Go hard or go home

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Deixamos que certas pessoas – aquelas especiais –vejam cada parte de nós, até mesmo as que não são tão bonitas. E é a vida, com o tempo a gente aprende que as coisas têm seu ciclo. É fácil voltar a confiar em uma pessoa que traiu sua confiança?

Como preencher um vazio que ocupa quase todo o espaço que resta?

Eu não sei.

Acho que no fundo sempre fui um pouco torta e procurei respostas às perguntas que inventava a cada segundo, até que descobri que ao contrário era meu lado certo.

Tenho cicatrizes. Muitas.

Mas, por favor, não me olhe procurando-as. Elas não estão visíveis. Estão dentro de uma caixa debaixo de sete chaves, escondida atrás de muros altos que levantei há muito tempo. E não é culpa sua, acredite. Nem foi. Eles estão aí por um motivo muito mais nobre.

Alguém muito sábio certa vez me disse que há medos que convertemos em inimigos poderosos, e se não estamos preparados para enfrentar a batalha contra eles, o mais provável é que eles nos vençam. E por isso preferimos escondê-los. Fingimos que não existem até conseguirmos "o exército da coragem necessária para enfrentá-los".

No fundo os medos não são tão ruins como parecem. Se você parar pra pensar, são os únicos que exigem de nós um pensamento metódico. Eles nos ajudam a colocar em uma balança o que podemos perder e o que ganhamos em caso de decidir arriscar. Por isso eu digo que é preciso coragem para ter medo.

As pessoas que não têm medo de nada, como conseguem viver? Qual a sensação de poder fazer tudo e conseguir tudo sem nenhum impedimento? Viu só? Ter medo é mais divertido. Ameniza a espera de ver o tempo passar sem que mude nada em sua vida. Faz com que você ocupe sua cabeça temendo o futuro e assim, acabe esquecendo o passado... o vazio. Porque é o que fica quando todas as coisas importantes vão embora: vazio.

E no final, a gente junta tudo e percebe que tem uma porção de vazio. Como uma coleção, sabe?

Você conhece alguém que colecione "vazios" e frustrações? Deve ser difícil fracassar a vida toda... em tudo.

É... eu acho que nem todo mundo tem essa habilidade. A de solucionar a vida alheia e não ser capaz de solucionar a própria, digo...

Mas é engraçado – por não dizer patético – ver como a vida bate sempre no lugar certeiro. Bem aqui, na boca do estômago: pow. Ela se aproveita das almas moles porque sabe que têm tanto medo, que não vão reagir ou tentar se defender. Mas com o tempo a gente vai aprendendo a encaixar esses golpes, como esquivar ou deixar o corpo rígido para que não machuque.

Até que cura.

Quando a alma é mole e a vida é dura, você entende que de tanto que ela te bate, cura.

E no final... a vida passa, como passam as coisas que não têm muito sentido.

Se você recebeu essa carta é porque eu morri na tentativa de remediar toda dor que eu te causei. Mas a única coisa que eu descobri foi que Khawala significa "bailarina" e pertence a uma mulher. E que você deve se proteger de Faruq. Não confie nele nunca. Não deixe que ele se aproxime de sua família, e o mais importante: não deixe ninguém saber que você está viva.

Assim acabava a carta, ou último suspiro, de Alexa. Depois de auxiliar a mulher com o impacto da cena que presenciaram, Lauren acabou encontrando a carta na tampa da caixa, o que a levou a uma pergunta: se eles não sabiam que ela estava viva, como chegou a "encomenda" até ela? Como uma carta, que ela deveria receber apenas se Alexa estivesse morta, chegou a seu destino?

L A U R E N Where stories live. Discover now