Tengo ganas de ti (Parte II)

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Na verdade... Na verdade vivemos esperando que haja alguém, no meio de toda essa confusão e mar de decepções, que seja capaz de ver quem e como somos de verdade. Sem máscaras, sem sorrisos falsos. Alguém que cuide de você quando a dor chegar, que liberte o coração quando ele estiver cansado de bater... Ou de apanhar. Mas muitas vezes, quando cai à noite e você vai pra cama, os fantasmas do passado retornam te impedindo de descansar. Também há medo. Medo de ser deixado de lado. De que tudo isso, no fundo seja sua culpa. Medo a ser deixado de lado porque talvez... Talvez não seja suficientemente bom para aquelas pessoas que te importam. Talvez elas nem se importem. Então, eu acho que... Acho que por isso buscamos alguém que nos permita descansar a cabeça em seu colo quando cairmos sobre seus pés. Que não permita que nos afoguemos no "mar de decepções". E andamos pelo mundo, dando voltas, seguindo caminhos a cegas, tentando achar alguém que se encaixe nesse perfil. O quão difícil é poder ser quem somos realmente hoje em dia? Digo... Não ser criticado ou julgado pelo tipo de música, estilo de roupa ou aparência. Não ser criticado por ser diferente. Por querer uma coisa pouco comum. Por sonhar... Em que momento das nossas vidas deixamos de ser criança? Quando a responsabilidade, a necessidade de crescer, se torna primordial em nossas vidas? Quando ter esperanças se converte em uma banalidade? É errado não querer o que todos querem? Por que não podemos continuar sendo crianças, tendo sonhos e ao mesmo tempo crescer e ter responsabilidades? Em que momento da vida deixamos de lado todos os sonhos que tivemos quando pequenos para nos converter em pessoas vazias? É engraçado... Às vezes eu olho pra trás e me surpreendo ao perceber que me converti naquilo que sempre disse odiar. Acho que essa é a pior decepção de todas que podemos ter na vida: decepcionar-nos. Porque quando decepcionamos alguém, nossa consciência pesa e o arrependimento brota. Pelo menos algum remorso, aquele pensamento de "eu sinto muito". Ver o olhar da pessoa decepcionada sobre nós, a dor e o desapontamento. Isso de alguma forma nos faz pensar. Mas a autodecepção acaba caindo no costume. Acostumamos-nos a autodecepcionar-nos, então não há remorso, consciência ou arrependimento. Há apenas... Resignação. Aceitamos a decepção porque constantemente agimos assim. Mas não deveria ser ao contrário? Ser mais importante não se autodecepcionar do que decepcionar alguém? Quem tem a culpa, nós que decepcionamos, ou as pessoas que depositam suas expectativas em nossas mãos? Por que somos obrigados a carregá-las? Mais importante: por que somos obrigados a cumpri-las? E as nossas expectativas, a quem entregamos? E a dor, quando a noite cai e o travesseiro aceita sem relutar nossas lágrimas e frustrações. Quem se preocupa por ela? Mas mesmo assim, continuamos a procurar esse alguém, e muitas vezes encontramos a pessoa equivocada, mas acostumamos-nos a permanecer ao seu lado porque a verdade – mesmo que dolorosa – é que aceitamos o amor que pensamos merecer. Somos, eternamente, responsáveis por aquilo que cativamos. O mundo na verdade é um reflexo de nossa mente. Quanto mais confusa ela esteja, mais conturbado estará tudo a nossa volta. Por isso antes de encontrar alguém que nos ame devemos amar-nos. Antes de querer que alguém nos ofereça seu melhor, devemos dar o melhor que temos. Porque cativamos o que damos. Porque não deveríamos estar acostumados com a autodecepção. Mas falar é fácil. Sempre é.

Lauren POV

Voltar pra casa é a sensação mais plena que alguém pode ter. Não há nada como nossa cama, o cheiro, a roupa recém-lavada com nosso sabão de sempre, a comida, as pessoas... Apesar de ter o palácio à disposição da família real, Camila insistiu em morar em outra casa, menor e mais familiar. Obviamente a notícia foi outro desastre, assim como tudo que envolveu nosso relacionamento. Escutei críticas das mais variadas, insultos e novamente colocaram em dúvida minha capacidade de pensar por mim mesma. É certo, eu fazia tudo que ela pedia. Até uma festa simples com Romeo Santos cantando ao vivo tivemos no casamento porque ela assim preferiu.

Camila decide tudo e eu estou encantada de aceitar. Não por ser babaca ou trouxa, pelo contrário. Ela é esse toque de realidade na minha vida. Não deixa em hipótese alguma que eu seja fútil ou soberba. Muito menos nossa filha. Isabela não tem vantagem alguma por ser uma princesa, literalmente. Tudo que ela quer, ela precisa merecer. Por mim ela teria tudo, o mundo, o céu. Sou capaz de mandar construir uma Disney em Genovia se ela quiser. Mas aí é que entra Camila e diz que não. Disney só uma vez a cada três anos, mínimo. E nada de doces antes de dormir, brinquedos caros que ela não vai usar ou caprichos desnecessários. Ela tem medo de criar um monstro insensível e que se ache superior aos demais apenas por pertencer a uma família real. Fala espanhol, inglês e genoviano. Pede tudo "por favor", conhece a culinária cubana assim como a genoviana, e tem ambas as nacionalidades. Estuda em um colégio "normal", porém vive acompanhada do Big Rob, que ela chama carinhosamente de Roby. Mas inevitalvemente é autoritária. Está no gene, tanto Cabello como Jauregui-Grimaldi. Sabe como convencer e conseguir o que quer. Às vezes eu penso que em vez de ceder meus óvulos para ter um filho, criamos um monstrinho de olhos verdes e cara de anjo. Sua forma de arrebitar o nariz e ter uma resposta pra tudo é tão minha... Enquanto a delicadeza na hora de fazer as coisas e a sensibilidade para com os demais é tão da minha mulher que me deixa abismada. Do mesmo jeito fica meu coração ao chegar em casa e ir direto para o ateliê de Camila no segundo andar. Anos se passaram e eu ainda não me acostumei com a ideia de tê-las em minha vida. Principalmente em momentos como esse.

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