L A U R E N

She Will Be Loved

Camila POV

10 dias

Ainda pequena e com pouco conhecimento da vida eu tive que aprender que nem sempre tudo é como a gente quer. E que alguns problemas pesam menos quando dividimos com alguém. A imprensa diz que eu sou "a nova mentalidade da sociedade atual". Os mais sensacionalistas dizem que sou o acontecimento do ano, e os mais radicais opinam que sou uma interesseira e que mais cedo ou mais tarde esse passatempo acabará. E eles acham que sabem tudo de mim. De nós. Falam, especulam, criam intriga, manipulam as pessoas como querem criando opiniões formadas com meias verdades para conseguir seu objetivo: o poder. Tudo é pelo poder. Mais dinheiro, mais armas, mais prestígio, mais reconhecimento. Um país débil é um país fácil de dominar. Desde que América foi descoberta carregamos a ideia de que somos pobres, incultos, sujos e ignorantes. E eles? Eles têm o dinheiro, então eles são nossa salvação. Depois, com o suor de nossos antepassados surgiram as grandes fazendas. A crise pela superprodução industrial provocou que eles, senhores e limpos, precisassem dos sujos e pobres. Cafezais, colheitas, artesanato, cultura, ouro... América teve seu auge, recebendo imigrantes europeus, asiáticos e até mesmo do norte. E o que fizemos? A mesma coisa que eles. Os tratamos como ignorantes e pobres, obrigando-os a trabalhar na inchada como cavalos. De quem é a culpa? Há culpa? Eles fizeram a mesma coisa! O certo seria tratá-los de forma diferente? Então a história voltou a mudar, o tempo passou e hoje, voltamos a estaca zero. América do Sul está se afundando em um buraco sem fundo de pobreza, corrupção, desigualdade e desespero. E o que fazemos? Pedimos ajuda aos países com poder. E a história se repete novamente. Pra minha sorte, tenho uma mulher incrível ao meu lado. E minha, só minha.

Assim que acabei de ler a carta liguei pra ela e em minutos que quase pude confundir com segundos, estava em sua sala na embaixada, sentada no sofá observando-a. Com Lauren tudo é imprevisível. Podemos estar fazendo um trabalho chato de economia e de repente estar discutindo qual roupa usar para uma reunião com o rei Felipe VI da Espanha. Completamente surreal. Mas não sei explicar, há algo nela que me faz pensar que isso é algo normal. Assim como sair da faculdade e encontrar um fotografo escondido ou ter um vestido de festa desenhado por mim e decorado com esmeraldas verdadeiras. Com ela eu nunca me sinto uma cubana pobre. Com ela eu sou Camila e ela é Lauren... Apenas Lauren. Minha Lauren. Ela odeia, mas eu adoro vê-la trabalhando. E o que me tranquiliza nessa história toda de inimigos políticos, extradição e prisão provisória não é apenas o fato de que estou vendo Barack Obama pela grande televisão planejando um acordo. E sim que, Barack Obama está em uma videoconferência com Lauren. O abraço que ela me brindou quando me viu e seu olhar decidido de "tudo vai ficar bem" foi a única certeza que precisei.

Três horas se passaram e já ouvi a palavra "acordo", "plano de evacuação" e "aliados" pelo menos dez vezes. Allyson está falando português no telefone e devo reconhecer que estou completamente surpresa e também me sinto segura ao saber que ela está no comando. Não mais do que a forma como Lauren falou comigo ao ler a carta. A postura séria e decidida, como a de uma líder. Como o que, no fundo, ela é.

Flashback

- Em primeiro lugar, você só volta pra Cuba comigo. Em segundo lugar, nenhum membro da família Cabello será preso ou extraditado. E nem você vai sair correndo, entendeu? - Camila apenas assentiu mecanicamente. Nem que ela quisesse sairia correndo. A amava e já não tinha como voltar atrás. - Vamos analisar as possibilidades que temos. Infelizmente Cuba não mantém nenhum tratado ou acordo conosco ou os Estados Unidos, provavelmente terei que pedir ajuda aos aliados... - disse como se estivesse pensando em alto enquanto a latina parecia em choque, pensando unicamente em seus pais, sua irmã. Os soldados invadindo sua casa e levando-os para Deus sabe onde.