L A U R E N

Crônica de uma morte anunciada

*Olvidalo: esquece

'Adeus' não é nada fácil de dizer. Não quando cada canto de um lugar guarda o pedaço de alguém, uma lembrança, um momento, um cheiro... O veneno do silêncio traz os estágios da dor: negação, sofrimento e resignação. Como aceitamos as decisões da vida quando ela não concorda com as nossas? De quem é a culpa da injustiça? Há coisas que a vontade humana não é capaz de controlar. Assim como há coisas... pessoas, que o coração se nega a esquecer. Tendemos a pensar que isso é uma espécie de castigo, mas há coisas que o coração entende que a razão não consegue explicar. Porém, a razão quase sempre nos livra dos sofrimentos, enquanto o coração só quer se arriscar. Mas o coração é sábio, apesar de teimoso. E às vezes ele sabe de coisas que até o diabo duvida. Antes que qualquer um, ou até mesmo antes que a própria razão entenda, o danado já bate apressado avisando. Quando ele aperta, é saudade chegando. Quando ele acelera, é alguém se aproximando. Quando há medo, ele quer fugir. Quando todos duvidam, ele afirma. Quando a gente quer esquecer, ele lembra. E quando a gente quer desistir, ele traz esperança. Tolos os que não aceitam seus conselhos e insistem em nadar contracorrente. Todos resistem, mas no final, ele sempre vence. Não é mais fácil, pois, ouvi-lo desde o começo? Mesmo quando a razão grita "é o fim, aceite", ele guarda um último suspiro para tentar outra vez. Talvez porque no fundo ele sabe que o final não é assim. Não deve ser assim. Não quando ele lutou tanto para que acreditassem nele.

Calma, coração. O que você une, nem o homem nem a morte, separa.

***

Camila estava tão obcecada em entender o que estava acontecendo que sequer olhou pra frente. Ninguém estava tão obcecado pelo seu perfume como ela. Duas rosas negras e as duas com gotas de Chanel nº5. Os bilhetes com palavras que só elas duas entendiam o significado. Ou era uma brincadeira de mau gosto ou...

Que a rosa negra representa separação, tristeza, morte e devoção, Camila já sabia. Seu pai desde que ela era pequena explicava os significados ocultos em alguns objetos usados nos livros, assim como a aparição e descrição de alguns deles em momentos que não tem nada a ver, aparentemente. Mas o que ela descobriu depois foi que em palavras, a rosa negra significa: "você é minha até o final".

O pouco que ela conseguia relacionar era que tudo aquilo era no mínimo estranho. Mas já havia tomado uma decisão e por mais que tudo gritava a ausência, seu coração batia cada vez mais depressa. Talvez as rosas fossem um sinal. Talvez seu coração estivesse entendendo algo que ela não. Ou talvez ela não quisesse se resignar e estava ficando louca. Talvez.

Quando o Audi parou, a porta foi aberta revelando uma Ally confusa ao encontrar Camila tão concentrada na rosa que mal percebeu que já havia chegado a seu destino.

- Tia Ally! – a pequena Isabela gritou, acordando-a de seus devaneios. Quando a latina olhou para o motorista, este já não estava ali.

- Tudo bem, Camila? – a loira perguntou. Camila olhou para o retrovisor como se naquele espelho houvesse algo, provavelmente fruto de sua imaginação, pensou. Porém a atitude de Allyson era estranha. Além do mais, por que elas estavam no aeroporto? O jato particular estava à espera delas, inclusive malas que ela nem sabia de onde saíram estavam sendo colocadas na bodega.

- Sim... – disse desconfiada – Por que estamos no aeroporto? – perguntou saindo do carro e ajudando Isabela a descer, enquanto caminhavam até a escada.

- Michael e Clara consideraram melhor vocês tirarem alguns dias longe de tudo. Isabela ainda não sabe da... – fez uma pausa e apertou os dentes antes de continuar – fatalidade. – As palavras saíram ásperas e rígidas. Como se ela não quisesse pronunciá-las – Não é aconselhável ela ficar nesse ambiente. Camila arqueou a sobrancelha tentando analisar a atitude da, agora, sua segurança. Big Rob já estava dentro com Isabela, os pilotos eram os mesmos, tudo parecia muito bem organizado. Até de mais para o que ela esperava.