CORDAS DO CORAÇÃO

Capítulo 15

— Desabafa, Lily. — O Alex demandou.

— Eu odeio esses jornalistas. — Balancei a cabeça. — Ele deveria ser um padeiro ou um administrador. Seria tudo tão mais fácil e não teria essa merda toda acontecendo. É impossível viver assim.

Falei e eles assentiram em concordância.

O que começou como um nobre evento para apoiar os animais carentes da instituição, rapidamente se transformou em algo muito mais complexo, graças aos jornalistas ávidos por invadir a vida pessoal e íntima do Luke. Isso era odioso.

Essa reviravolta fez meu coração se encher de culpa, porque o propósito fundamental sempre foi dar esperança aos cachorros e aos animais desamparados.

No entanto, com toda essa confusão, sentia um peso crescente em meus ombros. O clima denso que ficou sobre o evento era quase tangível, como uma nuvem escura pairando sobre a causa que tanto queríamos que causasse somente o bem.

Temia que a atenção excessiva desviaria o foco da caridade e afastaria as pessoas de doar. Eu me culparia eternamente se os animais saíssem prejudicados com isso.

— Os animais não merecem ser prejudicados. — Respirei fundo tensa.

— Eles não vão, amiga. — A Cleo sorriu solidária. — Eu tenho certeza que todos doaram quantias ótimas e os animais vão ser muito ajudados. O Luke deve ter doado bastante também. Chuto que uns vinte mil.

Ela me animou e eu dei um mini sorriso.

— Isso tudo? — Perguntei e ela assentiu.

Quando a Cleo mencionou que Luke devia ter doado uma quantia significativa para apoiar o evento em prol dos animais, eu nem hesitei em concordar. Era totalmente coerente com a índole que ele mostrava.

Com base no que eu conhecia dele, o Luke sempre demonstrou ser extremamente generoso com aqueles ao seu redor.

Essa atitude altruísta era uma característica que eu admirava profundamente nele e sabia que ele estava genuinamente comprometido em fazer a diferença na vida dos animais necessitados. E na minha vida também.

— Quem saiu no prejuízo foi a jornalista sem noção. — O Alex riu. — Quase não me aguentei quando a câmera dela quebrou acidentalmente. Ela não esperava por isso.

Eu e a Cleo sorrimos relembrando a cena.

— Espera. Não é meio errado nós estarmos aqui rindo do prejuízo dela? — Perguntei.

— Não, Lily. — Eles responderam juntos.

Nós nos entreolhamos e rimos de novo.

Fui interrompida por uma mensagem.

"Oi, Lily. Não deu tempo de nos despedirmos direito. Desculpa pelo incidente. Você vai querer me ver de novo?" Era o Luke e eu suspirei confusa.

—É o seu guitarrista? — A Cleo perguntou e ela e o Alex tentaram espiar o celular.

— Sim. — Respondi e percebi o que eu havia falado. — Não. É o Luke. É só o Luke.

Olhei para a mensagem. Respondo ou não?

"Você ainda quer sair depois de tudo isso que aconteceu hoje, Luke?" Perguntei.

"Em um lugar privado. Estava pensando em te trazer ao meu estúdio para te mostrar mais do meu mundo." Ele respondeu e eu ponderei. "Eu te ensino a tocar guitarra. Só se você quiser, claro."

Li a mensagem e logo respondi. "Quero."

"Vou mandar um carro para te pegar amanhã. Se prepara para passar o dia todo fora. Nem tenta fugir disso." Ele brincou.

"Eu não vou fugir." Mandei e ri sozinha.

Acordei quando a Cleo deu um grito alto.

— Porra. — O Alex olhou para ela rindo.

— Você vai se encontrar com ele amanhã de novo? — A Cleo sorriu de orelha a orelha e eu percebi que ela tinha lido tudo.

— Eu gosto da privacidade que vocês me dão. Me sinto tão livre, sabe? — Ironizei.

— Ninguém liga para a liberdade! Você vai sair com ele de novo! — Ela berrou e se inclinou para apertar a buzina do carro repetidas vezes. — Comemora, Lily Miller!

Algumas pessoas começaram a sair na rua para ver que algazarra era aquela e eu empurrei a Cleo com força, impedindo ela de continuar chamando mais atenção.

— Para com isso, perturbada. — Sussurrei.

— O amor sempre vence! — O Alex abriu a janela e começou a gritar para as pessoas.

Meu Deus. Eu vou me matar agora mesmo.

"O amor sempre vence?" Recebi outra mensagem do Luke e arregalei os olhos.

— O Luke está escutando! Parem com isso agora, merda! — Fechei as janelas e eles riram. — Isso não teve graça nenhuma.

Gemi de frustração e revirei os olhos.

"Não sei o porquê, mas estou começando a gostar muito dos seus amigos. Eles parecem ter conselhos muito bons." Ele mandou outra mensagem em seguida.

"Eles são péssimos. Ignora tudo o que eles disseram, tá? Eles só estão querendo ser engraçadinhos." Tentei consertar isso.

"Tarde demais." Ele escreveu e eu bufei.

O que mais me aterrorizava naquele momento era o medo de que Luke pudesse interpretar mal toda essa situação chata.

Preocupações se agitaram em minha mente, como se ele pudesse pensar que eu estava desesperada para vê-lo ou que eu tinha sentimentos mais profundos por ele.

Isso não era verdade. Eu não sentia nada.

Naquele instante, eu nunca havia sentido tanta raiva dos meus amigos como agora.

Toda aquela brincadeira inoportuna não apenas me envergonhou, mas também colocou em risco algo que eu valorizava.

— Vocês estão ferrados na minha mão quando arrumarem alguém. — Olhei para eles irritada. — Depois do primeiro encontro de vocês, eu vou mandar um carro de som na frente da casa deles declarando o suposto amor de vocês.

Eles riram achando que era brincadeira.

— Acho que ela não está zoando com a nossa cara. — A Cleo franziu o cenho.

— Não. — Neguei com a cabeça. — E se você fizer isso de novo, eu vou mandar um na casa do seu ex. Você ia achar divertido?

Arqueei a sobrancelha e olhei para ela.

— Ia ser um pouco engraçado — Ela riu.

— Vou lembrar disso quando eu chegar em casa. — Liguei o carro e comecei a dirigir para longe do evento catastrófico. — O que eu digo? "Eu te amo? Ainda sinto muito a sua falta? Eu sinto muito por ter jogado seu videogame pela janela por você dar mais atenção para ele do que para mim?"

Relembrei e ela sorriu com orgulho disso.

— Bate aqui, ícone. — Alex levantou a mão e os dois deram um high five animados.

Revirei os olhos e olhei para a estrada.

Afinal, eu tinha um encontro amanhã cedo com o Luke Martinez. Eu estava feliz por isso. Mas não falaria em voz alta para eles.