CORDAS DO CORAÇÃO

Capítulo 32

Luke

Eu vi ela. E ela estava linda demais.

Perto, mas tão longe ao mesmo tempo.

Eu tinha certeza de que ela estava indo ver os genitores dela na delegacia. Seu rosto cansado entregava que ela estava sobrecarregada com tudo isso e eu só queria ajudar. Não da forma que ela queria, mas ainda assim, ajudá-la.

— Acorda, Luke. Porra. — O Zack empurrou o meu ombro. — Desde que você chegou, parece que está no mundo da lua.

Ele falou e eu fiquei quieto.

— Ele está menstruado. — O Nick provocou. — Quando a Lety está naqueles dias, ela fica igual.

A Lety deu um tapa de brincadeira nele.

— Já sei uma coisa que vai te animar. — A Lety sorriu para mim e eu olhei para ela curioso. Animar? Duvido, mas vamos lá. — A mãe da garotinha com câncer mandou um vídeo para a gente. Ela está muito animada para o show no aniversário dela.

Ela me entregou o celular e eu dei play no vídeo.

— Oi, The Cosmic Quartet, eu sou a Emily. — A pequena garota de cabelos dourados e olhos claros sorriu para a câmera. — Eu só queria dizer que eu estou muito feliz de poder ter a honra de sentir e ter a presença de vocês na minha festa de doze anos. Eu simplesmente não acredito que os Deuses da música vão tocar aqui!

Ela comemorou e eu ri um pouco.

A tela iluminada pelo sorriso dela, apesar de tudo, me irritava, não pela doçura da menina, mas pela crueldade do destino.

Era como se a vida brincasse conosco, nos apresentando a beleza através dos olhos de alguém que mal começou a viver e já corria o risco de morrer.

— Muito obrigada por concordarem em realizar o meu sonho. Vocês sempre vão estar no meu coração, independente da onde eu estiver. Na terra ou no céu, vou sempre admirar vocês. Mal posso esperar para ver todos. Até semana que vem. — Ela acenou para a câmera e o vídeo parou.

Meu olhar permanecia fixo na tela, mesmo após o término do vídeo, como se as palavras daquela garotinha continuassem a ecoar em minha mente.

Cada membro da banda compartilhava um olhar entre si, como se tentássemos processar a intensidade da experiência. O peso do momento pairava no ar e a expressão pesarosa em cada rosto revelava um entendimento compartilhado sobre a vulnerabilidade da vida.

— Ela merece uma música. — Falei e olhei para os meus amigos. — Eu componho e a gente toca no aniversário dela.

Sugeri e todos assentiram rapidamente.

— Você quer ajuda? — A Lety perguntou.

— Não, eu consigo. — Dei de ombros. — Já vou aproveitar para criar outra música. Enfim, é um assunto meu.

Não quis falar muito sobre isso. Sobre ela.

— Entendi. — A Lety assentiu. — A gente vai deixar você em paz. Todo mundo entendeu o recado.

O Zack e o Nick lançaram olhares compreensivos e se prepararam para sair.

— Fica bem, irmão.  — O Zack deu um tapinha amigável no meu ombro e o Nick também.

— Qualquer coisa conta com a gente. Eu te amo, viu? — A Lety beijou minha bochecha e me abraçou.

— Eu também. — Dei um sorriso fraco.