— Nervoso para o show? — Puxei assunto enquanto assistia o Luke com o Floquinho.
— Nem tanto. — Ele deu de ombros com um sorriso. — Digamos que nesses cinco anos de carreira, eu já fiquei acostumado.
Assenti sorrindo quando ele falou isso.
— Mas o que muda é que é um evento beneficente. É essencial que nós toquemos bem. A instituição e os animais abandonados merecem. — Ele pontuou.
— Quanto a isso, não tenho dúvidas de que vocês vão realizar um ótimo show lá. — Tentei tranquilizá-lo. — O que me deixa triste é que não vou conseguir fazer nenhuma doação. Se eu pudesse, eu doaria cinquenta mil. Já pensou que maravilha?
Imaginei essa grande quantia inacreditável e sonhei ter esse dinheiro para ajudar a instituição. Essa e outras.
Percebi que o Luke riu discretamente.
— Eu falei algo engraçado? — Perguntei.
— Claro que não. Desculpa. — Ele se recompôs. — Só que é uma quantia muito generosa. Parabéns por ter essa atitude.
Ele sorriu e eu respirei fundo meio triste.
— Qual é, Lily? Sem essa. Só de você pensar assim já é uma atitude maravilhosa. Além de que... — Ele pareceu querer falar mais alguma coisa, mas desviou. — É realmente incrível. Só isso.
Sorri de leve com as suas palavras amigas.
Decidi não pressionar para saber o que ele iria falar. Se ele mudou de assunto desse jeito, era porque não se sentia confortável para me dizer o que estava pensando.
— Obrigada, Luke. — Agradeci sincera.
— A qualquer momento. — Ele sorriu.
Enquanto olhava para ele, eu podia visualizá-lo no palco, sua guitarra em mãos, pronto para tocar com a banda no show para a instituição dos animaizinhos.
A antecipação da plateia, a causa nobre que todos nós apoiávamos e a coragem de Luke em se levantar por esses animais abandonados eram uma fonte de inspiração. Eu sabia que, quando o momento chegasse, estaria lá, na primeira fila, aplaudindo-o com todo meu coração.
— Você também canta ou só toca guitarra mesmo? — Fiquei interessada para saber.
— Os dois. — Ele respondeu. — Não sou o vocalista da banda, mas faço algumas participações em algumas músicas. A responsável pela parte vocal é a Lety.
Ele mencionou o nome dela orgulhoso.
— Que querida. — Fiquei sem saber o que falar e ele me olhou meio surpreso. Que querida? — É bom saber que as mulheres tem voz ativa. Literalmente, no caso dela.
Me enrolei para explicar e ele se divertiu.
— E tem mais alguma mulher participando da banda? — Perguntei.
— Só o Zack e o Nick. — Ele respondeu.
Só o Zack e o Nick então. E a Lety também.
Por que eu estava reagindo dessa maneira? Será que era porque ele parecia tão entusiasmado ao mencionar a vocalista? Ou talvez fosse o jeito como ele sorria ao falar da dela? Eu não faço ideia.
Me assustei um pouco quando o meu celular começou a vibrar repetidas vezes.
— Oi, Cleo. Fala. — Atendi a ligação e o Luke me observava com curiosidade.
Coloquei a ligação no viva-voz para ouví-la melhor. Uma das minhas piores decisões.
— Oi, Lily. Acho que o Luke vai assumir o Floquinho. Dei uma olhada no seu perfil e vi que ele curtiu todas as suas fotos. — Ela riu do outro lado e eu pude sentir que estava prestes a desmaiar de tanta vergonha.
O Luke arqueou a sobrancelha surpreso.
Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.
— Cala a boca. — Sussurrei no telefone.
— Cala a boca por quê? — Ela perguntou sem entender. — Não é como se ele estivesse ouvindo Além disso, a gente já stalkeou a vida dele e ele está liberado. Ele só era um pouco cafajeste antes, mas...
Joguei o celular longe no desespero e acabou caindo no colo do Luke. Ele deu um sorriso irônico e eu arregalei os olhos.
— Por favor. Me devolve. — Estendi a mão.
— Oi, Cleo. Aqui em fala é o cafajeste do passado. Tudo tranquilo? — Ele provocou.
Não. Isso não estava acontecendo comigo.
— Mentira! — Pude sentir o choque na voz dela. — A Lily vai me assassinar. Era só brincadeira nossa, Luke. Não leva a sério.
Ela tentou consertar a confusão que fez.
— Sei. Brincadeira. — Ela assentiu e me olhou. — Então vocês não stalkearam a minha vida? Isso era brincadeira também?
O Luke perguntou para a Cleo com ironia.
— A gente deu uma olhada. — Ela confessou. — Mas isso só fez a Lily te...
Arranquei o meu telefone da mão dele.
— Até nunca mais, Cleo. — Me despedi.
Desliguei o meu celular e olhei para ele.
— Ela é louca. — Dei um sorriso forçado.
— Ela é bem engraçada. — Ele não pareceu nada incomodado. — Vou manter ela por perto. Assim eu descubro mais algumas coisas sobre você. Coisas secretas.
O Luke levantou do sofá e deu um sorriso.
Por que ele nunca se abalava com nada?
— Nos vemos no show. — Ele se preparou para ir embora e eu respirei mais aliviada.
— É melhor. Já está bem tarde. — Assenti.
— Ainda está de dia. — Ele riu e eu acompanhei ele até a porta. — A gente se vê, Lily. Se precisar de algo, é só me ligar.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu.
"Cleo, nesse momento eu estou com muita vontade de te matar, sabia? Não chega perto de mim pelas próximas vinte e quatro horas." Enviei uma mensagem para ela e revirei os olhos para mim mesma.
Aquela ligação deixou uma das marcas mais contundentes de vergonha na minha vida. Passei a me perguntar como seria capaz de olhar nos olhos do Luke novamente depois dessa situação chata.
Mas tudo bem. Ele não pareceu se importar. Provavelmente estava rindo da minha cara, mas acho que posso aguentar.
Infelizmente, eu não poderia me livrar dela nesse momento, já que ela e o Alex eram as únicas pessoas que haviam restado na minha vida após os meus pais decidirem nunca mais falar mais comigo.
Brincadeira. Eu nunca me livraria da minha própria melhor amiga. Ainda não.
— Pelo menos eu comeria de graça na cadeia e não gastaria mais dinheiro pelo resto da minha vida. — Falei para mim mesma. — Que humor mórbido, Lily.
Olhei para o Floquinho e fiquei com pena dele. Onde você veio parar, meu filho? A sua dona não bate muito bem da cabeça.
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CORDAS DO CORAÇÃO
RomanceNo palco, Luke é um guitarrista que conquistou o coração do mundo com suas melodias. Nos bastidores, ele é apenas um homem em busca de algo mais profundo na vida. Lily, por outro lado, é uma mulher comum, distante do glamour do mundo das celebridade...