Pobre Diabla

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Até onde você chegaria para manter um segredo? Dizem que segredos são como veneno. Uma forma lenta e dolorosa de morrer aos poucos. Os segredos nos distanciam das pessoas, nos convertem em seres solitários e apreensivos. As pessoas mentem para manter um segredo, sempre com a desculpa de que os fins justificam os meios. Mas como algo bom pode ser um segredo? Segredos nos fazem dependentes. Se alguém descobre, nos tem em suas mãos. Por isso desconfiamos. Quanto mais se aproximam, ficamos mas vulneráveis, propensos a revelar a verdade. Às vezes, inclusive, podemos prejudicar as pessoas ao nosso redor. E se não descobre, passamos a vida toda com medo a que assim seja. Não há descanso, exceto quando o segredo é revelado.

Mas a pior responsabilidade é a de compartir um segredo. Não por isso a dor se faz menos intensa, ela simplesmente tortura outras pessoas. Porém, compartir um segredo nos faz cúmplices. Somos obrigados a mentir para mantê-lo a salvo. Então eu volto a perguntar, até onde estamos dispostos a chegar para manter um segredo como tal? Saber de algo, por exemplo, que pode liberar a dor de uma pessoa, mas como prometemos guardá-lo, permitindo que essa pessoa sofra, nos torna tão culpados como.

Segredo pode ser relacionado com proibido. E honestamente, tudo que é proibido é melhor. Justamente por ser assim, desperta a tentação. Para que alguém faça algo, basta dizer que "está proibido". E a satisfação de fazer e sair impune? Chega a ser excitante.

O problema surge quando o segredo é sobre nós. Que as pessoas saibam algo sobre nós que nem nós mesmos sabemos, esse é o ponto. Queremos saber tudo que nos envolve, mas não nos preocupamos pela gravidade do que escondemos.

É justo esconder das pessoas quem realmente somos?

É justo omitir a verdade?

É justo consentir um sofrimento para encobrir uma mentira?

É justo sofrer por uma mentira?

Não. Mas a vida não é justa. A vida é uma vadia manipuladora, uma viúva negra que tece sua teia devagar, até que acabamos enrolados, sem saída, a mercê de sua piedade. Sem saber que nós mesmos escolhemos aquele destino, entregando de bandeja para o juízo final.

Continuar ou voltar, eis a questão.

- O plano não era esse, Veronica! – Lauren se exaltou se levantando da cadeira. – Ela não deveria ter acesso a essa informação!

- Tivesse pensado nisso antes de mandar essas merdas de rosas com mensagens e viadagens varias! – retrucou no mesmo tom – Você pensou o quê? Que ela ia ver um avião explodindo com a mulher dela dentro e ia ficar de braços cruzados?

- Ela só precisava saber que eu estou viva... – sussurrou deixando os ombros caírem em derrota.

- E quê? Esperar pacientemente que a gente acabe com a merda que sua família carrega? Por Deus, Lauren! São mais de dez anos atrás disso e não conseguimos nada.

- Temos o Jerry, isso já é algo!

- Não, isso não é nada! A única coisa que ele conseguiu evitar foi o seu assassinato, fora isso estamos tão paradas quanto antes. Seu pai preferiu abdicar a revelar a verdade, Jerry teve que se fingir de morto pra guardar o segredo dele, e agora você esteve à beira da morte! Eu te avisei que era um plano patético! – grunhiu e se dirigiu ao bar, servindo-se uma dose de tequila. O silêncio se fez presente e as duas se encararam.

- A única coisa que ela sabe, é que você me acompanhou em todos os encontros com os ex-soldados... – a rainha pensou alto, chamando a atenção da amiga. – Isso não é nada...

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