Anytime you need a friend

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[...] Andei pensando... e se eu mudar meu destino por outro? É, eu sei, o problema é que eu não acredito no destino... E quem de nós dois irá suportar a dor dos três? Eu, o orgulho e você. Talvez o mundo... será? Com o orgulho no meio como sempre, não sei. É verdade que nessas frases tem um pouco de "tomara que...", mas acho que já passou. O que você acha?

Ouvi dizer que só era triste quem queria; que em coração fechado não entra ninguém sem ser convidado, e por isso fechei o meu. No fundo nunca fui uma boa anfitriã...

Agora eu sei que o que ficou para trás, ficou e já não importa. Acho que até foi melhor assim por que tive que buscar algo novo que fizesse sentido. Talvez se eu tiver fé volto até a sonhar. Já pensou? Seria ótimo! ... Mas também ainda lembro que você disse que o que realmente importa nunca vai embora, nunca acaba, e talvez você tenha razão, né? Ou talvez... não fosse verdade. O que você acha? Eu acho que tudo isso é como As coisas que não dissemos, o que mais dói é a covardia... Mas reconheço que o erro foi meu por apostar muito em quem não vale nada. E o problema é que, desgraçadamente, o tempo não volta. Só volta o desejo de voltar no tempo.

Passei – e ainda passo – a vida inteira procurando sem saber muito bem pelo quê, mas acabei aprendendo que molduras boas não salvam quadros ruins e que no final, depois de tanto morrer, a gente acaba pegando gosto e aprendendo a nascer de novo. Mas olha só que idiotice a minha... escuto o telefone e, não sei... acho que pode ser você ligando (outra vez). Que cabeça, né? Se fui eu quem disse que existem sentimentos nobres demais para gente andar mendigando. Eu não sei... O que você acha?

***

O sol raiou, as grossas cortinas não foram suficientes para ofuscar os raios fortes que entravam pelo quarto da cabana. Por primeira vez Camila não havia acordado devido ao frio da manhã. Seu corpo estava muito bem aquecido assim como seu coração. Sentia o braço forte de Lauren apoiado em sua barriga e por isso, ou melhor, por aquela sensação, seu sono não foi perturbado com o barulho sutil da porta se abrindo. Lauren por sua vez, escutava ao longe o bip chato do despertador, mas ao se remexer entre a maciez dos lençóis e do cabelo de sua mulher, suspirou ainda em sonhos e se aconchegou um pouco mais, chegando a sentir como o colchão enorme e um tanto alto ficava desnivelado. Franziu o cenho, ainda sonolenta, e abriu um único olho a tempo de ver como duas mãozinhas buscavam apoio e impulso para revelar o pé e o joelho na ponta direita do colchão. A morena sorriu para si e abriu o outro olho, apenas admirando como sua filha fazia um enorme esforço para subir na cama com Leo debaixo do braço. Com a língua pra fora e a respiração pesada, depois de muito impulso e esforço, Isabela conseguiu seu objetivo, subindo finalmente na cama. Mas quando os pequenos olhos verdes se encontraram com os grandes, a garotinha ficou completamente vermelha e sem graça, como se tivesse sido pega em flagrante - o que não deixou de ser -. Já esperando por uma bronca, a menina começou a brincar com a orelha do tigre de pelúcia ainda meio sem jeito, e Lauren se sentiu culpada pelas vezes que se incomodou com a filha por fazer aquilo. Provavelmente era uma rotina para ela ir ao quarto das mães e poder dormir mais um pouco entre o aconchego delas, e agora que estava morta, entendeu a falta que sentira e como ás vezes apenas precisamos de um abraço para saber que não estamos sós. Se afastando um pouco e com uma Camila resmungando, Lauren se soltou da mulher deixando um espaço no meio. O sorriso no rosto da filha foi tão genuíno que seu coração apertou ainda mais. Em um pulo e como um bebê coala, a pequena se aconchegou colocando Leo entre seus braços, as perninhas encolhidas e encaixadas na coxa de Camila e seu inseparável dedão na boca. Lauren se encaixou atrás dela, passando o braço alcançando a barriga de Camila e desta vez sentindo o forte cheiro de xampu de morango no cabelo da filha. De certa forma, estava em casa. E sem perceber, o celular parou de tocar, os raios ficaram mais fortes e ela adormeceu novamente.

L A U R E N Where stories live. Discover now