Capítulo 24

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— Lily? — Levantei a cabeça ao ouvir a voz dele.

O som familiar da voz do Luke reverberou no quarto e lentamente ergui meu rosto para encontrar seus olhos.

O tumulto de sentimentos dentro de mim era avassalador, uma sinfonia de dor física e emocional que se entrelaçava de maneira intricada. A vergonha da minha vulnerabilidade diante dele parecia ecoar, mas ao mesmo tempo, sua presença trazia uma pontada de alívio.

— Você veio. — Sussurrei, evitando olhá-lo.

— Você chamou. — Já ele, não tirava os olhos de mim.

— Desculpa por te envolver nisso. — Minhas palavras escaparam com os lábios trêmulos, uma tentativa frágil de parecer forte.

Ele viu que eu estava em uma luta interna e se aproximou. Não. Desaba.

Seu corpo se aproximou com urgência e antes que eu pudesse entender, estava envolvida em seus braços. A força do abraço transmitia uma proteção, como se ele pudesse afastar as dores que me assombravam.

Seus olhos, duros e distantes, denunciavam o impacto da situação, como se ele estivesse processando algo profundo.

Ele estava bravo. Ele estava muito bravo.

Enquanto escondia o rosto na curva do pescoço dele, minhas lágrimas molhavam sua pele. Seus braços fortes me envolviam com uma intensidade que transmitia determinação e ele segurou o meu rosto.

— Vai ficar tudo bem. — Ele beijou minha testa, meu ombro, minha bochecha, meu pescoço e todos os lugares que conseguiu. — Estou aqui, Lily. Pode gritar, chorar e até me bater se você for se sentir melhor. Faz o que quiser. Só melhora, princesa. Dói te ver assim.

O Luke murmurou suavemente.

— Tira isso de mim, por favor. — Implorei.

— Eu queria tanto. — Ele passou o polegar no meu rosto.

Ele cuidadosamente me deitou na cama, ocupando o espaço ao meu lado. Suas mãos gentis traçaram uma jornada pelo meu rosto, perdendo-se nos fios soltos do meu cabelo e descendo até a nuca.

Seu toque no meu rosto, firme e reconfortante, tornou-se um refúgio temporário e a minha mão também encontrou o rosto dele.

Seus dedos deslizavam pela curva do meu pescoço, uma carícia suave que afastava os fios rebeldes dos meus cabelos.

Fechei os olhos, absorvendo a proximidade dele, enquanto sua respiração, quente e regular, misturava-se à minha. Deitei mais perto dele e a sua outra mão repousou na minha cintura.

— Estou aqui, linda. — O Luke sussurrou.

Os olhos dele, tão intensos, exploravam os detalhes do meu rosto, como se buscasse compreender cada expressão.

Enquanto eu me perdia na profundidade dos olhos verdes dele, percebi que nossos olhares desviaram instintivamente para as nossas bocas.

Havia uma tensão palpável, um silêncio carregado de expectativa. Meus olhos oscilavam entre os olhos dele e seus lábios e pude sentir o mesmo conflito nos olhos dele.

— Não é o momento. — Sussurrei e mordi levemente o lábio, tentando desviar o olhar.

— Não é o momento. — Ele repetiu, ainda com a mão presa no meu pescoço.

Seus dedos deslizaram suavemente pelo meu queixo, deixando um rastro de calor enquanto alcançavam o meu lábio inferior. Nossos rostos estavam agora tão próximos que podíamos sentir a respiração um do outro, criando uma tensão elétrica que parecia preencher todo o espaço entre nós.

Um selinho inicial, provocante em sua brevidade, deu lugar a outros, cada um mais demorado e carregado de antecipação.

Com um desejo palpável no ar, ele me puxou para si, nossos lábios finalmente se encontrando num beijo. Seus lábios eram um convite irresistível e eu respondi, permitindo que a língua dele explorasse a minha boca e a sua mão acariciasse o meu corpo do jeito que ele queria.

Luke se afastou ligeiramente, deixando um espaço entre nós e o silêncio que se seguiu foi preenchido pelo som ritmado de nossas respirações ofegantes.

— Você está melhor? — Ele perguntou com sua voz rouca.

Assenti, incapaz de falar qualquer coisa.

— Por causa do abraço ou do beijo? — Ele provocou um pouco.

— Por causa de você. — Respondi séria.

— Ver você falando assim... — Ele se aproximou de novo, mas uma voz nos interrompeu.

— Me fala o que houve! — Escutamos a voz da Cleo vindo da sala da casa do Alex.

Escutei o Alex explicando a situação para ela e o peso do que aconteceu me atingiu novamente.

— Mas ela é idiota, ou o quê? — Ouvi a voz da Cleo ficando mais estridente. — Ela vai continuar sendo agredida pelos pais e não fazendo nada em troca? Porra, que trouxa.

Eu e o Luke nos entreolhamos e ele tentou me segurar quando eu saí apressada do quarto, pronta para confrontá-la.

A raiva borbulhava em meu peito, alimentada pela dor recente e pela insensibilidade dela.

Meus olhos faiscavam de indignação, mas eu respirei fundo, tentando controlar a tempestade que rugia dentro de mim.

— Trouxa, Cleo? — Encarei ela.

Cleo correu os olhos pelos meus braços machucados, sua expressão contorcendo-se em uma mescla de consternação e incredulidade.

— Trouxa por deixar isso acontecer. Olha o seu estado, porra. Acorda para a vida e sai dessa, Lily. — Ela proferiu palavras diretas.

— Cleo, para com isso. — O Alex se envolveu.

— Para com isso é o caralho. Eles são abusivos com a Lily desde sempre e além disso, foram homofóbicos com você. — A Cleo apontou o dedo para mim. — Talvez isso seja culpa sua, Lily. Você se permite ser abusada e maltratada por eles. E agora isso está afetando outras pessoas. Pessoas que se impõem e não são otárias igual você.

A sensação de ser julgada e questionada pela minha melhor amiga foi cruel. Em meio à vulnerabilidade dos meus machucados, suas palavras ecoaram como uma traição, deixando-me desnorteada.

Cleo aproximou-se com uma expressão carregada de irritação, agarrando meus ombros e sacudindo-me com brusquidão.

— Acorda para a vida, Lily! Eu estou cansada de ver você sendo tratada assim e sendo a porra de uma idiota! — Sua voz, repleta de frustração, ressoou no ambiente, enquanto eu me via confrontada com a dura realidade das suas palavras.

— Qual é o seu problema, hein? — O Luke se meteu na frente de nós duas e olhou para ela. — Ela é sua amiga, porra.

O Alex agarrou o braço da Cleo e o Luke o meu.

— Você não acha que já causou problemas demais hoje? — A Cleo me encarou firmemente.

— Cleo, cala a boca. A Lily não causou nenhum problema. Não é culpa dela e você sabe. — O Alex apertou o braço dela.

— Ela se submete a isso. — Ela acusou.

Me soltei abruptamente do aperto do Luke, minha respiração acelerada, as palavras cruéis da Cleo ecoando em meus ouvidos.

A mistura de raiva e dor me impulsionou para longe, cada passo pesado como uma fuga necessária.

— Espera, Lily. — O Alex segurou o meu pulso. — Não vai embora assim. Vamos sentar e conversar. A gente é um trio, lembra?

Ele deu um pequeno sorriso amigável.

— Se éramos um trio, estamos desmoronando agora mesmo. — Minha voz, embargada pela raiva contida e pela dor física, ecoou no ambiente. — Nunca mais fala comigo, Cleo.

Olhei para Cleo com um misto de desgosto e decepção.

Sem dizer uma palavra, saí da casa do Alex, puxando o Luke comigo, enquanto as palavras cortantes ainda ecoavam em minha mente.

CORDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora