Capítulo 21

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"Escolhe uma." Recebi uma mensagem do Luke e franzi as sobrancelhas para mim mesma.

Ele havia mandado uma foto em uma loja de guitarras.

"Por quê?" Perguntei.

"Quero te dar uma." Ele escreveu. "Nem vem com "não precisa, você já fez muito", porque se você não escolher, eu vou escolher." Ele continuou e eu ri sozinha.

"A branca." Mandei.

"Boa escolha." Ele respondeu.

"Você vai autografar ela para mim?" Provoquei.

"Depende. Você dá um autógrafo para mim também?" Ele devolveu a provocação.

"Sim, eu assino sua guitarra." Respondi.

"Não quero na guitarra." Ele mandou e eu revirei os olhos. Homens. "Brincadeira. A sua guitarra já está comigo. Eu dou para você no encontro no cinema. Até, linda." Ele finalizou e eu guardei o celular.

Não vejo a hora desse encontro no cinema.

Deitei no sofá e fiquei relaxando, achando que tudo estava bem. Até não estar mais.

Como um pesadelo recorrente que insistia em me atormentar, os meus pais entraram na minha casa e arrombaram a porta antes de eu sequer contestar.

O humor narcisista que sempre carregavam parecia ainda mais opressivo hoje. Eles não desperdiçavam tempo.

— A gente precisa de um favor. — O meu pai oscilava entre inquietude e seriedade. — Nós precisamos de um dinheiro. E como cuidamos de você a vida toda, nada mais justo. Pede para o Luke. Ele é seu banco agora, não é?

A perplexilidade invadiu o meu semblante.

— O quê? — Balancei a cabeça. — Vocês estão enganados. Eu não estou com o Luke e ele não é uma fonte de renda para mim.

Minha voz vacilou um pouco, pois eu não estava esperando por isso. Mesmo.

— Ah, querida, não precisa fingir. Sabemos que muitas garotas fazem isso. Oferecem o corpo em troca de dinheiro. — A minha mãe deu um sorriso amargo.

Por tabela, ela estava chamando a própria filha de prostituta.

— Eu nunca me prestaria a isso e você sabe, mãe. — Olhei para ela. — Você finge que não, mas me conhece. Você só está descontando sua frustração em mim e sendo estúpida, mas sabe que a sua "pequena Lily", como você costumava me chamar quando eu era mais nova, nunca faria isso.

As palavras pareciam ter atingido ela de alguma forma.

— Você acha mesmo que ele se importa com você, Lily? — O meu pai riu. — Logo ele vai perceber que você é uma garota sem personalidade e feia. E diga-se de passagem, com um corpo muito sem graça.

Meu pai, com um olhar de escárnio, iniciou o ataque.

— Ele está apenas se divertindo as suas custas, minha querida. Logo ele a trocará por alguém melhor. — A minha mãe foi cruel.

— O que não é muito difícil. — Ele completou.

A sala se encheu de um silêncio pesado e tenso, interrompido apenas pelo som das palavras cruéis proferidas por meus pais.

— Você não vai falar nada? Vai ficar em silêncio? — O meu pai perguntou.

— Eu não preciso me explicar. Eu me conheço e sei que não sou nada disso. — Respondi secamente.

Eu não sou nada disso... Certo?

— Você não é especial, Lily. — A minha mãe se aproximou de mim. — As únicas pessoas doidas o suficiente para gostarem de você, são aqueles seus amigos idiotas. O viadinho e a festeira maluca, que vive se oferecendo para os caras.

Quando ela o chamou de "viadinho" e insultou a Cleo de forma tão cruel, algo dentro de mim simplesmente explodiu.

Minha raiva tomou conta de mim e sem pensar, empurrei minha mãe, fazendo-a cair no chão.

— Cala a merda dessa boca! Você não vai falar assim dos meus amigos, sua preconceituosa psicopata! — Gritei em indignação, incapaz de conter a avalanche de emoções que me atingiu.

Perdendo o controle, minhas mãos começaram a desferir golpes na mulher que, apesar de ser minha mãe, havia se tornado a fonte de tanta dor e humilhação. Cada soco era um reflexo da minha frustração e uma tentativa desesperada de expressar a dor que havia sido reprimida por tanto tempo.

Era um momento de catarse, um grito de revolta contra a opressão que eu havia suportado por tanto tempo.

Que porra eu estava fazendo?

— Me solta, sua descontrolada! — Ela me empurrou e o meu pai me puxou pelos cabelos, me arrastando pelo chão e me jogando contra a mesinha de centro da sala.

A mesinha de centro da sala. De vidro.

O impacto foi devastador e a dor imediata se espalhou por todo o meu corpo.

Meu corpo se chocou contra o vidro frio e cortante da mesa e eu senti cada centímetro daquela dor aguda. O vidro se estilhaçou sob meu peso, causando cortes profundos em minha pele. O sangue começou a escorrer, manchando o vidro e o tapete.

A dor física era agonizante, mas a raiva de meu pai não diminuiu.

Não importava o quanto eu tentasse, minha mente estava turva e meu corpo doía intensamente. Com grande esforço, comecei a me afastar, ainda sentada, arrastando-me para longe da mesa de vidro quebrada.

— Para, por favor. — Implorei e a minha mãe observava a cena.

Com um... Sorriso?

Meu pai, tomado por uma raiva cega, não mostrou nenhuma compaixão. Ele continuou a me agredir, chutando a minha perna ferida com força, como se quisesse me punir ainda mais. Cada chute era uma nova onda de dor e eu soltava gemidos de sofrimento, mas ele parecia não se importar.

Está doendo muito. Internamente e fisicamente. Meu próprio pai. Por que ninguém me protegia?

Minha visão estava embaçada pelas lágrimas e pelo sangue que escorria do corte profundo em meu corpo. Eu lutava para me afastar, para escapar da violência que parecia não ter fim.

— Mãe, pelo amor de Deus. — Olhei para ela e ela virou o rosto. — Me ajuda.

Mãe, olha para mim. Olha para a sua filha.

— Sua vagabunda inútil! — O ódio fervia no rosto de meu pai enquanto ele continuava sua investida cruel.

Suas palavras eram um golpe direto em meu coração já dilacerado.

Enquanto ele xingava, atirava coisas em minha direção. Vidros quebrados, livros pesados, qualquer objeto ao alcance de suas mãos se tornava uma arma contra mim. Eu tentava desviar, me proteger, mas não havia escapatória. Cada impacto era uma tortura física e emocional.

Eu me encolhia, tentando me defender da fúria de meu pai, mas ele continuava a atirar objetos com um sadismo cruel.

Eu estava encurralada, presa em um pesadelo do qual não conseguia escapar. Minhas mãos trêmulas tentavam em vão me proteger dos ataques brutais.

Desesperada para escapar daquele pesadelo, consegui encontrar uma brecha e com todas as forças que me restavam, corri para fora de casa.

Estava machucada, sangrando e atordoada, mas minha única preocupação era fugir daquela violência insuportável.

Enquanto corria pelo quintal, esbarrei em algo.

— Lily... — O Alex me segurou, não acreditando no que estava vendo diante dele. — Caralho, Lily, o que houve? Por que você está assim? Fala, Lily!

Ele parecia estar prestes a desabar comigo.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora