Capítulo 34

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Luke

A luminosidade invasiva do amanhecer preenchia o quarto e eu acordei sob o peso inclemente de uma ressaca.

As memórias da noite anterior permaneciam encobertas por uma névoa, uma obscuridade que sinalizava uma jornada inconsciente pelos abismos do álcool.

Ao abrir os olhos, me deparei com a figura inexpressiva da minha irmã, os braços firmemente cruzados.

— Nem vem com sermão agora, porra. Eu estou de ressaca. — Resmunguei e fechei os olhos de novo.

O zunido no meu crânio crescia em intensidade, rivalizando com a tensão que pairava no ar. A cada batida do meu coração, a confusão se aprofundava.

— O que aconteceu, Lana? Fala logo e me poupa da vergonha. — Murmurei.

— Você não se lembra? — A pergunta dela ressoou no quarto e meu coração martelou contra as paredes do meu peito.

O silêncio que se seguiu era uma sentença que eu, embriagado e perdido, tinha que enfrentar.

Eu não lembro de porra nenhuma. Só espero que eu não tenha feito merda.

— Você fez um pole dance na mesa do bar e tirou as calças. Todo mundo se assustou e o bar faliu, porra. O dono do bar já abriu o processo. — Ela zombou.

— Cala a merda da boca. — Revirei os olhos.

A Lana começou a rir, mas logo ficou séria e suspirou pesadamente.

— Se te deixa melhor, a sua mulher foi quem me ligou. Ela estava bem preocupada com você. — Ela deu um pequeno sorriso.

— Minha mulher? — Franzi as sobrancelhas. — A Lily?

— A Lily. — Ela confirmou.

A descoberta de que a Lily ainda se importava com meu bem-estar, apesar de termos encerrado as coisas, trouxe um alívio inesperado.

No turbilhão dos meus pensamentos, pairava uma vontade quase insana de tê-la ali, no lugar da minha irmã. Era um desejo contraditório, mas a simples ideia de que ela, de alguma forma, se preocupava comigo, desencadeava uma mistura estranha de emoções e um suspiro de alívio escondido.

Mesmo naquele momento, a presença dela era o que eu secretamente ansiava, mas jamais admitiria em voz alta na frente da Lana.

— Quer um conselho? — A Lana perguntou e eu assenti. — Essa menina parece bem conturbada. Eu percebi que os pensamentos dela estavam longe. —  A Lana falou e eu fiquei quieto.

Imaginar a Lily com dor era a mesma coisa que ter meu coração esmagado por um bloco de concreto.

— Ela tem os olhos mais tristes que já vi. — Ela frisou. — Menos quando te olha.

Ouvir minha irmã falar sobre os olhos da Lily foi como um soco no estômago. A descrição profunda, carregada de emoção, penetrou em mim de maneira desconcertante.

— Quando vi ela pela primeira vez no show, ela não tinha esse olhar. O que pode ter acontecido com ela? — A Lana me encarou, esperando uma resposta.

— Os pais dela são uns merdas e aparentemente os amigos também. — Balancei a cabeça. — Só de imaginar ela sozinha agora... Caralho. Isso me mata, Lana.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora