Inevitável desastre

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Eu sempre fui mais de praia, calor e aconchego. Tenho aversão ao frio, ao cinza... à distância. Sempre gostei de pensar que em uma mesa de bar, com algumas cervejas e entre risadas, eu poderia solucionar todos os problemas do mundo com meus amigos.

Procuro manter uma distância saudável entre meus demônios internos e as pessoas que conheço. Quero dizer, sempre tem essa pequena parte de nós que nem todo mundo está disposto a entender... A conhecer sem julgar, não é mesmo? Todo mundo têm passado, e já não há mais segredos. Por isso eu prefiro o aconchego do meu silêncio, não quero me arriscar a acordar esses monstros. Mas esse silêncio, ele não para de gritar. E de repente é como se todos os erros, más decisões e arrependimentos, criassem vida e apontassem pra mim dizendo: a culpa é sua! E a terrível dor da perda, do arrependimento... Essa dor que ninguém consegue sarar, exceto o tempo. Mas não sou mais aquela criança que se protegia dos monstros com o lençol, e descobri que meu maior inimigo está logo ali, refletido no espelho. Mas se tem uma coisa que eu aprendi sobre a vida, é que ela segue.

Ah... mas eu já me apaixonei por um sorriso e senti meu coração despedaçar por uma lágrima que não era minha – antes fosse. Já acreditei em super-heróis e quis viajar no tempo. Já chorei até pegar no sono e já passei o dia todo na cama pensando que morreria de amor, mas quando o dia amanheceu eu percebi que a dor é uma das provas de que somos humanos; que ninguém é insubstituível e que o amor é o mais belo dos desastres, como uma catástrofe. Que chega e devasta tudo que encontra pela frente. E quando vai embora, você entende por que todas as tempestades têm nome de pessoas.

Já desejei que o tempo parasse apenas para que eu pudesse reunir os retalhos do meu pobre coração, que sempre acaba pagando pelas consequências da minha falta de valor, mas o tempo não parou. E eu também aprendi que isso só podia significar uma coisa: qualquer problema, por maior que seja, sempre é pequeno comparado aos problemas alheios. Que mais um dia pode ser uma condena pra quem não sabe aonde quer chegar, e uma bênção pra quem tem esperança. Que o mundo gira, e não há nada mais certo do que isso.

Mas o que aconteceu, tempo? Você não curava tudo?

E o tempo, sábio e filho da puta, responde: eu disse felizes para sempre, mas quem disse "juntos"?

Também,já fechei os olhos ao ver uma estrela cadente e antes de assoprar uma vela; já pedi aos céus que alguém voltasse... mas a estrela se perdeu, a vela queimou e eu acabei desistindo de esperar.

Já suportei mais "adeus" do que meu coração estava disposto a presenciar, e aprendi assim que nada é eterno. Nem a dor.

Já tive que aceitar um "espero que ninguém te faça a metade do que você me fez", e a dor de um silêncio eterno em vez de uma desculpa a tempo.

Já pensei que era o fim quando na verdade era apenas um recomeço. Já dormi com o celular na mão esperando por uma mensagem que nunca chegou. Já quis ser invisível e fugir dos problemas, mas quanto mais eu corria, mais perto eles chegavam. Até que um dia cansei e simplesmente aceitei a companhia em minha caminhada. Já amei quem não me amava e não soube amar quem me amou. Ironias da vida, disse minha mãe.

Já rezei quando não sabia mais o que fazer, e fui atendida. Outras, não tive tanta sorte.Mas nem por isso perdi a fé. A gente também acredita no amor sem vê-lo, e nem por isso desistimos no primeiro fracasso. Mas há quem sim... uma pena. Ninguém deveria ter tanta influência em nossas vidas para nos fazer desistir de algo tão nobre.

Já pensei odiar algumas pessoas e acabei percebendo que meu tempo era precioso demais para perdê-lo dessa forma. Que o rancor é como tomar veneno e esperar que o outro morra. Um suicídio.

L A U R E N Where stories live. Discover now