, chegar ao final, olhar pra trás e dizer: valeu à pena. Depois de tudo, se vemos a mesma lua, não estamos muito longe.

***

O celular de Veronica tocou freneticamente durante aquele dia, obrigando-a a ir de encontro a uma cabana escondida no meio da ilha. Pelo que as mensagens diziam, Lauren tinha um grande problema e precisava dela. Mas quando a mulher chegou ao lugar estava tudo... tranquilo. Uma música suave parecia tocar dentro, panelas e pratos soavam. Cozinha. Entrou correndo e quase sem ar, apenas para encontrar com uma Lauren que ela nunca tinha visto antes. Cabelo preso em um coque, roupa de ioga e as mãos sujas de... comida? Recipientes sobre a mesa, o fogo ligado e papeis sobre a bancada. Aquilo só podia significar uma coisa, e talvez Vero tivesse mais medo de perguntar do que do arsenal que o Embaixador escondia.

- Você vai cozinhar? – perguntou com cautela, observando os gestos da amiga.

- Finalmente! – Lauren disse colocando as mãos pra cima. – Qual o problema? – Veronica estava com o cenho franzido.

- Todos? – disse com um sorriso amarelo, fazendo a amiga revirar os olhos. – Você nunca nem sequer fritou um ovo!

- E daí? Internet tem a solução pra tudo!

- Eu pensei que você estava morrendo ou com uma bomba amarrada à cintura! Qual a maldita emergência? – cruzou os braços e começou a balançar a perna direita. Sempre fazia isso quando estava nervosa ou impaciente.

L A U R E N Where stories live. Discover now