Capítulo 10

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Desliguei o celular e voltei a atenção para o Floquinho, que estava dormindo na ponta do sofá. Ele parecia mais sereno.

Assim que o trouxe para casa, pude sentir seu medo palpável enquanto tremia em meus braços. Com cuidado, eu dei um banho nele usando água morna. Ele ficou um pouco assustado, mas se acostumou.

Eu deixei ele com a Cleo e o Alex enquanto fui ao pet shop comprar algumas coisas necessárias para o seu conforto e adaptação. Ração, brinquedos, petiscos e outros produtos totalmente essenciais.

Foi por isso que eu fiquei receosa de aceitar o convite do Luke para o show beneficente. Eu queria poder doar para a instituição, mas o dinheiro que eu gastei hoje com o Floquinho me impossibilitou.

Felizmente, ele conseguiu ingressos gratuitos para os meus amigos e eu.

Passei a mão pela pelagem do gato enquanto ele dormia e olhei para o pote de ração vazio. Respirei fundo e sorri um pouco para mim mesma, aliviada por ele estar se adaptando rápido aqui comigo.

Se depender de mim, ninguém nunca mais vai machucar ele. Eu vou ter certeza disso.

"Notícias do nosso sobrinho?" A Cleo mandou uma mensagem no nosso grupo.

Mandei uma foto dele dormindo no sofá.

"Bebê dos titios." O Alex mandou vários emojis de coração junto com a mensagem.

"Estão fugindo da responsabilidade de pais? Nós que resgatamos ele." Brinquei.

"Nós somos os seus irmãos e consequentemente os tios dele. O Luke que é o pai do seu novo filho." A Cleo mandou.

"Pensa pelo lado bom. Se você terminar com ele em algum momento, a pensão vai ser absurdamente alta." O Alex ironizou.

"Para terminar algo, você tem que ter começado primeiro. E eu nunca me envolveria com alguém famoso." Respondi e eles riram, como se eu tivesse falado a coisa mais absurda do mundo inteiro.

Era muito óbvio. Essa barreira era o fato de ele ser uma figura pública com uma base de fãs apaixonadas. Se nos envolvêssemos de qualquer maneira que fosse, estaríamos sujeitos a uma atenção indesejada, julgamentos e possíveis haters.

Isso poderia afetar sua carreira e sua vida de maneiras que não poderíamos prever.

Ele deve ter visto em mim uma amizade e alguém que não se importava se ele era famoso ou não. Eu sei que ele provavelmente não sente nada além de amizade. Assim como eu também não.

Ele era uma estrela, rodeado por pessoas que o idolatram e eu era apenas uma anônima. Talvez ele esteja apenas sendo gentil, aproveitando a companhia de alguém que não o trata como uma celebridade, mas como um amigo de verdade. E eu não posso culpá-lo por isso.

Contrariamente, ele se destacava por ser alguém que até me defendeu dos meus próprios pais. Ele sempre teve atitudes prestativas com o próximo, como as notícias envolvendo ele deixavam claro.

A campainha tocando interrompeu os meus pensamentos e devaneios sobre ele.

— Você aqui? — Abri a porta e vi o próprio diante de mim com um pequeno sorriso.

— Eu aqui. — Ele riu um pouco provocador. — Fiquei sabendo que você adotou um gato e quis ver. Posso ir embora se quiser. Você é quem manda.

Ele arqueou a sobrancelha, como se já soubesse que eu não queria que ele fosse.

— Como você ficou sabendo? — Perguntei.

— Digamos que você postou bastante nas suas redes sociais e eu dei uma olhada nas fotos dele. — Ele respondeu. — Posso ver?

Ele perguntou e eu percebi que ainda estava bloqueando a porta. Assenti rapidamente e dei espaço para ele passar.

— Ele é meio assustado e está dormindo no sofá. Então se você puder tomar um pouco de... — Parei de falar quando vi que o Floquinho já estava acordado e os dois estavam se entendendo. — Deixa quieto.

Assisti atenta enquanto o meu gato ronronava e se aconchegava no Luke.

— Acho que ele te conhece. — Brinquei.

— Quem sabe, Lily? Talvez ele seja um grande fã do The Cosmic Quartet. — O Luke ironizou e se reencostou no sofá para deixar o filhote confortável no seu colo.

— É um gato com um bom gosto para músicas. — Ri e sentei no outro sofá.

— Já aproveitei para trazer os ingressos para vocês três. — Ele tentou tirar do seu bolso. — Na verdade, eu te entrego mais tarde. Não quero atrapalhar o chefinho.

Ele apontou para o Floquinho com ironia.

— Melhor não. Ele morde. — Provoquei.

— Eu também. Mas não animais. — Ele provocou de volta e eu fiquei um pouco sem reação. — Eu estou brincando, Lily.

Ele riu e eu dei um sorriso sem graça.

— Mas me conta mais. — Ele mudou de assunto. — Eu vi que você deixou subentendido na legenda que salvou ele da maldade humana. O que aconteceu, Lily?

Ele me encarou interessado na história.

— Foi um bêbado doente. — Respirei fundo com raiva. — Ele estava maltratando ele e nós escutamos. Quando eu vi que ele não quis soltar, eu dei uma vassourada nele e ele saiu correndo. Foi nisso que eu peguei o Floquinho e resgatei.

Expliquei e quando olhei para ele, vi que o mesmo me encarava com vontade de rir.

— Está brincando comigo? — O Luke perguntou. — Você bateu nesse cara?

Assenti e ele começou a rir abertamente.

— Porra, Lily. Você é uma gênia. — Ele pareceu orgulhoso pelo o que eu fiz.

— Nem tanto assim. O cara poderia ter revidado brutalmente. — Dei de ombros.

Mas eu não me arrependia de nada disso.

— Aí era só você me ligar que eu dava um jeito nele. — Ele piscou de brincadeira.

— Você está parecendo querer ser meu guarda-costas, Luke Martinez. — Ironizei.

— Eu posso ser o que você quiser. — Ele deu um sorriso de canto e eu ri com isso.

Esse homem era mesmo uma complicação.

— Mas é bom saber que você dá vassouradas em quem te irrita. — Ele olhou para mim. — Isso me lembra que devo te obedecer com mais frequência.

O Luke deu um pequeno sorriso irônico.

— Fica tranquilo. Desde que você não faça nada de errado, você tá seguro. — Dessa vez fui eu quem dei um sorriso com ironia.

— Mas esse é o problema, Lily. Eu só faço coisas erradas, sabia? — Ele sempre tinha uma resposta afiada na ponta da língua.

— Estou vendo. Estou começando a conhecer esse seu lado. — Olhei para ele.

— E o objetivo é te mostrar cada vez mais dele. — O Luke respondeu sem hesitação.

A melhor opção era correr. Mas não vou.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora