Capítulo 7

2.9K 279 70
                                    

— Quem é você? — O meu pai se afastou de mim relutante quando o Luke se meteu na minha frente. — Sai da frente. A filha é minha e eu educo como eu quiser. Ela bateu na mãe dela e eu não admito isso.

O Luke riu com deboche ao ouvir isso.

— E você admite ter uma esposa homofóbica? Porque eu ouvi o que ela disse do amigo da Lily. — Ele usou um tom de desafio. — Não sei se a senhora sabe disso, mas homofobia é crime. Eu teria o prazer de denunciar você agora mesmo.

Ele deu um pequeno sorriso debochado.

— Mas eu não vou fazer isso. Eu sei que a Lily não ia querer. — O Luke continuou na minha frente e me tirou de perto dos dois.

— E quem você é? Nós somos bem de vida e pagaríamos os melhores advogados do país. Você é quem acabaria pagando uma indenização por calúnia, rapaz. — A minha mãe apontou o dedo na cara dele.

Ela estava realmente ameaçando processar o Luke Martinez por calúnia.

— Me processar? — Ele riu. — Acho que eu não me apresentei direito. Prazer. Eu sou o Luke Martinez. O guitarrista da banda The Cosmic Quartet. Vocês já ouviram falar?

Ele perguntou arqueando a sobrancelha.

— Luke Martinez? — O meu pai engoliu seco e estendeu a mão para ele. — Muito prazer. Me desculpa se eu ofendi você.

As mãos dele estavam trêmulas e o Luke apertou a sua mão com um olhar irônico.

— Quem merece um pedido de desculpas é a Lily. — Ele colocou o braço forte em volta dos meus ombros. — Vê se agiliza o processo. Pede desculpas antes que eu tenha que tomar atitudes mais extremas.

Ele me lançou um olhar de "eu vou defender você" e eu sorri por dentro.

— Desculpa, Lily. — Ele falou baixinho.

— Oi? Você escutou alguma coisa desse sussurro, Lily? — O Luke perguntou e eu neguei. — Tenta de novo. Em um tom alto.

Ele ordenou com determinação na voz.

— Desculpa por ter falado desse jeito com você, filha. — Ele falou mais alto dessa vez.

— Hum. — Murmurei. — Não vai rolar.

O Luke sorriu quando eu neguei o pedido.

— Não foi dessa vez. — Ele deu de ombros para os meus pais. — Vocês podem sair daqui agora. Não vou pedir novamente.

O Luke apontou para a área da saída.

— Você vai se arrepender de defender essa menina interesseira. — A minha mãe resmungou enquanto se dirigia até a porta. — Ela era só uma garçonete pobre do Bella Trattoria e foi demitida no primeiro dia. Ela não é flor que se cheire.

Ela me ofendeu de novo e o meu pai decidiu calar a boca dessa vez. Medroso.

— Um grande foda-se para essa informação, minha senhora. Não ligo para essas coisas fúteis. — Ele revirou os olhos.

— Otário. — Ela murmurou raivosa e os dois finalmente saíram da minha casa.

Fiquei olhando para a porta e suspirei.

— Vem cá. — Ele passou a mão no meu braço e me puxou de leve para abraçá-lo.

Quando ele me envolveu fortemente em seus braços, algo dentro de mim despertou. Era como se o mundo inteiro desaparecesse e só restasse ele e eu. Seu abraço era firme, mas também gentil.

Eu nunca havia sido abraçada desse jeito.

Seu calor irradiava através da pele do mesmo, aquecendo cada centímetro do meu próprio corpo. Seus dedos percorriam minhas costas suavemente, como se estivessem traçando um mapa secreto.

Foi como se, naquele momento, todas as preocupações e inseguranças desaparecessem. Eu me senti segura.

— Não liga para isso. Tem pais que não merecem a filha que tem. — Ele sussurrou e eu descansei a cabeça no peito dele.

Além de ser um guitarrista foda e uma pessoa incrível, ele tinha um abraço casa.

— Obrigada. — Me afastei para olhá-lo.

— Não agradece. É o mínimo. — Ele passou o polegar na minha bochecha.

— Posso perguntar o que você veio fazer aqui? Não que eu me incomode com a sua presença, mas é um pouco tarde. — Dei um pequeno sorriso e inclinei a cabeça.

— Vim saber se você gostou do que eu mandei. — Ele sorriu de volta. — Que nada. Só estou inventando uma desculpa.

Ele piscou de brincadeira e eu ri com isso.

— Foi uma boa desculpa. — Provoquei.

— Quase acreditou? — Ele perguntou.

— Claro. Quase acreditei. — Respondi.

Ele riu e o seu celular começou a tocar.

— Um minutinho. — Ele se afastou um pouco para atender. — Oi, Lety. Como assim ensaio agora? É dez da noite. — O Luke reclamou. — Mas tá. Já estou indo.

Ele desligou e voltou a olhar para mim.

— Tenho um ensaio agora. Quer ir assistir para me inspirar ainda mais? — Ele perguntou meio brincando e meio sério.

— Que engraçadinho você, Luke. — Ri um pouco. — Vou deixar para a próxima, tá?

Ele fingiu estar bravo, mas depois sorriu.

— Você é quem manda. — Ele olhou para o celular de novo e suspirou. — Eu espero que a gente se veja de novo em breve, Lily.

Ele se despediu com um beijo na minha testa e eu fechei os olhos por um segundo.

— Sim. — Assenti e ele foi para a rua.

— Tchau, linda. — Ele acenou e eu sorri.

Respirei fundo, tentando controlar todas as emoções que borbulhavam dentro de mim. Luke havia feito algo que ninguém mais ousaria fazer por mim: ele me defendeu dos meus próprios pais.

Bizarro. Me defendeu dos meus próprios pais. Eram os meus pais que deveriam me proteger e defender do mundo ao redor.

— Quem sabe em outra vida você tenha pais que te amem. — Sussurrei sozinha.

Fechei a porta e me joguei no sofá exausta.

"Oi. Meus pais vieram aqui e foderam a minha mente de novo." Mandei no grupo dos meus amigos e eles logo responderam.

"Posso mandar um assassino de aluguel ir na casa deles? Só para uma visitinha rápida." O Alex ironizou. Se você soubesse o que ela falou de você, meu querido amigo.

"Vou abrir uma vaquinha para nós pagarmos o cara." A Cleo escreveu.

"Que ódio. Eu amo tanto vocês." Mandei.

"Precisando é só chamar. Eu juro que super mandaria um assassino na casa dos dois. Não é brincadeira, viu?" O Alex mandou outra mensagem e eu me assustei com a mente perversa desse garoto doido.

"Não faz essa cara, Lily. Eu só estou brincando com você." Ele enviou outra.

"Eu não." A Cleo mandou um emoji rindo.

"Maldosos." Escrevi e guardei o celular.

Preferi não falar que o "santo Luke" veio aqui e acabou me defendendo do clã maligno. Eles iriam surtar e aparecer na minha casa agora com balões de festa.

E essa situação não era motivo de comemoração. Porque esse foi o momento no qual eu descobri que os meus pais nunca me amaram verdadeiramente.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora