Terapia

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Amélia

A terapia era uma parte crucial do meu processo de recuperação. Tinha passado por tanto sofrimento nas mãos de Chris que sabia que precisava de ajuda para lidar com o trauma. As sessões eram uma jornada para dentro de mim mesma, uma exploração das feridas emocionais que Chris deixara em meu coração e mente.

A sala da terapeuta era acolhedora, com tons suaves de azul nas paredes e uma poltrona confortável onde eu me acomodava. A doutora Sarah, minha terapeuta, era uma mulher gentil e compassiva, com olhos que transmitiam empatia.

— Olá, Amélia. Como você está se sentindo hoje?

— Bem, eu acho... considerando tudo. — Suspirei.

— É completamente normal sentir-se assim depois do que você passou. Vamos falar sobre como tem sido sua semana desde a última sessão. Houve algum desencadeador ou algum momento difícil?

— Tenho tido pesadelos quase todas as noites. Sempre é como se estivesse presa em algum lugar, sem poder escapar. E eu acordo gritando, assustando Jeff. — Não pude evitar um riso nasal. — Tadinho, sempre acorda...

— Entendo. Os pesadelos são uma reação normal a um evento traumático como o que você passou. E você mencionou Jeff. Como ele tem sido um apoio para você?

— Ele tem sido incrível, doutora. Sempre está lá para mim, tentando me confortar, mesmo quando não consigo falar sobre o que estou sentindo. Às vezes, eu sinto que não mereço todo o amor e apoio que ele me dá.

— Amélia, é importante lembrar que você merece amor e apoio sim. Você é uma sobrevivente, e o que aconteceu não foi culpa sua. Estamos aqui para ajudá-la a curar essas feridas.

A terapeuta então me orientou a explorar meus sentimentos em relação a Chris, como o medo que ele ainda me causava e como suas ações afetaram minha autoestima e autoconfiança. Falar sobre ele era como reviver um pesadelo, mas eu sabia que era parte do processo de cura.

Ao longo da sessão, a terapeuta me ensinou técnicas de relaxamento para lidar com a ansiedade e o estresse, como a respiração profunda e a atenção plena. Ela também mencionou a possibilidade de terapias adicionais, como a EMDR, que poderiam ajudar a processar os traumas mais profundamente.

— Amélia, lembre-se de que você não está sozinha nisso. Há um longo caminho pela frente, mas estamos aqui para apoiá-la. Você é uma pessoa forte, e juntos vamos superar isso. — Sua voz sempre calma e serena.

Eu deixei a sessão de terapia com um misto de emoções, mas sabia que estava no caminho certo para me curar. Era um processo doloroso, mas eu estava determinada a encontrar minha força interior e a reconstruir minha vida. A cada sessão, eu esperava que as sombras do passado se dissipassem um pouco mais, dando lugar a um futuro mais brilhante e livre do domínio de Chris.


Quando eu cheguei em casa depois da consulta de terapia Jeff estava na cozinha, concentrado em preparar uma refeição para nós. O cheiro da comida enchia a casa, e isso me fez perceber o quanto eu estava faminta. No entanto, minhas emoções ainda estavam em turbulência após a sessão, e meu apetite não era o mesmo de antes.

Jeff notou minha chegada e virou-se para me cumprimentar, um sorriso gentil nos lábios. Ele era tão compreensivo e paciente, sempre parecendo entender o que eu precisava, mesmo quando eu mesma não sabia.

— Oi boneca. Como foi a consulta hoje?

— Foi... difícil. Mas estou tentando lidar com tudo.

Ele concordou com um olhar compreensivo, e então sua expressão mudou, como se ele tivesse algo em mente.

— Amélia, eu tenho uma ideia. Como você se sentiria em passar o fim de semana na nossa casa no lago? Eu estava trabalhando na reforma dela e já está quase pronta. Queria mostrar o lugar para você.

Eu olhei para ele, surpresa. A ideia de sair da cidade e passar um tempo em um lugar mais tranquilo e isolado parecia tentadora. No entanto, havia uma parte de mim que ainda resistia a qualquer forma de exposição ou compromisso.

— Eu não sei, Jeff. Não tenho certeza se estou pronta para isso.

Ele assentiu, compreendendo, e parecia não estar ofendido com minha hesitação.

— Amélia, tudo bem. Não quero te pressionar. Se você decidir que quer ir, estamos prontos para partir amanhã de manhã. E se não, está tudo bem também. A decisão é sua.

Jeff então pegou seu notebook o colocando no balcão ficando ao meu lado, abrindo-o para me mostrar fotos do local.

— Dá uma olhada, Amélia. É um lugar lindo, tranquilo, e eu acho que você vai gostar.

Enquanto eu observava as fotos, ele acariciou suavemente meu rosto com os polegares. Era um gesto carinhoso e afetuoso, mas eu não pude evitar recuar um pouco. A lembrança dos toques brutais de Chris ainda estava fresca em minha mente, e a intimidade era um território delicado para mim.

Jeff percebeu minha reação imediatamente e retirou sua mão, seus olhos demonstrando preocupação genuína.

— Desculpa, Amélia. Eu não deveria ter feito isso. Ainda é muito cedo.

— Não, Jeff, não é culpa sua. Eu só... ainda estou me acostumando com as coisas.

Ele sorriu gentilmente e assentiu, respeitando mais uma vez meus limites.

— Eu entendo. Leva tempo para curar, e eu vou estar aqui para apoiar você em cada passo do caminho. Se quiser, posso mostrar mais fotos da casa, ou podemos deixar isso para outro dia. A escolha é sua.

Sorri para ele, agradecida por sua compreensão.

— Vamos ver mais fotos, Jeff. Quem sabe, talvez eu me sinta mais confortável com a ideia depois de ver o lugar.

Ele assentiu, e juntos continuamos a olhar as fotos da casa no lago, nossa conversa fluindo naturalmente à medida que ele compartilhava detalhes e histórias sobre o lugar.



A manhã de sexta-feira trouxe consigo uma sensação diferente, uma espécie de empolgação que há muito tempo eu não sentia. Estávamos nos preparando para a viagem até a casa no lago que Jeff tanto mencionara. Eu estava empacotando algumas roupas em uma bolsa, tentando escolher peças que me fizessem sentir bem comigo mesma, mesmo que minha autoestima ainda estivesse abalada.

Ao olhar para o espelho, eu prendi meu cabelo em um rabo de cavalo simples, tentando manter as lembranças das marcas em meu corpo bem escondidas, mesmo que fossem apenas cicatrizes internas. Jeff estava do meu lado, fazendo o mesmo, e sua expressão estava radiante de empolgação.

— Você está linda, amor.

Eu olhei para ele e sorri, mesmo que de forma tímida. Seu elogio era genuíno, e eu sabia disso. Ele sempre encontrava uma maneira de me fazer sentir especial.

— Obrigada, Jeff. Estou ansiosa pela viagem.

Ele se aproximou de mim, seus olhos refletindo a doçura que sempre me transmitia.

— Eu também, Amélia. Será ótimo passar um tempo longe da cidade e relaxar.

Enquanto terminávamos de fazer as malas, uma sensação de normalidade começou a se infiltrar em nossas ações. Era como se, aos poucos, estivéssemos construindo novas memórias e novas experiências que nos ajudariam a superar as sombras do passado.

A viagem de carro até a casa no lago prometia ser um momento de tranquilidade e conexão. Eu sentia que precisávamos disso, para fortalecer nosso vínculo e, ao mesmo tempo, para que eu pudesse começar a me curar mais profundamente. Jeff e eu estávamos prontos para enfrentar esse desafio juntos, com amor e compreensão mútua.

— Está tudo pronto, Amélia. Vamos fazer essa viagem valer a pena.

Eu assenti, determinada a enfrentar o futuro com Jeff ao meu lado. Era um passo de cada vez, mas estávamos construindo nosso próprio caminho para a cura e a felicidade. Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas eu estava grata por ter Jeff como meu apoio constante, e o amor que sentíamos um pelo outro estava nos guiando nessa jornada de superação e reconstrução.

A Chama ProibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora