Capítulo 36

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Luke

— Estou meio puto que você vai viajar logo no dia do meu show. — Comentei com a Lana, enquanto assistia ela arrumando as malas.

— Eu sei. Desculpa. — Ela sorriu fraco.

— Vou ficar sozinho lá. — Falei baixo e me reencostei no sofá, olhando para o teto.

— Sozinho com os membros da banda e com milhares de fãs? — Ela riu. — Conta outra, cara.

Sozinho sem você, merdinha. E sem a Lily.

Os dias se arrastaram em um silêncio pesado, meu olhar fixo no celular, buscando por uma mensagem que teimava em não chegar. A frustração crescia, um nó apertado no peito, alimentado pela ausência de palavras dela.

Eu conhecia meus erros. Talvez eu tenha sido um merda de negar uma ajuda que ela precisava, mas a falta de resposta dela gerava uma raiva contida, uma indignação diante do vazio que se instalava entre nós.

Cada notificação não lida era um soco na expectativa, um lembrete constante de que algo estava quebrado. O show se aproximava, mas a ressonância do meu próprio silêncio ecoava mais alto.

Eu só desejava, com uma intensidade quase palpável, que ela dissesse algo, qualquer coisa, para dissipar a nuvem de incerteza que pairava sobre nós.

Entre acordes não tocados e mensagens não respondidas, a resignação começava a se instalar. A raiva se transformava em uma decisão silenciosa de seguir adiante, mesmo sem a clareza que ansiava. Era como se, ao aceitar o silêncio dela, eu estivesse fechando a porta de um capítulo inacabado.

Talvez ela não queira mais. E tudo bem.

Tudo bem não, porra. É uma merda isso.

— Ela vai aparecer, Luke. — A Lana falou de repente, me tirando dos meus devaneios.

— Duvido. Já era. — Neguei com a cabeça.

— O aniversário é sete horas da noite. Nós ainda temos... — Ela deu uma pausa e olhou para o relógio. — Cinco horas.

Ri com ironia. Uau, cinco horas. Um tempão.

— Não tenho mais o que fazer. — Olhei para ela e respirei fundo. — Eu fiz de tudo e faria mais ainda se pudesse, mas porra, se ela não quer, eu tenho que desistir da Lily e deixar ela em paz.

Quando as palavras "desistir da Lily" escaparam dos meus lábios, houve um riso amargo ecoando dentro de mim. Uma risada que continha uma ironia cruel, pois a ideia de simplesmente esquecê-la era como tentar agarrar pensamentos efêmeros.

Cada sinapse do meu ser, cada fibra da minha existência, estava impregnada com sua presença.

Lily não era apenas uma memória, era uma parte intrínseca de mim, entrelaçada nos recantos mais profundos da minha alma.

Por mais que as palavras "desistir" e "Lily" coexistissem na mesma frase, elas pareciam estranhas juntas, como se a gramática da minha vida se recusasse a aceitar tal combinação. Enquanto eu verbalizava a ideia de desistência, minha mente e coração sussurravam, em uníssono, a absurda ilusão que aquilo representava.

— Você realmente acha que o fim de vocês vai ser desse jeito? Porra, Luke, me economiza. — Ela revirou os olhos. — Eu ainda vou nesse casamento.

A Lana usou tanta certeza na frase que eu comecei a rir.

Casamento? Eu? — Balancei a cabeça e fiz um "pff" com a boca. — Acorda, Lana. Me economiza você.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora