"Tudo bem, linda? Qualquer coisa me avisa." Assim que eu saí da delegacia, vi a mensagem do Luke.
Luke atencioso.
"Posso ir aí de novo?" Perguntei angustiada.
"Sempre, Lily." Ele respondeu no mesmo segundo e eu respirei aliviada.
Cada quilômetro percorrido era como uma jornada através do labirinto dos meus pensamentos.
O volante frio sob minhas mãos parecia conduzir não apenas o carro, mas também os meus sentimentos tumultuados. O aperto no peito se intensificava a cada respiração, um nó de culpa que crescia à medida que as luzes da estrada se desvaneciam na escuridão da noite.
As lágrimas ameaçavam turvar minha visão, mas eu as mantinha contidas, determinada a enfrentar essa tempestade.
A imagem dos meus pais apreendidos flutuava como uma miragem, uma consequência inesperada da denúncia do Alex. A agressão que eu sofri, agora transformada em correntes que os mantinham sob custódia, se tornou o âmago da minha batalha interna.
Eu me perguntava se a amizade com o Alex e a Cleo poderia ser reconstruída ou se as fissuras eram profundas demais para serem reparadas. A culpa, a traição e a solidão eram agora companheiras indesejadas, ecoando em cada pensamento.
Por que eles fizeram isso comigo?
Eu deveria superar. Só superar e seguir a minha vida. Aceitar que eles mereciam estar lá. Mas eu queria reconstruir a minha família e eles me prometeram isso. Prometeram uma mudança.
Eu estava sozinha. Sem o Alex e sem a Cleo. Talvez, só talvez, eu consiga a minha família de volta.
Estacionei o carro com um misto de pressa e ansiedade, mal contendo a torrente de pensamentos que me invadia.
Ao entrar na casa do Luke, ele estava lá, na porta, os olhos cheios de preocupação. Seus dedos procuraram respostas nas linhas do meu rosto, enquanto sua voz, suave e compreensiva, quebrou o silêncio tenso.
— Respira. Como foi? — Ele perguntou.
— Eles pediram desculpas. — Respondi e o Luke franziu o cenho. — Eu vou ajudar eles a saírem da cadeia, Luke. Eles prometeram mudar e eu vou me apegar a isso.
A expressão de Luke mudou gradativamente quando expus meu plano de retirar meus pais da situação delicada em que se encontravam.
Seu olhar se tornou uma mistura de preocupação e frustração e ele se afastou suavemente, como se tentasse processar a complexidade da situação. Suas mãos passaram pelo rosto em um gesto reflexivo, revelando a tensão que pairava no ar entre nós naquele momento crucial.
— É piada, Lily? — Ele me olhou incrédulo.
— Não é piada. — Respirei fundo, tentando articular meus pensamentos da maneira mais coerente possível. — Eu pensei muito sobre isso. Talvez eu tenha desencadeado a reação deles e tenha uma parcela de culpa nisso tudo.
O riso do Luke ecoou pela sala, repleto de incredulidade e uma pitada de frustração. Seus olhos, normalmente expressivos, refletiam perplexidade enquanto ele processava a gravidade das minhas palavras.
— Não ri de mim, Luke. Porra. — Me irritei.
— Eles te manipularam, Lily. — Ele passou a mão no rosto e balançou a cabeça. — Caralho.
Ele continuou a rir, parecendo irritado.
— Eu queria saber se você consegue algum advogado bom. Provavelmente a sua banda tem um. — Solicitei, mantendo-me firme em minha decisão.
— É, ela tem. — Ele pausou por um momento antes de responder.
— Me passa o contato. Me ajuda a conversar com eles. — Pedi, esperando encontrar apoio naquele rosto que eu conhecia tão bem.
— Não, Lily. — Ele falou de forma ríspida e eu olhei para ele sem entender. — Esse pedido é insano, porra. Você está pedindo a minha ajuda pra tirar os seus agressores da cadeia, te colocando em risco de novo.
O Luke expressou.
— Eles são os meus pais. — Argumentei.
— Eles não são, Lily! — Ele quase gritou e eu recuei diante da intensidade. — Eles não são seus pais. Pais amam e protegem. Os seus genitores te odeiam.
Recuei quando ele disse isso.
— Por mais que eu goste de você, eu não vou te ajudar com isso, Lily. — Ele falou baixo dessa vez.
— Eu pago, Luke. Eu não estou pedindo para você arcar, só me ajudar. — Esclareci frustrada.
— O problema não é o dinheiro. Se fosse para o seu bem, eu contrataria a porra de quinhentos advogados. Eu tentaria mudar as leis só por você. — Ele frisou e eu senti um nó na garganta.
— Luke, por favor... — Sussurrei, sentindo um aperto no peito.
— Desculpa, linda. Não. — Ele negou com a cabeça.
A minha risada nervosa e irônica ecoou pelo ambiente, preenchendo o silêncio tenso. Fui para longe dele com uma mão na cabeça, puxando os próprios cabelos em um gesto de frustração. Num impulso, me agachei no chão, soltando um grito abafado pelo meu braço.
Ele se abaixou , tentando fazer com que eu encarasse ele.
— Não. Não me toca. — Levantei abruptamente e me afastei.
— Lily, não faz isso. Vem cá. — Ele implorou.
— Achei que você ia me ajudar. Vim aqui na esperança de ter o seu apoio, como você sempre dizia me dar. — Peguei o meu casaco e fui até a porta.
— Não, Lily, espera. Por favor, não vai embora assim. — Ele segurou o meu braço com firmeza. — Entende o meu ponto aqui, porra.
Os olhos dele me imploraram por uma compreensão.
— Acabou por aqui. — As palavras ressoaram no ar, carregadas de frustração e mágoa. — O que quer que a gente tinha, acabou.
Encarei ele decidida.
— O quê? — Ele ficou em choque e negou com a cabeça. — Por favor, não faz isso. A gente acabou de começar algo. Eu quero você, Lily. Inteiramente e completamente. Não destrói a gente logo agora.
Os olhos dele suplicavam enquanto sua mão tentava segurar a minha, mas eu já estava decidida.
— Não tem o que destruir. A gente não tem nada e nunca vai ter. Isso tudo foi uma ilusão de algo que não vai dar certo. — Falei friamente.
Ignorei as súplicas, a dor apertando meu peito enquanto deixava para trás algo tão significativo. Cada passo era como arrancar um pedaço de mim, mas era necessário.
Peguei o Floquinho e saí da casa do Luke.
Os passos eram automáticos, guiados por um redemoinho de emoções. A rua se desvanecia diante de mim, meu olhar perdido nas sombras que engoliam cada pensamento. Distraída na minha própria tormenta, mal percebi o perigo iminente.
O som abrupto de pneus rangendo cortou o ar e por um instante, o mundo pareceu congelar. O instinto aguçado me fez dar um salto para o lado, escapando por um triz.
— Toma cuidado! — O homem gritou do carro.
Desculpa...
— Desculpa, Floquinho. — Sussurrei.
A caminhada de volta para casa era um percurso automático, meus pensamentos mergulhados em uma introspecção silenciosa. A solidão parecia envolver cada passo, mas uma determinação firme começava a despertar dentro de mim.
Eu estou sozinha, mas vou resolver isso sozinha.
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CORDAS DO CORAÇÃO
RomanceNo palco, Luke é um guitarrista que conquistou o coração do mundo com suas melodias. Nos bastidores, ele é apenas um homem em busca de algo mais profundo na vida. Lily, por outro lado, é uma mulher comum, distante do glamour do mundo das celebridade...