— Meu pai me bateu. — Murmurei com a voz trêmula.
— Te bateu?! — Ele olhou para a minha casa e depois para mim. — Como assim te bateu, porra? Ele está louco, ou o quê?
O Alex me abraçou com força, seus braços apertando meu corpo ensanguentado e seu rosto estava contorcido de raiva ao ouvir minha história. Ele cerrava os punhos, pronto para enfrentar qualquer ameaça que ousasse se aproximar.
— Meu Deus, Lily. — Ele passou a mão nos meus cabelos e eu percebi que ele estava todo manchado com o meu sangue.
Me agarrei a sua blusa com força e ele me abraçou mais fortemente ainda.
— Estou aqui, Lily. — Ele sussurrou e o meu choro silencioso e agoniante molhava a sua camisa. — Estou aqui.
Meus pais haviam seguido meus passos, ainda cheios de raiva, prontos para me confrontar novamente. Mas ao se aproximarem de mim e do Alex, a expressão deles mudou. Ao invés de encararem a nós dois com agressividade, eles se viram diante de alguém que não tinha medo de enfrentá-los.
— Vocês são uns covardes de merda. Olha o que vocês fizeram com a filha de vocês. Olha o estado dela! — Ele se irritou e os meus pais se entreolharam.
— Olha só, o viadinho tem boca para defender a amiguinha. — A minha mãe riu com desprezo.
— Vai chupar um pau e não se mete na criação da minha filha, seu gay de merda. — O meu pai apontou o dedo para o Alex.
— Cala a boca! — Uma onda de raiva varreu minha mente quando meus pais se mostraram homofóbicos com Alex.
Eu senti uma fúria incontrolável crescer dentro de mim, pronta para explodir. Eu me movi rapidamente em direção a eles, pronta para confrontá-los, mas antes que eu pudesse agir, o Alex me segurou com força.
— Não, não, não. — Ele me segurou e eu tentei me soltar. — Não vale a pena, Lily. Vamos embora.
Ele deu um pequeno sorriso, mas eu percebi que ele estava magoado com isso.
— Desculpa. Me perdoa. — Fiquei com um nó na garganta. — Eu não queria que você escutasse isso. Por favor, não fica bravo comigo.
Ele balançou a cabeça e me abraçou de novo.
— Não é sua culpa, Lily. — Ele usou um tom de certeza. — Eles não foram os primeiros a serem homofóbicos e não vão ser os últimos. Eu não ligo mais. Fica tranquila. Você não tem culpa de nada.
Eles olharam para o Alex e para mim e a tensão no ar era palpável.
Minha mãe e meu pai se viram confrontados não apenas pela dor que tinham infligido a mim, mas também pela presença de alguém que estava disposto a me proteger, alguém que representava uma resistência contra a intolerância dos dois.
Naquele momento sombrio, enquanto os vizinhos observavam com olhares de desaprovação e preocupação, um senhor de cabelos brancos se aproximou com firmeza.
— Vocês não tem o direito de tratar a sua filha e o amigo dela dessa maneira. Isso é inaceitável. — Seu olhar denotava indignação diante da cena que se desenrolava à sua porta. — Desculpa, filha não. Se tem uma coisa que vocês não são, são pais. Vocês são demônios. Saiam daqui agora, antes que eu chame a polícia para os dois.
Meus pais, imperturbáveis por qualquer sentimento de culpa, responderam à repreensão do vizinho com gestos obscenos, como se a intolerância fosse sua única língua.
— Vamos embora. — O Alex me puxou para longe, sob os olhares dos vizinhos e das pessoas que passavam na rua. — Vão fazer algo da vida, seus desocupados.
Ele tentou afastar os curiosos.
— Isso não acabou aqui, Lily. — O meu pai, com um olhar ameaçador, dirigiu-se a mim com palavras que soavam como um sinistro eco de violência e controle.
Aquelas palavras pairaram no ar como uma ameaça latente, fazendo meu coração afundar ainda mais em desespero.
— Chega perto dela de novo que eu mato você, seu preconceituoso filho da puta! — O Alex gritou e nos levou até o carro dele.
— Eu vou manchar o seu carro todo de sangue. — Falei quando ele abriu a porta para mim.
— Essa é a última das minhas preocupações, Lily. — O Alex me ajudou a entrar no carro e acariciou meu ombro. — Vamos lá para casa. Eu vou te ajudar a se curar dessas feridas. Quanto a ferida emocional, vou fazer o máximo possível para te ajudar. Eu te amo, não esquece nunca.
Ele fechou a porta e se dirigiu ao banco do motorista.
Encolhida, minha cabeça repousava nos joelhos e meus braços envolviam as pernas como uma tentativa frágil de proteção contra a violência que ainda me reverberava por inteiro.
Enquanto o veículo avançava pelas ruas, lágrimas silenciosas traçavam caminhos úmidos em meu rosto, testemunhando a dor aguda que se manifestava como uma queimação persistente em cada recanto do meu corpo.
Os vestígios visíveis das agressões, resultado de objetos pesados e vidros cruéis, eram uma narrativa dolorosa escrita sobre minha pele.
A cada solavanco do carro, a dor se intensificava, como se cada movimento reavivasse as memórias cruéis da brutalidade que eu havia enfrentado.
— Desculpa, Lily. Essa estrada está repleta de pedras. — O Alex sussurrou enquanto o carro dava ainda mais solavancos, comigo tentando esconder o quanto estava doendo.
Ao chegarmos à casa do Alex, ele desligou o carro e por um momento, ficamos imersos em um silêncio que denunciava o peso do que havíamos vivido.
— Chegamos. — Com uma gentileza que contrastava com a brutalidade recente, o Alex se aproximou para me ajudar a sair do carro.
— Obrigada. — Agradeci e ele deu um sorriso de "deixa disso".
Adentramos a casa do Alex, um enclave de calmaria em contraste cruel com o tumulto recente. Cada passo ecoava nos meus ouvidos, uma trilha sonora involuntária da violência que ainda pulsava sob a minha pele.
Sem demora, o Alex se lançou em uma missão de socorro. Seus passos determinados na busca por um kit de primeiros socorros eram como marcadores de urgência, cada segundo valendo ouro na corrida para aliviar a dor que me consumia.
De volta, ele trouxe o kit e um pano, sua expressão séria denunciando a seriedade da situação. A frieza do pano contra a pele machucada e o odor do antisséptico criavam uma atmosfera crua de realidade.
— Tem uma muda de roupas suas aqui em casa. Troca essa roupa ensanguentada. A dor está melhorando? — Ele questionou e eu assenti.
Estava melhorando. A ajuda dele era essencial nesse momento. Todo mundo precisava de um Alex.
— Posso ligar para a Cleo? — Ele perguntou.
— Pode. — Assenti.
— E para o Luke? — Ele perguntou novamente.
— Não. — Respondi depressa. — Não incomoda ele com isso. Além de que ele nem viria. Até parece.
O Alex balançou a cabeça e deu uma risada baixa, como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.
— Não liga. — Frisei.
— Tudo bem. Eu não vou ligar. — Ele deu a sua palavra e eu apenas assenti.
Ótimo.
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CORDAS DO CORAÇÃO
RomanceNo palco, Luke é um guitarrista que conquistou o coração do mundo com suas melodias. Nos bastidores, ele é apenas um homem em busca de algo mais profundo na vida. Lily, por outro lado, é uma mulher comum, distante do glamour do mundo das celebridade...