Capítulo 25

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Marchei pela rua, cada passo ecoando a batida furiosa do meu coração.

Sentia a raiva latejar em minhas veias, especialmente dirigida à Cleo, que ousara me julgar. Cada palavra dela ressoava na minha mente, alimentando o furacão que se agitava dentro de mim.

— Você vai acabar sendo atropelada desse jeito. — O Luke bloqueou o meu caminho, enquanto eu andava sem rumo.

— Me deixa. — Implorei, querendo liberar a tempestade que fervilhava dentro de mim.

— Te deixar? Nem fodendo. — Ele riu, como se fosse o único a entender a tormenta que me envolvia.

— Para de rir! Eu estou puta com aquela vaca! — A raiva pulsava em mim como uma chama voraz e meus punhos se cerravam involuntariamente.

Bati no braço do Luke, irritada com o riso provocador dele. Seus olhos brilhavam com malícia e ele não parecia disposto a parar de se divertir com minha irritação.

— Faz isso de novo. — Desafiou, um sorriso atrevido brincando em seus lábios. — Você fica gostosa quando está irritada.

Minha expressão endureceu, encarando-o com fúria e ele ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Ei! — O Alex correu para alcançar a gente, respirando pesadamente enquanto tentava falar comigo. — Porra, vocês andam rápido, hein?

Olhei para ele, percebendo a intenção de resolver a situação.

— Lily, a Cleo não queria dizer aquilo. Ela quis te ajudar e acabou piorando tudo. — Ele tentou argumentar.

Respirei fundo, tentando não surtar com ele.

—  Por que você tá defendendo ela, Alex? Você ouviu o que ela disse e não tem desculpas para isso.  — Rebati frustrada. 

— Eu não tô defendendo, Lily. Porra, a gente é um trio. Volta pra casa e vamos resolver isso como adultos. — O Alex praticamente implorou.

— Não tem mais trio, Alex. Acabou. — As palavras cortavam o ar com a certeza de uma sentença irreversível.

— Não faz isso, Lily. — A agonia na voz dele me atingia, mas meu coração se endurecia com as marcas das palavras da Cleo. — Mas que porra. Depois que meus pais morreram, eu só tenho vocês. E agora, isso vai acabar por causa de um mal-entendido?

As lágrimas ameaçavam brotar, mas eu as segurava com força.

— Você concorda com ela, certo? — Perguntei.

Um silêncio pesado pairou no ar quando fiz a pergunta a Alex. Seus olhos, antes cheios de desespero, agora refletiam uma hesitação que cortava mais fundo do que suas palavras poderiam expressar.

— Meu Deus... Você concorda com ela. — Congelei. — É por isso que você veio aqui. Você concorda com ela.

A realidade me atingiu como uma flecha.

— Lily, espera. — Ele tentou segurar meu braço. — Ela não usou as palavras certas. Ela foi rude, mas ela não mentiu quando disse que você precisa reagir. Você apanhou, Lily, e isso é grave. Você é machucada constantemente com palavras cruéis. Você é desprezada por eles.

Luke estava em silêncio, a sua mandíbula cerrando de raiva. Raiva dos meus pais.

— Eu vou denunciar eles para a polícia. — Ele falou.

As palavras de Alex reverberaram em meus ouvidos e o peso da situação fez meu coração bater mais rápido.

— Não, você não pode fazer isso. Você não tem provas e eu vou negar tudo. — Escapei com urgência, minha voz trêmula refletindo a ansiedade que me consumia.

— Eu tenho provas, Lily. — Ele murmurou.— No meu celular. Provas das agressões contra você e provas contra a homofobia dirigida a mim.

Meus olhos se abriram numa incredulidade profunda.

— A casa do Brian é perto da sua e eu escutei seus gritos. Eu tive que gravar porque estou cansado de te ver sendo abusada por eles. — Ele revelou e meus olhos vagaram pela rua, sem saber o que fazer. — Desculpa, Lily, mas eu vou fazer isso. Por você.

Olhei para ele, sentindo o peso das palavras ecoando em meu peito.

Respirei fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçavam escapar.

— Se você fizer isso, Alex, eu nunca mais vou falar com você. Nossa amizade vai acabar para sempre e eu vou te odiar. —  Murmurei, deixando as palavras pairarem no ar carregado de tensão.

Eu nunca odiaria ele, mas eu precisava convencê-lo a não fazer isso. A não destruir o mínimo resquício de família que eu ainda tinha.

— Eu posso viver com seu ódio, Lily. Só não posso viver com seu sofrimento. — Ele me encarou com os olhos decididos.

Balancei a cabeça, uma negação silenciosa às circunstâncias que ameaçavam despedaçar nossa conexão.

— Você vai fazer isso? — Perguntei, buscando nos seus olhos uma faísca de hesitação, mas encontrei apenas resolução.

— Vou. — Ele assentiu.

— Você morreu para mim, Alex. —Apontei o dedo para ele, as palavras amargas que escaparam dos meus lábios ecoando no silêncio.

— Você não quis dizer isso, certo? — O Alex balançou a cabeça, buscando nos meus olhos uma negação que ele não encontrou. — Lily, não...

Ele implorou.

— Se você denunciar, você morre para mim. — Estava implorando, desesperada para que ele entendesse a profundidade do que estava em jogo. — Porque estou aqui pedindo, implorando para você não fazer isso.

Esperei pela sua resposta, mas ele apenas me encarou.

— Desculpa, Lily. — Disse ele, virando-se para ir embora.

— Alex, não faz isso! Não denuncia eles! — As palavras ecoaram no vazio, mas ele nem sequer olhou para trás. — Ele não olha para mim.

Murmurei com agonia.

O Luke passou a mão suavemente nas minhas costas, me puxando para perto.

— O que eu faço, Luke? Como se minha vida não tivesse fodida o suficiente e agora isso. — Balancei a cabeça, como se pudesse afastar os pensamentos tumultuados que me assombravam.

— Eles quebraram sua casa, Lily. Quebraram você emocionalmente. — As palavras do Luke ecoaram suavemente em meu ouvido enquanto seus braços envolviam meu corpo, oferecendo um consolo que eu ansiava. — Tenta entender...

Eu queria compreender. Eu queria encontrar sentido.

O eco do caos em minha casa reverberava em minha mente enquanto eu fechava os olhos, revivendo a imagem devastadora dos meus pais destruindo tudo. No entanto, um pensamento específico fez com que meus olhos se abrissem abruptamente, um arrepio de terror percorrendo minha espinha.

— O Floquinho. — Minha voz soou desesperada enquanto a preocupação se instalava. — Eu fui embora e deixei o Floquinho lá. E se eles machucaram o meu gato?

O pânico tomou conta de mim e eu olhei para o Luke.

Se algo acontecesse com o Floquinho, eu nunca iria me perdoar.

— Eles não machucaram o Floquinho. — Ele afirmou com serenidade e meu olhar se encontrou com o dele, sem entender. — Depois que você me enviou a localização, o Alex me mandou uma mensagem sobre seu gato, dizendo que ele tinha ficado lá. Pedi para o meu empresário cuidar disso e ele está muito bem lá em casa.

Um suspiro de alívio escapou de meus lábios e eu o abracei com força.

— Obrigada. — Murmurei contra o seu peito.

— Sempre. — Ele beijou a minha testa.

Santo Luke. Esse cara era meu anjo da guarda, ou o quê?

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora