CORDAS DO CORAÇÃO

Capítulo 18

Ele deu um suspiro incomodado e encostou a testa na minha por um momento.

— Estou ocupado, Zack. — Ele continuou com a mão na minha cintura, enquanto falava com o tal Zack, que estava do lado de fora.

— É importante, cara. O nosso empresário marcou uma reunião com a gente daqui a trinta minutos aqui no estúdio. — Ele falou e o Luke balançou a cabeça. — Você pode abrir a porta para mim, por favor? O estúdio também é meu.

A irritação tomou conta do rosto de Luke quando seu amigo o interrompeu abruptamente. Seus olhos faiscaram com uma mistura de frustração e raiva contida, como se o momento que havíamos compartilhado tivesse sido invadido de forma inoportuna. Ele soltou um suspiro audível, claramente perturbado pela interrupção.

— Acho que eu já vou. — Sussurrei e ele negou com a cabeça. — Luke Martinez...

Sibilei seu nome com repreensão e ele riu.

— Fica aqui. — Ele beijou minha testa e foi abrir a porta do estúdio.

— Até que enfim. Beleza? — O cara cumprimentou ele quando a porta foi aberta e o mesmo entrou com um caminhar descontraído. — E quem é essa? Uma amiga nova?

O amigo de Luke adentrou o estúdio e seus olhos percorreram cada centímetro do meu corpo, explorando-o com uma curiosidade indisfarçável. Seu olhar era impregnado de desejo e um sorrisinho indecente brincou em seus lábios, carregado de flerte, enquanto ele mantinha seu foco em mim.

No entanto, do outro lado da sala, Luke soltou uma risada irônica que ecoou pelo estúdio. Embora seu sorriso se mantivesse, havia um traço de algo novo que ele tentava disfarçar.

— Ela já vai embora. Tchau, Lily. — O olhar do Luke se tornou sério e ele soltou um suspiro profundo.

Aquele momento me pegou de surpresa e uma onda de confusão e descrença tomou conta de mim. Seus olhos, que antes ardiam de desejo, agora pareciam esconder algo que eu não compreendia. Era como se algo tivesse mudado repentinamente e eu não conseguia entender por quê.

Olhei para Luke, buscando em seus olhos uma explicação que não estava clara. Ou estava. Ele se arrependeu disso.

Será que Luke estava com vergonha de mim, porque eu não tinha a mesma fama que ele, porque eu era uma desconhecida, uma anônima? Eu comecei a acreditar que talvez Luke estivesse achando que eu não fazia jus à sua posição de destaque e essa ideia me deixou ainda mais confusa.

— Antes me passa o seu número. — O Zack pediu e o Luke encarou ele com os olhos pegando fogo.

— Vai logo, Lily! — Ele falou, quase grosseiramente e eu assenti.

Com um nó apertado na garganta e uma pitada de irritação, eu me virei e saí do estúdio sem nem olhar para trás. Cada passo que eu dava ecoava com a sensação de um momento perdido.

"Me encontrem na minha casa daqui a uma hora. Eu preciso de vocês." Digitei no meu grupo com os meus melhores amigos.

"Fodeu. Vou levar chocolate." O Alex logo respondeu e eu ri um pouco com isso.

"E eu levo a bebida." A Cleo completou.

Eu caminhava pelas ruas com um passo firme, a raiva pulsando em minhas veias. Cada passo ecoava a tempestade interna que me dominava. As luzes da cidade passavam como borrões diante dos meus olhos, obscurecidas pela confusão que tumultuava minha mente.

Eu estava mergulhada em pensamentos, tentando decifrar o que havia acontecido naquele estúdio, mas as respostas se mantinham evasivas. A ideia de que Luke pudesse sentir vergonha de mim, uma completa desconhecida no mundo dele, me enfurecia profundamente. A sensação de ter sido deixada com mais perguntas do que respostas era uma mistura intensa de frustração e ressentimento.

Ao chegar em casa, a mente ainda tumultuada, fui calorosamente recebida pelo Floquinho. Ele correu na minha direção com um miado afetuoso, como se soubesse que eu precisava de consolo naquele momento.

Acariciei o Floquinho, com sua pelagem macia e ronronante e isso me trouxe uma sensação imediata de alívio. Sua presença constante era como um bálsamo para a minha alma e naquele momento, era exatamente o que eu necessitava para acalmar a agitação que havia tomado conta de mim.

— Você ficou bem aqui sozinho? — Olhei em volta e vi tudo em ordem. — Ficou sim, não é? Você é um gatinho muito obediente.

Coloquei ele em cima do sofá e me joguei no outro, colocando os pés em cima do estofado.

— Beijei um guitarrista, acredita? — Olhei para o meu gato e depois para o teto. — Na verdade, ele me beijou. E que pegada, Floqs. Só de lembrar...

Me abanei e balancei a cabeça para esquecer isso.

Depois de um tempo, os meus amigos chegaram na minha casa e chutaram a porta, fazendo-a ranger, como se fossem invasores inveterados em vez de convidados. O barulho repentino ressoou pela sala, aumentando a dor de cabeça que eu já sentia.

Alex entrou com um sorriso largo, carregando várias barras de chocolate nas mãos, enquanto a Cleo vinha atrás com uma garrafa de bebida alcoólica. Ambos pareciam estar em um estado de animação elevada, completamente alheios ao meu leve gemido de dor de cabeça.

— Cheguei nessa porra! — O Alex exclamou, exibindo os chocolates como se fossem um troféu.

— Que cara de enterro é essa? Quem morreu? — A Cleo perguntou. — Se foi seus pais, vamos abrir essa bebida e comemorar!

Ela sorriu animada e o Alex fez um sinal, me mostrando que ela já havia bebido um pouco no caminho. Não que eu não tenha percebido.

— Infelizmente não. — Zoei quando ela sentou do meu lado. — Eu meio que fui beijada por uma pessoa e...

Mal tive tempo de explicar a situação para meus amigos antes do Alex e da Cleo começarem a pular de animação, como se tivessem recebido a notícia do século. Eles não me deixaram terminar a frase e a comemoração estava prestes a atingir níveis estratosféricos.

A reação explosiva deles fez meu gato dar um pulo de susto e sair correndo para se esconder em algum canto da casa.

— A Lily beijou o Luke. A Lily beijou o Luke. — Os dois começaram a entonar e eu acabei rindo de incredulidade, com a infantilidade deles.

— Se eu fosse vocês, eu escutaria o resto da história primeiro. — Continuei e eles me encararam curiosos. — Deu errado. Ele me expulsou assim que um amigo dele entrou no estúdio. O amigo começou a perguntar quem eu era e até pediu meu número. Acho que o Luke ficou com vergonha de mim, ou algo do tipo.

Isso fez o sorriso dos dois aumentar.

— Na minha terra isso tem um nome bem conhecido. Ciúmes. — O Alex usou um tom de certeza e eu revirei os olhos.

— Certeza. — A Cleo assentiu. — E esse tonta achando que ele se arrependeu. Sério, Lily, você tem que ser estudada por algum cientista. Não é normal isso.

Ela ironizou e eu parei um pouco para pensar.

Aquele aspecto da situação ainda não fazia sentido para mim. Por que ele estaria com ciúmes? Afinal, éramos apenas dois estranhos que compartilharam um momento intenso.

Enquanto tentava entender a complexidade de tudo isso, meu celular vibrou. Uma mensagem de uma jornalista apareceu na tela e meu coração afundou.

"Oi, Lily. Surgiram boatos de que você está tendo um affair com o guitarrista Luke Martinez. Como você fez para conquistar ele, sendo que não é importante? Você é uma interesseira, ou está com ele por outro motivo distinto?"

Interesseira é você, sua vaca patética.

O turbilhão de pensamentos e emoções crescia à medida que eu tentava lidar com a situação. Parecia que a minha vida tranquila estava prestes a ser revirada por um furacão de escândalos e boatos e eu não tinha ideia de como iria lidar com tudo isso.