Todos os defeitos de uma mulher perfeita

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Dizem que através das palavras a dor se faz mais tangível. Que podemos enfrentá-la como uma criatura tenebrosa que se torna mais alheia a nós quanto mais de perto a sentimos. Mas eu sempre pensei que a dor que não encontramos palavras para expressar é a mais cruel, mais funda... mais injusta. Às vezes machucamos as pessoas por cometer o erro de dizer o que sentimos. Mas é que a vida é feita de escolhas. Quando damos um passo à frente, inevitavelmente algo fica pra trás. E é exatamente aí que descobrimos se a decisão era correta. O problema? Quando as palavras são ditas, não há volta atrás.

As pessoas falam constantemente sobre o amor, amar... Mas como elas podem entender algo que nunca tiveram? Se não tiveram nenhum exemplo de amor, um que fosse remotamente real, como elas sabem quando é de verdade? Minha dúvida então é: como entender algo que nunca se teve?

Meu pai sempre dizia que quando duas pessoas estão destinadas a se encontrar, elas não têm a mínima ideia disso. Vivem suas vidas por separado, como se fosse algo impossível de acontecer e de repente... De repente o que era impossível se torna real, e aí tudo muda. Porque é assim, como uma roleta russa na qual você tenta a sorte e erra, até que a bala encaixa e já não há como parar. É tão irônico ter medo a ser feliz quando passamos a vida toda procurando pela felicidade. Sonhamos com um final feliz, mas quando chega o momento de se deixar levar, algo apita dentro da gente. Como um alarme, uma alerta máxima de "perigo!". Por isso eu cheguei à conclusão de que existem dois tipos de pessoas: os que amam e os humanos. Os amantes têm um tipo de esperança e fé cega que não lhes permite desistir. Os humanos, por outro lado, são inferiores, conformistas e permitem que o medo tenha poder em suas vidas. E fugir por medo é coisa de covardes. Não é questão de desviar o problema ou voltar atrás. O 'x' da questão está em superar o problema. Se deixar levar não custa nada e já dizia o ditado: "é melhor acordar arrependido do que dormir com vontade". Não há nada de mais em errar. Existem - e se não, deveria - segundas oportunidades mesmo que seja a décima. A vida começa a ter um verdadeiro sentido quando perdemos o medo a errar ou a sofrer. Então, descobrimos que podemos fazer tudo em vez de ficar sentado ali, admirando o abismo que separa o que queremos dos nossos medos, e cruzamos a ponte de olhos fechados. Os primeiros passos são os mais difíceis e temerosos, mas já na metade... o resto do caminho se faz praticamente só. Disso se trata a vida, entende? Se arriscar sem medo a perder, e se perdemos, é só tentar outra vez até encontrar aquilo que nos torna invencíveis ao medo: o amor. Me diz... Existe motivo melhor para se arriscar? Não importa o tamanho do abismo porque o amor constrói pontes indestrutíveis.

Mas nem tudo é tão fácil assim. As pessoas insistem em manter um pensamento fechado, se protegendo do medo e em uma zona de conforto. E esse é nosso principal problema, não queremos ver outro caminho, outras possibilidades. Não queremos arriscar e acabamos perdendo tudo pelo medo a perder. E a verdade é que as garrafas, as mentes e as pernas, são melhores abertas.

- Lauren, você não pode mandar construir um castelo no jardim só pra Isabela brincar! – Camila já estava cansada de ter aquela discussão pela milésima vez. Dias se passaram e algo andava errado, apesar dela não saber o quê.

- Por que não? Algumas crianças têm uma casa na árvore ou parquinhos, por que minha filha não pode ter um minicastelo? – a rainha rebateu igualmente indignada. Elas estavam no escritório de Lauren, que havia autorizado uma obra no quintal da casa. Sim, Isabela pediu um castelo e a mãe estava mais do que disposta realizar seu desejo, exceto por Camila, que não gostou nada da ideia.

- Porque é um maldito castelo de verdade em miniatura! – levantou as mãos e as deixou cair contra suas pernas, se levantando e caminhando pelo lugar.

- E? – se Lauren estava se fazendo de idiota, ela só estava piorando as coisas. Mas sua expressão confusa e sua forma de argumentar mostrava que de fato, ela não encontrava nenhum problema naquilo.

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