Dedico essa história às pessoas que vivem o amor belo; às pessoas que vivem o amor feio, desejo forças. E as pessoas que não vivem nenhum amor, desejo paz.
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Fevereiro, 2017.
Choro infantil e gritos adultos ecoavam naquela casa em um bairro residencial.
O filho mais velho do casal estava trancado no quarto, jogando suas roupas em uma mochila o mais rápido possível. Na porta, batidas fracas eram desferidas pelo irmão mais novo, que gritava seu nome em desespero. No quarto do casal, gritos eram proferidos pelo pai, enquanto a mãe tentava segurá-lo dentro do cômodo.
Taehyung respirava pesadamente enquanto ouvia o irmão chamando seu nome. Sentia uma adrenalina ruim percorrer seu corpo; estava com tanta vontade de chorar que o nó na garganta era incômodo, desconfortável, mas não conseguia derramar uma única lágrima sequer.
Suspirou quando não tinha mais nada para levar, então pegou a mochila e a jogou sobre os ombros, caminhando em direção à porta. No entanto, parou ao ver o porta-retrato em cima da mesa de cabeceira. Segurou a pequena estrutura de madeira, sentindo o nó na garganta se tornar insuportável. Alisou os dois rostos infantis daquela foto, demorando-se mais no rostinho inchado do irmão que sorria para mostrar a falta dos dentes da frente. Guardou a foto com cuidado para não quebrá-la e seguiu para a porta, dando de cara com Jungkook sentado no chão, abraçando as pernas e com o rosto vermelho de tanto chorar. Engoliu em seco, encarando os olhos grandes e vermelhos se tornarem mais lacrimosos agora que via o irmão pronto para sair de casa.
— Não vá, Hyung — implorou Jungkook, já voltando a chorar desesperadamente, agarrando as pernas magras.
Taehyung passou por ele e seguiu em direção à porta da casa, ouvindo os pais discutirem trancados no quarto. Jungkook seguiu, gritando pelo irmão que não olhava para trás ou parava de andar, até alcançá-lo no jardim bem cuidado em frente à casa, sentindo os pés descalços serem machucados pelas pedras. Chorou ainda mais alto quando ele atravessou a pequena porta da cerca, saindo de casa com apenas uma mochila nos ombros.
— Hyung! — chamou, gritou, implorou para que ele não fosse. — Não me deixe aqui — implorou para não ficar.
Taehyung respirou fundo, apertando a alça da mochila com força, sentindo o peito doer. Era a primeira vez naquela noite amaldiçoada que seus olhos ficavam molhados por ouvir o desespero na voz do irmão. Virou-se para trás, observando o garoto parado, o rosto molhado, o nariz escorrendo e os pés descalços sobre as pedras. Seu coração se partiu em milhões de pedaços, como se fossem confetes sendo jogados ao ar, impossíveis de recuperar e juntar novamente.
Puxou Jungkook para um abraço apertado, sentindo-o se agarrar com força ao seu corpo, como se estivesse se afogando no mar aberto e ele fosse sua única salvação. Apertou-o com força, ouvindo-o chorar ainda mais, pois sabia que aquilo era uma despedida.
Uma única lágrima escorreu.
Jungkook era a única pessoa no mundo que Taehyung amava, era a única pessoa no mundo que tinha o poder de fazê-lo chorar, e era a única pessoa no mundo por quem ele faria até mesmo o impossível. Era a parte boa, era a luz em sua vida escura demais. Jungkook era tudo o que Taehyung não era e nunca seria, era seu único amor, a única pessoa que sabia apertar os botões certos para fazê-lo funcionar, o único que fazia seu coração parado voltar a bater.
Jungkook era o único que fazia ele chorar.
Mas, infelizmente, as circunstâncias não permitiam que ele levasse o irmão junto. Tinha acabado de ficar maior de idade e toda aquela discussão se iniciou ao descobrirem que ele tinha sido aceito no curso de Artes Visuais. Não tinha condições financeiras para cuidar de uma criança; iria morar no campus e não era permitido levar ninguém de fora para lá. Era impossível levar Jungkook naquelas condições e, se o levasse, estaria apenas condenando-o a passar necessidades, fossem básicas para viver ou mentalmente para sobreviver. Então, a única coisa que poderia fazer por eles naquele momento era ir embora e estudar o suficiente para ter condições de buscá-lo.
Um dia, Jungkook seria a pessoa mais feliz do mundo, e ele queria ser o causador daquela felicidade toda.
Finalizou o abraço e agarrou o rosto choroso, limpando inutilmente as lágrimas que caíam em abundância. Limpou o nariz do irmão e jogou o catarro no chão, logo segurando-o com força pelos ombros.
— Ouça, Jungkook — chamou a atenção, encarando os olhos grandes com seriedade. — Vou voltar, daqui a 4 anos eu vou voltar e vou te levar pra morar comigo. Tá me ouvindo?! — perguntou, gritou, sacudiu o corpo magro que apenas assentiu, chorando mais. — Não acredite em nada que eles disserem, não faça nada pra ser punido e seja um bom garoto, tá me ouvindo?!
— Estou.
Taehyung o abraçou mais uma vez, sentindo-o limpar o rosto molhado na sua blusa rasgada pela briga anterior. Fechou os olhos com força ao perceber que ficaria um bom tempo sem aquele abraço, mas era necessário. Se afastou dele, puxou o capuz para cobrir a cabeça e encarou Jungkook outra vez.
— Vou voltar, Jungkook. Vou voltar — prometeu, antes de se afastar de vez e correr pela rua escura daquela noite amaldiçoada.
Jungkook abraçou o próprio corpo trêmulo, chorando copiosamente enquanto via o irmão correr para um destino que ele não sabia qual era, mas iria esperá-lo voltar.
Porque ele prometeu.
E Taehyung nunca quebrava suas promessas.
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INÍCIO EM: 05/01/2024
Essa obra possui temas psicologicamente sensíveis. Tudo será descrito de forma leve para não causar danos psicológicos, ainda assim, leia com responsabilidade e esteja ciente dos possíveis gatilhos. +18
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cores são sentimentos, tys
Fanfiction"O sonho de Taehyung sempre foi tirar o irmão daquele cenário abusivo onde cresceram, e ele sabia que só conseguiria isso se tivesse condições financeiras para cuidar de uma criança. Por isso, fugiu de casa para cursar a faculdade, determinado a mud...